São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Temendo que violência prejudique governador, tucanos centrarão debate em emprego e geração de renda
Alckmin quer esvaziar discurso adversário

JULIA DUAILIBI
MARIA INÊS NASSIF

DA REPORTAGEM LOCAL
Temerosos do estrago que a discussão sobre a segurança pública possa vir a causar na campanha à reeleição do governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), os tucanos tentarão esvaziar os argumentos dos adversários ao centrar o debate no emprego e na geração de renda. Tiram assim o foco no policiamento ostensivo.
Os estrategistas do PSDB querem mostrar ao eleitor que a administração deve concentrar seus esforços na melhoria dos índices sociais e que, atingido esse objetivo, uma das consequências será a redução da violência.
Mostrarão números ao eleitor para ilustrar investimentos feitos em segurança. Dessa forma, pretendem mostrar ao eleitor que o discurso focado no policiamento ostensivo é equivocado. Tanto o pré-candidato do PPB quanto o do PT -Paulo Maluf e José Genoino, respectivamente- têm colocado bastante ênfase na repressão ao crime.
O aumento da violência é o aspecto mais criticado do governo tucano. Mesmo dentro do PSDB há quem admita que o partido fracassou no combate ao crime e que agora corre contra o tempo para reverter o quadro.
Para a cúpula da campanha, o início do horário eleitoral gratuito dará espaço para Alckmin impor sua agenda aos demais candidatos. O objetivo é não embarcar numa discussão cujo principal item seja a segurança, que interessa especialmente a Maluf, mas colocar em foco a questão social.
Os tucanos baseiam-se em pesquisas. Segundo o Datafolha, em fevereiro, 21% dos brasileiros -27% dos paulistas- consideravam a violência o maior problema do país. Para contê-la, a maioria (57%) defende o combate ao desemprego e a melhora da educação. A violência preocupa menos do que o desemprego -32% das indicações-, mas os percentuais nunca foram tão próximos.
De acordo com pesquisas qualitativas às quais a direção do PSDB teve acesso, o eleitor não acredita mais em promessas vazias para diminuir a violência. Procura um candidato com, antes de tudo, "honestidade de intenções".
Elaborado no Instituto Teotonio Vilela, sob coordenação do secretário estadual de Agricultura, João Carlos Meirelles, 67, o programa de governo tentará acabar com a "demanda reprimida por emprego" -ou desemprego- em quatro anos.
Contra as intenções estão os números. Em março, a Fundação Seade/Dieese registrou desemprego de 19,9% em março na região metropolitana de São Paulo. No mesmo mês do ano passado, o índice era de 17,3%. O número de desempregados na região cresceu 43,2%, em média, entre 1994 e 2001, ainda de acordo com a Fundação Seade/Dieese. É na maior parte deste período que os tucanos ocuparam o governo federal e o do Estado.
Comprometer-se com uma política estadual de emprego, cuja atuação é limitada por depender da política econômica do governo federal, é também uma forma de abordar a questão da segurança sem tocar direto na ferida. "Há sete anos já estamos cuidando da infecção [segurança". Não adianta ficarmos passando pomadinha em vez de darmos o antibiótico", afirmou o secretário Meirelles.
Fica então a questão de como gerar emprego. O programa a ser submetido ao governador em junho, antes da convenção estadual, e que está sendo preparado por um grupo de seis acadêmicos da Unicamp, Seade e USP, terá como foco o aumento das exportações e, por meio da capacitação técnica, do número de empregáveis no setor de serviços.
O plano prevê um pólo de geração de empregos no interior, região que preocupa os tucanos. De acordo com pesquisas encomendadas pelo partido, é principalmente no interior que está o eleitor suscetível ao discurso duro sobre segurança usado por Maluf.



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