São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2000


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INVESTIGAÇÃO
Jaime de Souza diz que fazia pagamentos e levava Monteiro de Barros a hotéis, mas não a ministérios
Motorista da Incal diz que recebia fax de ex-juiz foragido

Lula Marques/Folha Imagem
O carro que o motorista diz estar em nome de sua filha, cuja placa tem as iniciais do dono da Incal


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Durante 15 anos, o motorista Jaime de Souza prestou serviços a Fábio Monteiro de Barros, em Brasília. Entre 1985 e 1998, Souza foi uma espécie de faz-tudo do empresário responsável pela obra superfaturada do Fórum Trabalhista de São Paulo.
Souza prestou depoimento na Polícia Federal e no Ministério Público, em Brasília. Causou expectativa entre os investigadores que tentam descobrir o destino dos R$ 169 milhões desviados.
Poderia ser um novo Eriberto França, o motorista que contou os detalhes da rede montada pelo empresário Paulo César Farias. As declarações de França foram decisivas para o pedido de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. Souza frustrou as expectativas.
Morador da cidade-satélite de Taguatinga, o motorista cinquentenário disse aos procuradores que recebia em sua casa fax do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto e os entregava a Monteiro de Barros, quando das andanças do empresário pela capital federal.
Na ausência do chefe, Souza pagava as contas do escritório de Monteiro de Barros, na sala 222 do edifício Miguel Badia, no Setor Comercial Sul.
Quando o empresário chegava a Brasília, Souza o pegava no aeroporto. O motorista conta que conduzia o chefe a restaurantes e hotéis, mas diz não se lembrar de tê-lo conduzido a ministérios ou ao TST (Tribunal Superior do Trabalho), o último órgão pelo qual passava o dinheiro antes de ser destinado à obra em São Paulo.
A filha de Souza, Shirley Kátia, trabalhou como secretária de Monteiro de Barros no escritório de Brasília, por mais de três anos. Ganhava R$ 800 mensais. Hoje, segundo o próprio pai, ela está desempregada.
Entre os bens da família, está um Santana 1989, placa FMB 0047, iniciais de Fábio Monteiro de Barros. De acordo com o depoimento de Souza ao Ministério Público, o carro pertence a sua filha, Shirley Kátia.
O motorista também disse ter recebido mais de mil ligações de Monteiro de Barros entre 1991 e 1999. E que, quando se apresentou para depor na PF, foi acompanhado da advogada Renata Barbosa Araújo, "contratada pelo senhor Fábio Monteiro de Barros".
Hoje, Souza dirige um carro-pipa, um caminhão Mercedes-Benz, ano 1987, segundo ele comprado por R$ 30 mil há dois anos. Além do caminhão, ele possui, segundo declarou ao Ministério Público, a casa em Taguatinga e um terreno rural de 10 mil m2 em Brasília, adquirido por R$ 3.000.
"Tudo que eu tinha a dizer já disse ao Ministério Público e à Polícia Federal. Nunca fiz nada de errado", disse Souza à Folha.


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