São Paulo, domingo, 12 de abril de 1998

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Usineiros apóiam com "moeda de troca visível'

da Reportagem Local

Nesta eleição, os usineiros do Centro-Sul decidiram adotar o que chamam de "moeda de troca visível". Pretendem arregimentar políticos que considerem sérios, cujas campanhas serão financiadas dentro de um "jogo aberto".
Desde dezembro último, candidatos à eleição e à reeleição têm procurado fazer contatos com dirigentes de usinas. Todo mundo quer dinheiro, e campanha de deputado federal é cara, como admite o presidente de uma grande usina de açúcar e álcool.
A idéia desses empresários é estimular o que chamam de "contrapartida social", levando os parlamentares a "vestir a camisa do setor".
Os usineiros entendem que é preciso superar a imagem negativa da atividade e conquistar parlamentares que se identifiquem com as preocupações da nova geração empresarial do setor, como a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida.
Nas negociações sobre apoio às eleições, o empresário quer saber o que o parlamentar vai dar em troca. Na hora da bola dividida, o deputado tem que defender o setor, e deve impor ao governo uma "moeda de troca", no dizer de um usineiro paulista.
Como exemplo, cita que o parlamentar pode trocar o voto na reforma da previdência pelo apoio à tese da mistura do álcool ao diesel.
Na entressafra
Os empresários desse segmento estão trabalhando de forma organizada. É feito um trabalho de acompanhamento contínuo do desempenho do parlamentar.
As usinas também costumam alimentar suas bases por meio de ajudas diretas aos prefeitos, nos municípios onde têm influência.
As usinas constroem creches, doam máquinas e ambulâncias para as prefeituras. Na época das eleições, apresentam aos prefeitos os deputados que vão apoiar, convidando-os a subir juntos no mesmo palanque. É a chamada "dobradinha". Muitas vezes o palanque é montado nas próprias usinas, que contam com um eleitorado considerável.
Esse processo é chamado pelos usineiros de "conquista mútua" e funciona principalmente com deputados da mesma base, ou seja, ligados a regiões produtoras de cana-de-açúcar.
Segundo um usineiro paulista, uma vez feita a contribuição a um candidato, o setor não pode deixar de dar dinheiro na eleição seguinte. Caso contrário, como diz, o parlamentar vira uma "pedra no sapato".
Nas eleições de 94, a Copersucar foi a maior contribuinte do setor (R$ 2,7 milhões, em bônus), mantendo uma posição tradicional, pois era a que tinha mais fôlego num setor em crise.
Calcula-se que a Copersucar respondeu por 60% a 70% da contribuição total do setor sucroalcooleiro na última eleição presidencial. A Refinaria Piedade (da Copersucar) doou R$ 1 milhão, em bônus, para a campanha de FHC, que também recebeu apoio de usineiros alagoanos. (FV)



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