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Nos bastidores, Palocci articula para evitar crise
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Preocupado com a má repercussão das idas e vindas do governo na reforma da Previdência, o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, decidiu participar
mais ativamente das negociações
em torno do projeto, mas mantendo-se nos bastidores.
A Folha apurou que Palocci
considera, por exemplo, que a reforma se descaracterizaria caso
uma das alterações que vinham
sendo articuladas pelo governo
prosperasse. A mudança em
questão seria a de manutenção da
aposentadoria integral para os
novos servidores públicos.
Ontem, Palocci e José Dirceu,
ministro-chefe da Casa Civil, falaram algumas vezes ao telefone
com Lula, que está na Europa, sobre a possibilidade de um "recuo
do recuo" que vinha sendo articulado pelo governo.
Ao final do dia, foram marcadas
duas reuniões com os governadores: a primeira na próxima terça-feira, e a outra no dia 22. Alguns
dos participantes do chamado
"núcleo duro" consideram que há
pontos da reforma em que o governo não pode ceder.
Viagem
Para articular o recuo do recuo,
Palocci cancelou sua ida ontem
para o Rio de Janeiro, onde participaria de seminário promovido
pelo Banco Central, e chegou a cogitar a possibilidade de não embarcar amanhã para a Espanha,
onde encontrará Lula.
Em Brasília, dedicou-se a contatos políticos. Almoçou com o relator da comissão especial da reforma tributária na Câmara, Virgílio Guimarães (PT-MG). No final do dia, após falar com Lula,
Palocci decidiu manter a viagem.
Palocci só foi informado do teor
das negociações do governo para
as mudanças na reforma da Previdência na quarta-feira passada,
em encontro com o ministro da
Previdência, Ricardo Berzoini.
Assim que tomou conhecimento
das mudanças, iniciou um trabalho dentro do governo para reverter as negociações.
Tudo foi feito, porém, com discrição. Palocci não quer acrescentar mais uma perturbação ao já
delicado ambiente político.
Outra preocupação é preservar
a imagem do ministro, principal
âncora da confiança do mercado
financeiro no governo Lula.
O diagnóstico de alguns dos integrantes do "núcleo duro" é de
que o governo vive hoje o pior
momento, desde a sua posse. Em
algumas conversas com políticos,
Palocci tem defendido a tese de
que o governo não pode perder o
fio condutor que tem norteado a
política econômica nesses primeiros seis meses.
Qualquer sinal de retrocesso, na
opinião de alguns ministros do
"núcleo duro", poria a perder toda a política traçada para conquistar a credibilidade da sociedade e do mercado.
Pioraria a situação o fato de que
o recuo ocorre logo após os incidentes ocorridos no encontro de
Lula com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e
dos discursos desencontrados no
episódio do reajuste da telefonia.
Colaborou GUSTAVO PATÚ da Sucursal
de Brasília
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