São Paulo, Segunda-feira, 12 de Julho de 1999
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TERCEIRO SETOR
Com tecnologia barata, ONGs asseguram água à população
Entidades desenvolvem "ilhas de prosperidade" no Nordeste

Ari Cipola/Folha Imagem
Barragem subterrânea é construída em Santa Maria da Boa Vista


ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

Com recursos vindos do exterior, ONGs (organizações não-governamentais) estão criando "ilhas de prosperidade" no sertão nordestino.
Essas entidades investiram mais de R$ 15 milhões na divulgação e implantação de tecnologias baratas que facilitam a convivência do sertanejo com a seca.
Nos núcleos constituídos por ONGs, as tecnologias mais difundidas são as cisternas -que custam R$ 300 cada uma e captam água de chuva no telhado das casas para o consumo de seis pessoas para oito meses sem chuva- e as barragens subterrâneas -que usam água de chuva para abastecer até dois hectares para a agricultura.
Ao percorrer 5.300 km no sertão, a reportagem da Agência Folha encontrou pessoas como Edite Ribeiro dos Passos, 55, seis filhos, que deixou de andar 9 km por dia (3.285 km por ano) carregando 35 litros de água, depois de ter instalado uma cisterna com capacidade para 15 mil litros ao lado da cozinha.
"A cisterna foi minha aposentadoria e a garantia de que não vou mais tomar água barrenta. Na seca do ano passado não tomei lama, como nas outras", afirmou.
Edite é moradora de Campo Alegre de Lourdes (900 km ao norte de Salvador), na Bahia, município que construiu 1.650 cisternas.
O agricultor Valdir João da Silva, 30, morador do sítio Lagoa Comprida, a 20 km do centro de Ouricuri (PE), não compra arroz há dois anos porque cultiva o grão em um hectare abastecido por uma barragem subterrânea, instalada em sua propriedade pela ONG Caatinga.
"A implantação de cisternas, barragens subterrâneas e de outras tecnologias apropriadas deixam claro que a seca não é imbatível e que o sertão pode garantir cidadania a seus moradores", afirmou o coordenador do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância e Adolescência) de Recife, Jacques Schwarzstein.
As tecnologias aplicadas pelas ONGs são baseadas na captação de água de chuva.
Representantes de 30 países trocaram experiências nesse sentido na semana passada, em Petrolina (PE), na 9ª Conferência Internacional sobre Sistemas de Captação de Água de Chuva.
O governo federal apóia o trabalho das ONGs, ainda que em pequena escala. Nos últimos 12 meses, investiu R$ 5 milhões na construção, em parceria com essas entidades, de cerca de 2.000 cisternas em escolas sertanejas que fechavam por não ter nenhum local de armazenamento de água, situação revelada há um ano pela Folha.


O jornalista Ari Cipola viajou a convite do Unicef e do Irpaa (Instituto da Pequena Agropecuária Apropriada)


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