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SUCESSÃO
Ex-governador irá investir em discurso desenvolvimentista e ataques à Covas e ao governo federal
Quércia quer saber do "japonês do Covas'
CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local
O ex-governador paulista Orestes Quércia (PMDB) acha que a
sua pregação contra o presidente
Fernando Henrique Cardoso vai
ajudá-lo na tentativa de voltar ao
Palácio dos Bandeirantes.
Quércia, com discretos 9% na
última pesquisa do Datafolha, vai
investir no discurso desenvolvimentista e no ataque ao governador Mário Covas (PSDB), principalmente nas denúncias sobre a
gestão de Goro Hama na CDHU
(Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano). A seguir,
os principais trechos:
Folha - Como o sr. explica o fato
de ter apenas 9% nas pesquisas
sendo um ex-governador?
Orestes Quércia - Estamos há
oito anos fora do governo. Pesquisas traduzem o conhecimento da
população em relação aos nomes
das pessoas. O Covas está no governo e o Maluf saiu há pouco do
governo e elegeu seu sucessor. É
normal que eles ganhem na pesquisa, agora. Isso não traduz o que
vai acontecer na eleição. Em 86,
comecei com 8%, em quarto lugar,
e ganhei a eleição em 60 dias.
Folha - Muitas pessoas interpretam a candidatura atual como necessária para limpar sua imagem.
Seria uma espécie de purgatório
que o sr. teria que cumprir.
Quércia - É uma avaliação boba. Não seria inteligente fazer isso.
Tenho absoluta confiança de que
tenho condição de ganhar a eleição. Do lado do governo federal,
há dois candidatos, o Maluf e o Covas. O PT tem a Marta, que faz um
pouco de oposição. Existe o Rossi
também, mas a candidatura de
oposição mesmo vai ser a minha.
A situação vai ser muito favorável
para mim.
Folha - Na bancada federal do
PMDB paulista, só um deputado
assume plenamente a defesa de
sua candidatura. Até a bancada estadual aderiu ao governo Covas...
Quércia - Eles virão durante a
campanha, por interesse deles. Eu
tenho a maioria dos deputados estaduais. Fui contra o acordo com o
Covas, mas hoje eu sinto que os
deputados estão firmes na minha
campanha. Poderá haver uma ou
outra exceção, por enquanto, porque no final todos estarão comigo.
Folha - O malufismo e o governador Covas não estão comendo o
PMDB pelas bordas? O quercismo
ainda existe?
Folha - A imagem de responsável
pela quebra do Estado não vai
atrapalhar a campanha?
Quércia - Não. Estamos esclarecendo tudo, com muita dificuldade. Com relação ao Banespa,
por exemplo, quando o Montoro
deixou o governo a dívida do banco era de US$ 3,2bi. Comigo, ficou
em US$ 4,8 bi. Quando o Fleury
saiu do governo, US$ 9,3 bi. Com o
Covas, está em US$ 30 bi a dívida
do Estado com o banco. Quem
quebrou o Estado?
Folha - Seu governo foi marcado
por denúncias de corrupção...
Quércia - Todas as denúncias
foram arquivadas. Quero saber o
que vai acontecer com as denúncias sobre o governo Covas. As minhas já foram arquivadas. O caso
das importações de Israel, por
exemplo, só prejudicou as universidades, porque deixamos de importar muitos equipamentos que
hoje fazem falta.
Agora temos que discutir o
CDHU do Covas. As denúncias
contra o japonês do Covas.
Folha - O sr. foi muito mal na
eleição presidencial de 94. Se ocorrer um novo desastre, é o fim da
carreira política do sr.?
Quércia - Eu acredito que não
vai acontecer nenhum desastre.
Em 94, houve um processo de fenômenos. Quem foi eleito foi o
real, não foi o Fernando Henrique.
Todos os políticos tradicionais
caíram. É outra campanha e as circunstâncias vão me ajudar.
Folha - O apoio do PMDB à candidatura de Fernando Henrique não
prejudica sua campanha?
Quércia - É uma dificuldade
maior, mas nossa campanha vai
ser de oposição. Ainda temos esperança de ter candidato à Presidência da República, apesar de ser
muito difícil. A nossa campanha
em SP vai ser de oposição à política
econômica que está paralisando o
Brasil, promovendo o desemprego
e liquidando a agricultura. Covas
paralisou São Paulo.
Folha - Qual será sua posição na
eleição presidencial?
Quércia - Se Itamar Franco não
for candidato, vou fazer campanha de oposição, pedindo que não
se vote no atual presidente e que se
escolha outro candidato.
Folha - O sr. pode fazer um acordo eleitoral com o PT?
Quércia - Acho difícil, mas é
uma questão que vou avaliar.
Folha - E Lula?
Quércia - O Lula eu respeito e
admiro. É um lutador, um sujeito
que veio de operário para a posição que ocupa tem muito valor.
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