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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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Nos bastidores, Palocci articula para evitar crise

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Preocupado com a má repercussão das idas e vindas do governo na reforma da Previdência, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, decidiu participar mais ativamente das negociações em torno do projeto, mas mantendo-se nos bastidores.
A Folha apurou que Palocci considera, por exemplo, que a reforma se descaracterizaria caso uma das alterações que vinham sendo articuladas pelo governo prosperasse. A mudança em questão seria a de manutenção da aposentadoria integral para os novos servidores públicos.
Ontem, Palocci e José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil, falaram algumas vezes ao telefone com Lula, que está na Europa, sobre a possibilidade de um "recuo do recuo" que vinha sendo articulado pelo governo.
Ao final do dia, foram marcadas duas reuniões com os governadores: a primeira na próxima terça-feira, e a outra no dia 22. Alguns dos participantes do chamado "núcleo duro" consideram que há pontos da reforma em que o governo não pode ceder.

Viagem
Para articular o recuo do recuo, Palocci cancelou sua ida ontem para o Rio de Janeiro, onde participaria de seminário promovido pelo Banco Central, e chegou a cogitar a possibilidade de não embarcar amanhã para a Espanha, onde encontrará Lula.
Em Brasília, dedicou-se a contatos políticos. Almoçou com o relator da comissão especial da reforma tributária na Câmara, Virgílio Guimarães (PT-MG). No final do dia, após falar com Lula, Palocci decidiu manter a viagem.
Palocci só foi informado do teor das negociações do governo para as mudanças na reforma da Previdência na quarta-feira passada, em encontro com o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini. Assim que tomou conhecimento das mudanças, iniciou um trabalho dentro do governo para reverter as negociações.
Tudo foi feito, porém, com discrição. Palocci não quer acrescentar mais uma perturbação ao já delicado ambiente político.
Outra preocupação é preservar a imagem do ministro, principal âncora da confiança do mercado financeiro no governo Lula.
O diagnóstico de alguns dos integrantes do "núcleo duro" é de que o governo vive hoje o pior momento, desde a sua posse. Em algumas conversas com políticos, Palocci tem defendido a tese de que o governo não pode perder o fio condutor que tem norteado a política econômica nesses primeiros seis meses.
Qualquer sinal de retrocesso, na opinião de alguns ministros do "núcleo duro", poria a perder toda a política traçada para conquistar a credibilidade da sociedade e do mercado.
Pioraria a situação o fato de que o recuo ocorre logo após os incidentes ocorridos no encontro de Lula com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e dos discursos desencontrados no episódio do reajuste da telefonia.


Colaborou GUSTAVO PATÚ da Sucursal de Brasília


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