São Paulo, domingo, 12 de abril de 1998

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Centro estudará narcotráfico

do Conselho Editorial

A Cúpula do Chile deve lançar uma nova iniciativa para o combate ao tráfico de drogas, o que inclui um centro de estudos na Cidade do Panamá.
Mas não serão meros estudos acadêmicos: os serviços de inteligência norte-americanos darão todo o apoio à iniciativa, aliás uma proposta dos EUA.
A idéia parte de um princípio que se está tornando consensual no mundo: não foi só a economia que se globalizou, mas também o crime organizado, cujo filão mais rentável é exatamente o narcotráfico.
O combate precisa de esforços que transcendam as fronteiras dos Estados. O narcotráfico "é a ameaça número 1 à segurança das Américas", diz Thomas McLarty, representante do presidente Bill Clinton para as Américas.
O governo brasileiro, que apóia a iniciativa norte-americana, aplica o raciocínio à violência e à criminalidade nas grandes cidades do país, em especial no Rio de Janeiro.
Desde antes da posse, o presidente Fernando Henrique Cardoso vem dizendo que a violência não começa nem termina nas fronteiras do Rio. Tem origem no narcotráfico, um negócio multinacional que começa nas plantações de coca na Bolívia e no Peru e termina nos centros consumidores.
O alcance da iniciativa vai depender da superação das resistências que a maioria dos governos latino-americanos apresenta. Acham que se trata de abrir espaço para ampliar a ingerência norte-americana em assuntos internos. Por isso, o esboço do texto pronto para ser assinado no Chile pelos 34 chefes de Estado/governo da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) é cauteloso.
Há uma segunda resistência ao projeto, decorrente do local em que os EUA sugerem para instalar o centro. São as dependências da Escola das Américas, um centro de treinamento para militares latino-americanos que se transformou em escola de torturas e formação de agentes para o autoritarismo que marcou a América Latina nos anos 70 e 80.
O combate à pobreza na América Latina, que afeta 150 milhões de pessoas, será outro foco central da Cúpula.
A ênfase será posta na ampliação da disponibilidade de crédito para micro, pequenas e médias empresas.
Mas incluirá o polêmico tema da reforma agrária e da entrega de títulos de propriedade da terra a quem a ocupa.
Sven Sandstrom, funcionário do Banco Mundial, lembra que, além dos 150 milhões que vivem na pobreza, há um contingente semelhante que está pouco acima da linha de pobreza. São, por isso, "extremamente vulneráveis a qualquer choque econômico que afete seu emprego e sua renda".
A educação ganhará ênfase na Cúpula, por ser tida como o principal instrumento para combater a pobreza.
A Cúpula anterior (Miami, 94) já havia incluído entre as metas a matrícula no primário de todas as crianças da região até o ano 2010. E elevar para 75% a porcentagem de alunos que ingressam no secundário. (CLÓVIS ROSSI)



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