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AMÉRICAS
Líderes enfeitam agenda latino-americana
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O livre comércio, que deveria ser
o eixo da 2ª Cúpula das Américas,
a realizar-se dias 17 e 18 em Santiago do Chile, acabou diluído como
apenas uma das quatro "cestas"
que enfeitam a agenda dos 34 governantes das Américas que estarão presentes (excluído apenas Fidel Castro, de Cuba).
"Cesta" (de temas) é uma expressão criada por Thomas
McLarty, representante pessoal do
presidente norte-americano Bill
Clinton para as Américas. No fundo, designa a tentativa de dar algum conteúdo à Cúpula, para evitar que se transforme em mera
"photo opportunity", o jargão da
mídia norte-americana para designar eventos que rendem boas
fotos, mas não têm substância.
É verdade que a Cúpula será a
ocasião para o início das negociações em torno da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Mas as negociações de fato não
podem avançar até que o governo
norte-americano disponha do mecanismo chamado de "fast track",
ou seja, uma autorização do Legislativo para que o Executivo negocie acordos comerciais que, depois, o Congresso aprova ou rejeita em bloco, sem poder emendar.
Sem a "fast track" (via rápida),
as autoridades norte-americanas
admitem que seus parceiros hesitam em fechar acordos, por temer
que sejam, depois, estraçalhados
por um Congresso em que cresceu
o sentimento protecionista ante o
aumento dos déficits comerciais
dos EUA.
Como a "fast track", na melhor
das hipóteses, só voltará à discussão no Congresso norte-americano em 1999, as negociações em
torno da Alca, este ano, serão mais
voltadas a organização.
O primeiro encontro do CNC
(Comitê de Negociações Comerciais), formado pelos vice-ministros de Comércio ou Exterior dos
34 países, será até 30 de junho.
As dificuldades para fazer avançar a Alca, que é o ponto forte do
projeto de integração hemisférica
idealizado pelo governo norte-americano, fez com que McLarty
rebatizasse a reunião de Santiago
para "Cúpula da Educação".
Mas, mesmo nessa área, os projetos que devem ser lançados ou
propostos na Cúpula são um catálogo de boas intenções, com pouca consistência.
De certa forma, trata-se da extensão para todos os países americanos de projetos similares entre
Brasil e Estados Unidos, lançados
quando da visita de Bill Clinton no
ano passado.
Mais concreto parece ser o projeto de cooperação no combate ao
narcotráfico e à lavagem de dinheiro a ele associada.
Ele inclui a criação de um centro
de estudos na Cidade do Panamá.
Mas não serão meros estudos
acadêmicos: os serviços de inteligência norte-americanos darão
todo o apoio à iniciativa.
O combate à pobreza na América Latina, que afeta 150 milhões de
pessoas, será outro foco central da
Cúpula.
A ênfase será posta na ampliação
da disponibilidade de crédito para
micro, pequenas e médias empresas. Mas incluirá o polêmico tema
da reforma agrária e da entrega de
títulos de propriedade da terra a
quem a ocupa.
A educação ganhará ênfase na
Cúpula, por ser tida como o principal instrumento para combater a
pobreza.
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