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SUCESSÃO
Com as pesquisas indicando a reeleição de FHC, parlamentares tornam-se maior foco de interesse do setor
Congresso deve ficar com bônus de bancos
da Reportagem Local
Se as pesquisas continuarem indicando
uma reeleição
tranquila de
Fernando Henrique Cardoso,
os recursos dos
bancos -que
sustentaram, em bônus, 20% da
campanha de FHC, em 94-, irão
preferencialmente para o Congresso, principal foco de interesse
do sistema financeiro.
"Todo mundo sempre falou das
empreiteiras, mas os bancos sempre foram generosos com os candidatos", disse o ex-tesoureiro do
ex-presidente Fernando Collor,
Paulo César Farias, em entrevista
ao repórter Xico Sá, da Folha, em
dezembro de 95. "Eles deram tanto dinheiro que fazia até medo, assombrava", disse.
Reciprocidade bancária
O acompanhamento sistemático
do desempenho dos deputados e
senadores foi transferido da Febraban (Federação das Associações Brasileiras dos Bancos), em
São Paulo, para a CNIF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), em Brasília.
Até a campanha de Collor,
quando os bancos descarregaram
fortunas para impedir uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), a Febraban canalizava
as contribuições dos bancos, tendo orçamento para isso (o que a
entidade tem negado).
A Febraban reduziu seu cacife,
depois que ficou exposta a uma série de desgastes. Nas últimas eleições, destinou, diretamente, poucos recursos para os deputados.
Em geral, os bancos preferem
dar aos candidatos ajuda em dinheiro, sua matéria-prima. Quando essas contribuições não podem
aparecer, recorrem a empresas
não-financeiras do grupo.
Atualmente, a CNIF faz as recomendações aos bancos, mas cada
instituição financia os candidatos
de sua preferência, usando seus
próprios meios e critérios.
A Febraban ficou desgastada depois dos episódios da "pasta
cor-de-rosa" (descoberta de lista
de contribuições do Banco Econômico a políticos que teria tido a
ajuda da federação) e da iniciativa
do então presidente da entidade,
Léo Cochrane Júnior, de enviar telex aos bancos, a título de orientar
as contribuições do setor.
Ainda nos tempos de Collor, a
Febraban veio a público se explicar, quando a Setembro Propaganda, de Minas Gerais, que fez a
campanha presidencial de Collor,
debitou diretamente à entidade
uma peça de campanha política.
Nas eleições de 94, a Febraban
teve que esclarecer a origem de recursos para uma cartilha do Plano
Real (o dinheiro vinha do Funcheque, fundo formado pelas multas
aplicadas sobre cheques sem fundo). Mas eram fortes as suspeitas
de que a campanha abria a porta
para contribuições eleitorais indiretas, via "pool" de agências que
atendem os bancos.
O episódio pode se repetir na
próxima eleição, com o lançamento de nova família de moedas, em
julho, no aniversário do Plano
Real. E a Febraban já anuncia que,
para facilitar sua introdução, será
necessário elaborar uma campanha publicitária.
Rede de proteção
Na época do dinheiro farto, dos
ganhos com a inflação, a Febraban
atuava como espécie de braço privado do Banco Central . O sistema
era quase um cartório, com cartas-patente, e os bancos dependiam mais do governo. Hoje, prevalece a concorrência do mercado.
Estão mais longe ainda os tempos em que as relações entre banqueiros e políticos de oposição
eram um tabu. A aproximação
mais decisiva ocorreu em 90.
Coube a Lafaiete Coutinho, então diretor do Econômico e da Febraban, promover uma aproximação entre presidentes de bancos e parlamentares do PMDB, no
Palácio dos Bandeirantes, no governo Orestes Quércia (também
foi Coutinho quem coordenou a
apresentação de Collor aos banqueiros, no Nacional Clube).
Um segundo encontro, ampliando o número de convidados,
aconteceu em Brasília, num jantar
na casa do Bradesco. A idéia do
sistema financeiro era criar uma
rede de proteção, quando os bancos -com péssima imagem perante a opinião pública- temiam
uma maior estatização do setor e a
aprovação de medidas inibidoras
de sua atuação.
Clientes especiais
A rede de proteção funcionou.
Foi praticamente dissipada a idéia
de que candidatos hostis ao sistema financeiro pudessem ameaçar
sua estabilidade.
Parlamentares de vários partidos tiveram suas campanhas financiadas pelos bancos e assumem, abertamente, essa condição. É o caso, por exemplo, de
Paes Landim (PFL-PI), Benito Gama (PFL-BA), Basílio Villani
(PPB-PR) e Germano Rigotto
(PMDB-RS).
Em contrapartida, os bancos
criaram uma clientela cativa no
Congresso. A cada eleição, surgem
informações de que está em vias
de ser apresentado o projeto de lei
complementar para regulamentar
o artigo 192 da Constituição, que
trata do sistema financeiro e do limite aos juros. Como diz um banqueiro, desarquivam o projeto para mostrar serviço e lembrar que
campanhas eleitorais são caras.
Essa rede de proteção foi insuficiente, contudo, para evitar que
Lázaro Brandão, do Bradesco, tivesse que depor na Comissão Parlamentar de Inquérito dos precatórios. O acontecimento deverá
pesar quando os bancos decidirem como contribuir para a próxima eleição. Estará no cadastro político de cada parlamentar o que
fez, ou deixou de fazer, num episódio que expôs os bancos.
(FV)
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