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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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JANIO DE FREITAS

Os privilegiados

As "reformas" de Luiz Inácio Lula da Silva são as privatizações de Fernando Henrique Cardoso. Nada resolvem em troca do que agravam, para muita gente e para o país.
As privatizações merecem hoje o consenso de que agravaram as dificuldades econômicas da população, com os brutais aumentos de preços e tarifas e com o acréscimo que têm feito ao desemprego. A "reforma" previdenciária de Lula provoca aposentadorias antecipadas no nível mais qualificado do serviço público, desestimula a restauração dos combalidos quadros científicos e técnicos do Estado e tudo o que consegue, com a redução de 11% em aposentadorias atuais, é economizar uma importância que nada significa no governo: estimada em R$ 1,1 bi, se chegar a tanto, que nada mais é do que R$ 91,6 milhões por mês. Ou seja, menos do que o lucro de um único banco graúdo, um só, em 21 dias úteis. Muito, muito menos do que os mal conhecidos gastos da Presidência da República com as verbas de representação, as viagens propagandísticas e as mordomias ilimitadas.
Para dar um toque a mais de brasilidade nesta "reforma", com a qual o governo Lula se disse investindo contra "os privilegiados" do serviço público, sua aprovação é feita por ninguém menos do que os maiores privilegiados do país. Ninguém ganha mais, relativamente, do que os deputados federais. Votações? Só na quarta-feira, porque segunda, terça, quinta e sexta são dias também úteis só para o restante da população. Férias? Três meses, quer dizer, um quarto do ano, antes idênticas às férias escolares, agora maiores. Apartamento, auxílio moradia, contas de telefones, combustível, passagens aéreas semanais, assessores e "assessores" em Brasília e nos respectivos Estados e - já que se fala de Previdência - a menor exigência de tempo de serviço (?) para obter a mais sorridente aposentadoria. Sem contar as nomeações para parentes e cabos-eleitorais, que continuam sendo, também no governo Lula, o argumento convincente para obter apoio parlamentar.
No Judiciário há corruptos, incompetentes, irresponsáveis, preguiçosos, tal como no jornalismo, entre advogados e médicos, nas Forças Armadas, na hierarquia das igrejas. Mas a regra geral não é essa no Judiciário nem no serviço público em geral, a não ser na ótica preconceituosa e ondeira da imprensa brasileira. O mesmo não se pode dizer de bem uns dois terços da Câmara, o que lhe daria a autoridade moral necessária para falar de privilégios no Judiciário e em qualquer outro setor do Estado.


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