São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2000


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RUMO A 2002
Se vingar idéia de Fernando Henrique Cardoso de escolher nome até abril, disputa fica entre Tasso e Serra
Covas rejeita antecipar candidato aliado

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), reagiu mal à intenção de Fernando Henrique Cardoso de escolher até abril do ano que vem o candidato presidencial da aliança governista para a eleição de 2002.
Segundo a Folha apurou, FHC não combinou o plano com Covas, que tem se mostrado contrariado com o fato de o presidente e tucanos brasilienses o julgarem carta fora do baralho para 2002.
Covas diz publicamente que não deseja ser candidato, mas seus auxiliares mais próximos afirmam que ele não sepultou de vez o projeto presidencial.
A depender da saúde (teve câncer recentemente) e de uma sonhada recuperação da popularidade de seu governo, Covas poderia, como em 1998, aceitar ser candidato docemente constrangido. Naquele ano, ele disputou a reeleição depois de passar meses negando a candidatura.
Há mais um motivo para a contrariedade de Covas. Mesmo que não seja o candidato, ele quer influir decisivamente na indicação do nome do PSDB, partido que, a exemplo de 1994 e 1998, deve fornecer o cabeça de chapa da coligação, seja em aliança com o PFL e o PMDB ou com apenas uma dessas duas siglas que hoje apóiam o governo.
Os assessores do presidente avaliam que Covas ficou contrariado com o empenho de FHC pela reeleição. De certa forma, o presidente tirou de Covas a chance de ser candidato. Aos 72 anos, o governador sabe das dificuldades para isso. Se não puder disputar, não vai querer deixar FHC definir o plano de vôo do PSDB em 2002.
No entanto, se decidir ser candidato pelo PSDB, Covas não enfrentará resistência no partido. FHC disse isso a interlocutores recentemente, mas em tom de quem não crê na candidatura.
A antecipação da escolha de um candidato, cogitada por FHC para depois de uma reforma ministerial e da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado em 2001, tira de Covas a chance de disputar, caso o queira mais tarde.
Auxiliares do governador afirmam que, do ponto de vista dele, o ideal seria tomar uma decisão no final do ano que vem ou no começo de 2002.
Se vingar o cronograma de FHC, a disputa no PSDB hoje se afunilaria entre o governador do Ceará, Tasso Jereissati, e o ministro da Saúde, José Serra. Na última pesquisa Datafolha, Serra teve 6%. Covas, 5%. Tasso, 2%.
A Folha apurou que Tasso combinou com Covas decidir em conjunto o jogo para 2002. Tucanos dizem que Tasso quer concorrer, mas tem dificuldade de assumir logo isso. Já foi dito a Tasso que, quanto mais adiar isso, menor será a chance de desbancar Ciro.
No PSDB e no Palácio do Planalto, há dúvida quanto à disposição de Tasso de enfrentar Ciro Gomes, o presidenciável do PPS e um dos motivos para FHC querer antecipar a escolha do candidato governista a seu sucessor. Tasso é visto como o tucano que mais estrago causaria a Ciro, talvez até tirando-o da disputa.
Com 17% ou 18% no Datafolha, Ciro gera no Planalto o temor de que ele se transforme no candidato da maioria do empresariado e da mídia. Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, teve 27% no mesmo levantamento, mas não teria o mesmo grau de articulação no establishment que Ciro.
Serra, que trabalha para ser candidato a presidente (projeto preferencial) ou disputar o governo paulista, também desejaria apressar a definição de um nome.
Apressar não significa assumir publicamente a candidatura, mas definir um nome a ser trabalhado nos bastidores, especialmente junto ao empresariado e à mídia.
Com a imagem de um bom gestor no Ministério da Saúde e a antecipação da escolha, ainda que de maneira oficiosa, Serra conseguiria tempo para tentar se viabilizar como a alternativa a Lula e a Ciro. Quanto mais tarde entrar em campo, mais tempo daria a Ciro para se consolidar, por exemplo.
Se Tasso tem melhor trânsito no PFL, Serra está mais próximo do PMDB. Também poderia oferecer o apoio de um partido forte.


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