São Paulo, domingo, 12 de abril de 1998

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AMÉRICAS

Líderes enfeitam agenda latino-americana

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O livre comércio, que deveria ser o eixo da 2ª Cúpula das Américas, a realizar-se dias 17 e 18 em Santiago do Chile, acabou diluído como apenas uma das quatro "cestas" que enfeitam a agenda dos 34 governantes das Américas que estarão presentes (excluído apenas Fidel Castro, de Cuba).
"Cesta" (de temas) é uma expressão criada por Thomas McLarty, representante pessoal do presidente norte-americano Bill Clinton para as Américas. No fundo, designa a tentativa de dar algum conteúdo à Cúpula, para evitar que se transforme em mera "photo opportunity", o jargão da mídia norte-americana para designar eventos que rendem boas fotos, mas não têm substância.
É verdade que a Cúpula será a ocasião para o início das negociações em torno da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Mas as negociações de fato não podem avançar até que o governo norte-americano disponha do mecanismo chamado de "fast track", ou seja, uma autorização do Legislativo para que o Executivo negocie acordos comerciais que, depois, o Congresso aprova ou rejeita em bloco, sem poder emendar.
Sem a "fast track" (via rápida), as autoridades norte-americanas admitem que seus parceiros hesitam em fechar acordos, por temer que sejam, depois, estraçalhados por um Congresso em que cresceu o sentimento protecionista ante o aumento dos déficits comerciais dos EUA.
Como a "fast track", na melhor das hipóteses, só voltará à discussão no Congresso norte-americano em 1999, as negociações em torno da Alca, este ano, serão mais voltadas a organização.
O primeiro encontro do CNC (Comitê de Negociações Comerciais), formado pelos vice-ministros de Comércio ou Exterior dos 34 países, será até 30 de junho.
As dificuldades para fazer avançar a Alca, que é o ponto forte do projeto de integração hemisférica idealizado pelo governo norte-americano, fez com que McLarty rebatizasse a reunião de Santiago para "Cúpula da Educação".
Mas, mesmo nessa área, os projetos que devem ser lançados ou propostos na Cúpula são um catálogo de boas intenções, com pouca consistência.
De certa forma, trata-se da extensão para todos os países americanos de projetos similares entre Brasil e Estados Unidos, lançados quando da visita de Bill Clinton no ano passado.
Mais concreto parece ser o projeto de cooperação no combate ao narcotráfico e à lavagem de dinheiro a ele associada.
Ele inclui a criação de um centro de estudos na Cidade do Panamá.
Mas não serão meros estudos acadêmicos: os serviços de inteligência norte-americanos darão todo o apoio à iniciativa.
O combate à pobreza na América Latina, que afeta 150 milhões de pessoas, será outro foco central da Cúpula.
A ênfase será posta na ampliação da disponibilidade de crédito para micro, pequenas e médias empresas. Mas incluirá o polêmico tema da reforma agrária e da entrega de títulos de propriedade da terra a quem a ocupa.
A educação ganhará ênfase na Cúpula, por ser tida como o principal instrumento para combater a pobreza.



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