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Empreiteiro se diz obrigado a doar
da Reportagem Local
A falta de obras, as privatizações
e as concessões reduziram a expectativa de reciprocidade nas colaborações dos empreiteiros.
Mas eles deverão reforçar os caixas de campanha no próximo pleito repetindo a mesma lógica perversa: a título de tentar receber o
que lhes é devido, colocam mais
dinheiro em jogo, sabendo que a
conta final será paga pelo eleitor-contribuinte.
O presidente de uma grande empreiteira admitiu à Folha que é
forçado a contribuir. Caso contrário, diz, não recebe o que os Estados lhe devem. Para ele, nada indica que os velhos hábitos mudarão
na próxima eleição, e os Estados
vão pressionar, novamente, no estilo tradicional.
A construção não tem, segundo
os empresários do setor, um lobby
organizado, no Congresso, com a
mesma eficiência do mantido pelo
sistema financeiro.
O deputado Luís Roberto Ponte
(PMDB-RS) é empresário da construção e suas campanhas eleitorais
são sustentadas por empresas do
setor, fato admitido por doadores
e donatário. Ponte preside a CBIC
(Câmara Brasileira da Indústria da
Construção), lobby nacional do
setor, e diz que a entidade não tem
verba para ajudar campanhas eleitorais. O financiamento, diz, é feito diretamente pelas empresas, e
cada uma tem sua visão sobre como negociar com o governo.
Ponte, por exemplo, não concorda com a proposta do empresário Sérgio Andrade, da Construtora Andrade Gutierrez, para as
dívidas dos Estados. "Não vamos
advogar a tese de passar essas dívidas para a viúva (União). É uma
irresponsabilidade. Cada unidade
da Federação é que tem que pagar
o que deve aos empresários", diz.
A Andrade Gutierrez foi a maior
contribuinte, em bônus, nas eleições de 94 (R$ 8,4 milhões).
Ponte cita quais são os pleitos
maiores do setor, hoje: a consolidação do programa de concessões,
mecanismos para evitar abusos
das agências reguladoras, pequenos retoques na lei de licitações e o
projeto habitacional para viabilizar a casa popular, com subsídios
explícitos. Mas diz que esses assuntos não estarão em jogo nas
próximas eleições.
Troca-troca limitado
"Quem investir eleitoralmente,
pensando no toma-lá-dá-cá, vai
quebrar a cara", diz Carlos Zveibil, empreiteiro paulista com experiência de ter atuado muito próximo dos levantamentos de recursos em eleições estaduais.
Zveibil, que presidiu a Apeop
(reúne as empresas paulistas de
obras públicas), diz que,"se algum
candidato acredita que as contribuições serão generosas, também
vai quebrar a cara".
Se essa tese se confirmar, o novo
cenário reduziria o espaço para as
barganhas tradicionais. Pelos padrões antigos, uma contribuição
de R$ 1 milhão para um candidato
a governador, por exemplo, era
entendida como uma "dívida" a
ser retribuída com uma obra.
No raciocínio exemplar de um
empreiteiro, hoje, devido à maior
fiscalização da sociedade, a possibilidade de ganhar uma obra é
maior para uma empresa que não
contribuir na eleição. Ela estará
acima de qualquer suspeita para
vencer, posteriormente, uma licitação dirigida, preterindo quem
contribuiu na campanha. E será
um alvo mais fácil para a cobrança
seguinte de "pedágios" e comissões.
(FV)
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