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Multis são mais discretas nas contribuições
da Reportagem Local
As companhias multinacionais
são mais discretas nas doações
eleitorais, por causa da legislação
rigorosa nos países de origem.
A maioria das contribuições são
feitas com o pedido explícito de
que não haja recibo. Nesses casos,
geralmente recorrem aos mecanismos usados por empresas locais para fazer sumir internamente os gastos (com a colaboração
das agências de publicidade).
Reservadamente, empresários
do setor confirmam que a indústria farmacêutica -com fortes interesses no projeto da Lei de Patentes- contribuiu, em 94, via associação de classe, a Abifarma
(Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), que teria centralizado as doações de grupos
multinacionais.
Os laboratórios nacionais financiaram, com bônus, parlamentares que defendem suas posições.
As empresas privadas interessadas
em telecomunicações doaram, via
bônus, R$ 1,1 milhão para a campanha de Fernando Henrique Cardoso, que acenava com a quebra
do monopólio estatal no setor.
A Alcatel doou R$ 425 mil em
bônus. A NEC, R$ 250 mil. O grupo considera que "o programa de
governo estava de acordo com os
anseios da empresa, e foi cumprido". A NEC ainda não definiu como procederá nesta eleição.
Peso da indústria
Grandes grupos industriais são
listados entre os segmentos que
mais contribuem, devido aos interesses específicos das áreas em que
atuam.
É o caso de setores que são (ou já
foram mais) suscetíveis a interferências oficiais, ou dependentes
de políticas do governo, como a
indústria do cimento (o grupo Votorantim doou R$ 2,6 milhões em
bônus, em 94); a petroquímica (a
Copene doou R$ 1,2 milhão) e a
siderurgia (Gerdau, R$ 943 mil).
A indústria de papel, cujo produto final é indispensável em campanhas eleitorais, também costuma ser muito requisitada.
A Klabin, da qual é sócio o senador Pedro Piva (PSDB-SP), doou,
em bônus, R$ 1,2 milhão na eleição de 94. O grupo Suzano doou
R$ 854 mil.
Um maior número de indústrias
-entre médias e grandes empresas- não costuma aparecer nas
listagens de contribuintes porque,
isoladamente, não tem suficiente,
mas dispõe de força política nos
Estados e de meios para contribuições não-financeiras, valiosas em
campanhas eleitorais.
Por sua vez, as pequenas e médias indústrias, nas disputas eleitorais mais acirradas, costumam
se aliar às grandes empresas na defesa de posições corporativas.
Fatores inibidores
Quando a contribuição é solicitada por uma liderança da comunidade onde a indústria atua, ou
quando há uma razão plausível
(religiosa, por exemplo), o empresário fica mais à vontade para dar
transparência à colaboração.
Mas se o interesse está diretamente ligado ao seu negócio, a
doação vai mesmo por baixo do
pano. Há, entretanto, empresários
que realmente ficam muito irritados quando são assediados por
políticos antes das eleições.
Alguns segmentos -com interesses específicos- surpreendem
os organizadores e tesoureiros de
campanhas. Em 94, um empresário procurou o comitê de Lula, dizendo-se representante de escolas
particulares. Exigiu do candidato
um documento afirmando que o
PT não estatizaria o setor.
Ele obteve a tal declaração, pois
a questão não constava do programa. Mas não apareceu depois para
dar a contribuição prometida.
Decisão fechada
As contribuições eleitorais normalmente não são submetidas aos
conselhos de administração das
companhias, mesmo nas empresas abertas (com ações em Bolsa).
Geralmente o assunto aparece como decisão já tomada na cúpula,
um gasto que o conselho autoriza,
dentro dos limites previstos. Nas
empresas familiares, contribuir
ou não é uma decisão de família.
Apesar da distância que separa o
pleito, o cerco a empresas por parte de candidatos já começou há
mais de dois meses.
As dificuldades por que passam
algumas empresas -diante dos
juros elevados e do desaquecimento da economia- exigirão
uma cuidadosa análise do custo-benefício, antes das doações.
Muitas empresas deverão optar
pelas contribuições não-financeiras (ajuda material informal). Mas
é certo que não faltarão dinheiro,
engenho e arte para garantir que
os interesses de cada setor continuem sendo defendidos.
(FV)
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