São Paulo, domingo, 12 de abril de 1998

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Empreiteiro se diz obrigado a doar

da Reportagem Local

A falta de obras, as privatizações e as concessões reduziram a expectativa de reciprocidade nas colaborações dos empreiteiros.
Mas eles deverão reforçar os caixas de campanha no próximo pleito repetindo a mesma lógica perversa: a título de tentar receber o que lhes é devido, colocam mais dinheiro em jogo, sabendo que a conta final será paga pelo eleitor-contribuinte.
O presidente de uma grande empreiteira admitiu à Folha que é forçado a contribuir. Caso contrário, diz, não recebe o que os Estados lhe devem. Para ele, nada indica que os velhos hábitos mudarão na próxima eleição, e os Estados vão pressionar, novamente, no estilo tradicional.
A construção não tem, segundo os empresários do setor, um lobby organizado, no Congresso, com a mesma eficiência do mantido pelo sistema financeiro.
O deputado Luís Roberto Ponte (PMDB-RS) é empresário da construção e suas campanhas eleitorais são sustentadas por empresas do setor, fato admitido por doadores e donatário. Ponte preside a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), lobby nacional do setor, e diz que a entidade não tem verba para ajudar campanhas eleitorais. O financiamento, diz, é feito diretamente pelas empresas, e cada uma tem sua visão sobre como negociar com o governo.
Ponte, por exemplo, não concorda com a proposta do empresário Sérgio Andrade, da Construtora Andrade Gutierrez, para as dívidas dos Estados. "Não vamos advogar a tese de passar essas dívidas para a viúva (União). É uma irresponsabilidade. Cada unidade da Federação é que tem que pagar o que deve aos empresários", diz.
A Andrade Gutierrez foi a maior contribuinte, em bônus, nas eleições de 94 (R$ 8,4 milhões).
Ponte cita quais são os pleitos maiores do setor, hoje: a consolidação do programa de concessões, mecanismos para evitar abusos das agências reguladoras, pequenos retoques na lei de licitações e o projeto habitacional para viabilizar a casa popular, com subsídios explícitos. Mas diz que esses assuntos não estarão em jogo nas próximas eleições.
Troca-troca limitado
"Quem investir eleitoralmente, pensando no toma-lá-dá-cá, vai quebrar a cara", diz Carlos Zveibil, empreiteiro paulista com experiência de ter atuado muito próximo dos levantamentos de recursos em eleições estaduais.
Zveibil, que presidiu a Apeop (reúne as empresas paulistas de obras públicas), diz que,"se algum candidato acredita que as contribuições serão generosas, também vai quebrar a cara".
Se essa tese se confirmar, o novo cenário reduziria o espaço para as barganhas tradicionais. Pelos padrões antigos, uma contribuição de R$ 1 milhão para um candidato a governador, por exemplo, era entendida como uma "dívida" a ser retribuída com uma obra.
No raciocínio exemplar de um empreiteiro, hoje, devido à maior fiscalização da sociedade, a possibilidade de ganhar uma obra é maior para uma empresa que não contribuir na eleição. Ela estará acima de qualquer suspeita para vencer, posteriormente, uma licitação dirigida, preterindo quem contribuiu na campanha. E será um alvo mais fácil para a cobrança seguinte de "pedágios" e comissões. (FV)



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