São Paulo, domingo, 12 de abril de 1998

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SUCESSÃO
Com as pesquisas indicando a reeleição de FHC, parlamentares tornam-se maior foco de interesse do setor
Congresso deve ficar com bônus de bancos

da Reportagem Local


Se as pesquisas continuarem indicando uma reeleição tranquila de Fernando Henrique Cardoso, os recursos dos bancos -que sustentaram, em bônus, 20% da campanha de FHC, em 94-, irão preferencialmente para o Congresso, principal foco de interesse do sistema financeiro.
"Todo mundo sempre falou das empreiteiras, mas os bancos sempre foram generosos com os candidatos", disse o ex-tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, Paulo César Farias, em entrevista ao repórter Xico Sá, da Folha, em dezembro de 95. "Eles deram tanto dinheiro que fazia até medo, assombrava", disse.
Reciprocidade bancária
O acompanhamento sistemático do desempenho dos deputados e senadores foi transferido da Febraban (Federação das Associações Brasileiras dos Bancos), em São Paulo, para a CNIF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), em Brasília.
Até a campanha de Collor, quando os bancos descarregaram fortunas para impedir uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Febraban canalizava as contribuições dos bancos, tendo orçamento para isso (o que a entidade tem negado).
A Febraban reduziu seu cacife, depois que ficou exposta a uma série de desgastes. Nas últimas eleições, destinou, diretamente, poucos recursos para os deputados.
Em geral, os bancos preferem dar aos candidatos ajuda em dinheiro, sua matéria-prima. Quando essas contribuições não podem aparecer, recorrem a empresas não-financeiras do grupo.
Atualmente, a CNIF faz as recomendações aos bancos, mas cada instituição financia os candidatos de sua preferência, usando seus próprios meios e critérios.
A Febraban ficou desgastada depois dos episódios da "pasta cor-de-rosa" (descoberta de lista de contribuições do Banco Econômico a políticos que teria tido a ajuda da federação) e da iniciativa do então presidente da entidade, Léo Cochrane Júnior, de enviar telex aos bancos, a título de orientar as contribuições do setor.
Ainda nos tempos de Collor, a Febraban veio a público se explicar, quando a Setembro Propaganda, de Minas Gerais, que fez a campanha presidencial de Collor, debitou diretamente à entidade uma peça de campanha política.
Nas eleições de 94, a Febraban teve que esclarecer a origem de recursos para uma cartilha do Plano Real (o dinheiro vinha do Funcheque, fundo formado pelas multas aplicadas sobre cheques sem fundo). Mas eram fortes as suspeitas de que a campanha abria a porta para contribuições eleitorais indiretas, via "pool" de agências que atendem os bancos.
O episódio pode se repetir na próxima eleição, com o lançamento de nova família de moedas, em julho, no aniversário do Plano Real. E a Febraban já anuncia que, para facilitar sua introdução, será necessário elaborar uma campanha publicitária.
Rede de proteção
Na época do dinheiro farto, dos ganhos com a inflação, a Febraban atuava como espécie de braço privado do Banco Central . O sistema era quase um cartório, com cartas-patente, e os bancos dependiam mais do governo. Hoje, prevalece a concorrência do mercado.
Estão mais longe ainda os tempos em que as relações entre banqueiros e políticos de oposição eram um tabu. A aproximação mais decisiva ocorreu em 90.
Coube a Lafaiete Coutinho, então diretor do Econômico e da Febraban, promover uma aproximação entre presidentes de bancos e parlamentares do PMDB, no Palácio dos Bandeirantes, no governo Orestes Quércia (também foi Coutinho quem coordenou a apresentação de Collor aos banqueiros, no Nacional Clube).
Um segundo encontro, ampliando o número de convidados, aconteceu em Brasília, num jantar na casa do Bradesco. A idéia do sistema financeiro era criar uma rede de proteção, quando os bancos -com péssima imagem perante a opinião pública- temiam uma maior estatização do setor e a aprovação de medidas inibidoras de sua atuação.
Clientes especiais
A rede de proteção funcionou. Foi praticamente dissipada a idéia de que candidatos hostis ao sistema financeiro pudessem ameaçar sua estabilidade.
Parlamentares de vários partidos tiveram suas campanhas financiadas pelos bancos e assumem, abertamente, essa condição. É o caso, por exemplo, de Paes Landim (PFL-PI), Benito Gama (PFL-BA), Basílio Villani (PPB-PR) e Germano Rigotto (PMDB-RS).
Em contrapartida, os bancos criaram uma clientela cativa no Congresso. A cada eleição, surgem informações de que está em vias de ser apresentado o projeto de lei complementar para regulamentar o artigo 192 da Constituição, que trata do sistema financeiro e do limite aos juros. Como diz um banqueiro, desarquivam o projeto para mostrar serviço e lembrar que campanhas eleitorais são caras.
Essa rede de proteção foi insuficiente, contudo, para evitar que Lázaro Brandão, do Bradesco, tivesse que depor na Comissão Parlamentar de Inquérito dos precatórios. O acontecimento deverá pesar quando os bancos decidirem como contribuir para a próxima eleição. Estará no cadastro político de cada parlamentar o que fez, ou deixou de fazer, num episódio que expôs os bancos. (FV)




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