São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 2002

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JANIO DE FREITAS

Variações

As especulações estão centradas nos possíveis efeitos da não-intervenção no Espírito Santo sobre a disputa eleitoral. Interesse que se explica pela extensão nacional do desgaste do governo, no momento em que a candidatura governista de José Serra vive outra vez situação delicada. Mais importante, porém, do que esse efeito a curto prazo -se existir e seja qual for sua direção- é o fortalecimento que o episódio dá ao movimento que se prenuncia para uma inovação importante, no próximo governo.
A nota crítica da Associação dos Magistrados Brasileiros, ao considerar "o elevado grau de subordinação do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, ao presidente da República", reclama com vigor que seja modificada a designação do procurador-geral da República, por nomeação decidida pelo presidente da República.
Essa é uma reivindicação antiga dos procuradores da República, à qual a Ordem dos Advogados do Brasil já deu apoio oficioso. Fortalecida pelo que se passa no episódio da não-intervenção, passa a compor um todo com o propósito de que também a composição do Supremo Tribunal Federal deixe de se fazer por vontade apenas de presidentes da República. A tese dessa mudança foi muito fortalecida pela recente nomeação de Gilmar Mendes para o STF.
Métodos menos ativados por interesses pessoais, nas nomeações para procurador-geral e para a alta magistratura, são mesmo indispensáveis.

Uma geral
Sem o cabeça de chapa, mas acompanhada da candidata a governadora fluminense Solange Amaral, Rita Camata foi levada para visitar, na zona sul do Rio, a favela do Vidigal que não era a favela do Vidigal. Estava no lugar exato da favela do Vidigal, as pessoas eram os habitantes da favela do Vidigal, mas deixara repentinamente de ser a favela do Vidigal.
Antes da chegada de Rita Camata, Cesar Maia mandou dar uma geral nas vias e lugares a serem visitados. A sujeirada grossa foi recolhida, e afastados os ambulantes e perambulantes, para reduzir o ar de miséria abandonada que Cesar Maia agravou, ao interromper a urbanização prevista no projeto Favela Bairro -embora diga haver "dois bilhões nos cofres da prefeitura".
Rita Camata esteve em uma favela do Vidigal que não é a favela do Vidigal de Cesar Maia. Mas esteve com a candidata inventada por Cesar Maia para disputar em nome do PFL, do PMDB e do PSDB. É, até agora, o caso mais espantoso da disputa eleitoral: tem o apoio escancarado da prefeitura, tem uma exposição global imensa, diária, sistemática, mas figura lá embaixo, em quarto lugar, com tristonhos 8%.

Com ciência
"O ministro Ronaldo Sardenberg, consciente do seu papel de autoridade pública, solicita detalhamentos para tomar providências e com isso esclarecer os leitores deste prestigioso jornal."
Deus me livre de duvidar da autoridade do ministro Ronaldo Sardenberg e, sobretudo, da sua consciência de tê-la. Limitei-me a informar, ontem, que certos setores da pesquisa científica estão inquietos com a ameaça de mudanças em instituições na área do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Se o ministro tem consciência da sua autoridade, mas não do que se passa entre certos setores da pesquisa científica, na área do MCT, eis o esclarecimento.
A inquietação provém da expectativa de mudanças na estrutura, entre outros, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, do Observatório Nacional, do Museu de Astronomia e até do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, assim como da extinção ou transferência de cursos de pós-graduação. Tais instituições, não por acaso todas no Rio, vêm sendo submetidas a discussões e propostas de sucessivas comissões e subcomissões (como a chamada "comissão Tundisi"), com vistas a modificações muito polêmicas nas finalidades e nas formas, desejadas por setores do MCT fora do Rio.
Os cientistas que têm consciência da importância de suas instituições estão apreensivos por elas e por si mesmos.



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