São Paulo, domingo, 12 de abril de 1998

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SUCESSÃO
Ex-governador irá investir em discurso desenvolvimentista e ataques à Covas e ao governo federal
Quércia quer saber do "japonês do Covas'

CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local

O ex-governador paulista Orestes Quércia (PMDB) acha que a sua pregação contra o presidente Fernando Henrique Cardoso vai ajudá-lo na tentativa de voltar ao Palácio dos Bandeirantes.
Quércia, com discretos 9% na última pesquisa do Datafolha, vai investir no discurso desenvolvimentista e no ataque ao governador Mário Covas (PSDB), principalmente nas denúncias sobre a gestão de Goro Hama na CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). A seguir, os principais trechos:

Folha - Como o sr. explica o fato de ter apenas 9% nas pesquisas sendo um ex-governador?
Orestes Quércia -
Estamos há oito anos fora do governo. Pesquisas traduzem o conhecimento da população em relação aos nomes das pessoas. O Covas está no governo e o Maluf saiu há pouco do governo e elegeu seu sucessor. É normal que eles ganhem na pesquisa, agora. Isso não traduz o que vai acontecer na eleição. Em 86, comecei com 8%, em quarto lugar, e ganhei a eleição em 60 dias.
Folha - Muitas pessoas interpretam a candidatura atual como necessária para limpar sua imagem. Seria uma espécie de purgatório que o sr. teria que cumprir.
Quércia -
É uma avaliação boba. Não seria inteligente fazer isso. Tenho absoluta confiança de que tenho condição de ganhar a eleição. Do lado do governo federal, há dois candidatos, o Maluf e o Covas. O PT tem a Marta, que faz um pouco de oposição. Existe o Rossi também, mas a candidatura de oposição mesmo vai ser a minha. A situação vai ser muito favorável para mim.
Folha - Na bancada federal do PMDB paulista, só um deputado assume plenamente a defesa de sua candidatura. Até a bancada estadual aderiu ao governo Covas...
Quércia -
Eles virão durante a campanha, por interesse deles. Eu tenho a maioria dos deputados estaduais. Fui contra o acordo com o Covas, mas hoje eu sinto que os deputados estão firmes na minha campanha. Poderá haver uma ou outra exceção, por enquanto, porque no final todos estarão comigo.
Folha - O malufismo e o governador Covas não estão comendo o PMDB pelas bordas? O quercismo ainda existe?
Folha - A imagem de responsável pela quebra do Estado não vai atrapalhar a campanha?
Quércia -
Não. Estamos esclarecendo tudo, com muita dificuldade. Com relação ao Banespa, por exemplo, quando o Montoro deixou o governo a dívida do banco era de US$ 3,2bi. Comigo, ficou em US$ 4,8 bi. Quando o Fleury saiu do governo, US$ 9,3 bi. Com o Covas, está em US$ 30 bi a dívida do Estado com o banco. Quem quebrou o Estado?
Folha - Seu governo foi marcado por denúncias de corrupção...
Quércia -
Todas as denúncias foram arquivadas. Quero saber o que vai acontecer com as denúncias sobre o governo Covas. As minhas já foram arquivadas. O caso das importações de Israel, por exemplo, só prejudicou as universidades, porque deixamos de importar muitos equipamentos que hoje fazem falta.
Agora temos que discutir o CDHU do Covas. As denúncias contra o japonês do Covas.
Folha - O sr. foi muito mal na eleição presidencial de 94. Se ocorrer um novo desastre, é o fim da carreira política do sr.?
Quércia -
Eu acredito que não vai acontecer nenhum desastre. Em 94, houve um processo de fenômenos. Quem foi eleito foi o real, não foi o Fernando Henrique. Todos os políticos tradicionais caíram. É outra campanha e as circunstâncias vão me ajudar.
Folha - O apoio do PMDB à candidatura de Fernando Henrique não prejudica sua campanha?
Quércia -
É uma dificuldade maior, mas nossa campanha vai ser de oposição. Ainda temos esperança de ter candidato à Presidência da República, apesar de ser muito difícil. A nossa campanha em SP vai ser de oposição à política econômica que está paralisando o Brasil, promovendo o desemprego e liquidando a agricultura. Covas paralisou São Paulo.
Folha - Qual será sua posição na eleição presidencial?
Quércia -
Se Itamar Franco não for candidato, vou fazer campanha de oposição, pedindo que não se vote no atual presidente e que se escolha outro candidato.
Folha - O sr. pode fazer um acordo eleitoral com o PT?
Quércia -
Acho difícil, mas é uma questão que vou avaliar.
Folha - E Lula?
Quércia -
O Lula eu respeito e admiro. É um lutador, um sujeito que veio de operário para a posição que ocupa tem muito valor.



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