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STF vê "desrespeito" de juiz e liberta Dantas pela 2ª vez
Presidente do Supremo diz que 2ª prisão determinada por Sanctis é "absurda"
Advogado de banqueiro afirma que seu cliente foi vítima de um "linchamento'; Dantas, que depôs ontem, foi à noite para casa, no Rio
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro
Gilmar Mendes, mandou soltar
ontem, pela segunda vez em
menos de 48 horas, o banqueiro
Daniel Dantas, do Opportunity,
preso na Operação Satiagraha
da Polícia Federal. Ele chamou
de "absurda" e "inaceitável" a
nova prisão anteontem e disse
que a atitude do juiz Fausto
Martin De Sanctis, da 6ª Vara
Criminal Federal de São Paulo,
"desrespeitou" decisão do Supremo. Dantas deixou a Superintendência da PF em São
Paulo às 20h25 de ontem. Meia
hora depois, embarcou em um
jatinho fretado rumo ao Rio,
onde chegou às 22h40. Às
23h16, estava em seu apartamento da av. Vieira Souto.
Segundo Mendes, Sanctis
"não indicou elementos concretos e individualizados, aptos
a demonstrar a necessidade da
prisão cautelar, atendo-se, tão-somente, a alusões genéricas".
O ministro afirmou que os argumentos do juiz são "especulativos" e representam "convicção íntima do magistrado".
O chefe do STF diz que o juiz
"externa sua crença na possibilidade de fuga do investigado
em razão de sua condição econômica e pelo fato de ter contatos no exterior, sem apontar
um único fato que, concretamente, demonstrasse a real tomada de providências pelo investigado visando à evasão".
"Vê-se que, no entendimento
do magistrado, a prisão preventiva teria como base a possibilidade de interferir o investigado
na colheita de provas outras
que apenas supõe possam existir, a configurar rematado absurdo, inaceitável em se tratando de tão grave medida restritiva de direito de ir e vir."
O advogado Nélio Machado,
que defende Dantas, afirmou
ontem à noite, ao deixar a sede
paulista da PF, que seu cliente
foi vítima de um "linchamento". "As circunstâncias da prisão corresponderam a um linchamento que não é compatível com a Constituição."
Questionado se ainda temia o
retorno de Dantas ao cárcere,
Machado respondeu: "A prisão
temporária foi repudiada e a
preventiva também. O direito
brasileiro, a rigor, só conhece
essas duas, além do flagrante.
Terão que inventar alguma coisa em uma nova legislação".
Dantas passou a tarde prestando depoimento na PF. Segundo Machado, ele se recusou
a responder às perguntas. "Foi
uma orientação minha. Não tivemos acesso às informações."
Para o delegado Protógenes
Queiroz, "a Polícia Federal
cumpriu mais uma vez seu dever cívico nacional", ao comentar a segunda ordem de soltura
de Dantas. Já o procurador da
República Rodrigo De Grandis
disse que "essa nova liminar
cria um foro privilegiado para
Daniel Dantas, o que a Constituição não contempla". O defensor do banqueiro rebateu:
"Acho lamentável que o Ministério Público critique uma decisão do STF. Essa é uma decisão que deve ser respeitada".
"Desrespeito"
Sobre o "desrespeito" do juiz
Sanctis ao STF, Mendes transcreve uma decisão de seu colega, ministro Celso de Mello, sobre um outro habeas corpus e
afirma que naquela situação o
juiz de São Paulo também contrariou o Supremo.
"O novo encarceramento do
paciente revela nítida via oblíqua de desrespeitar a decisão
deste Supremo Tribunal Federal", afirma Mendes. "Não é a
primeira vez que o juiz federal
titular da 6ª Vara Criminal da
Subseção Judiciária de São
Paulo, dr. Fausto Martin De
Sanctis, insurge-se contra decisão emanada desta Corte."
O presidente do STF já havia
criticado o juiz na primeira vez
que mandou libertar Dantas.
Na ocasião, ele argumentou,
por exemplo, que a prisão para
"fins de interrogatório" lembrou os tempos da ditadura.
Colaborou PAULO ARAÚJO , da Reportagem
Local
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