|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DO "MENSALINHO"
Ministro confirma ter ido à casa do deputado, mas porque fora convidado; pepistas acreditam que petista foi transmitir apoio do Planalto
Wagner nega ter ido dar apoio a Severino
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de o Palácio do Planalto
ter manifestado reservadamente a
intenção de abandonar Severino
Cavalcanti (PP-PE) à própria sorte, o coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner,
foi pessoalmente à casa do presidente da Câmara momentos antes da entrevista coletiva que este
concedeu para se defender.
Há duas versões para a conversa. Na dos aliados de Severino,
Wagner foi transmitir o apoio do
Planalto, afirmando que a Abin
(Agência Brasileira de Inteligência) apurou as denúncias e concluiu como "sem pé nem cabeça".
Isso seria um alívio para o Planalto, que teme que o afastamento do atual presidente da Câmara
servisse para favorecer a oposição
e enfraquecer Luiz Inácio Lula da
Silva a pouco mais de um ano da
sucessão presidencial.
Já na versão do próprio Jaques
Wagner, repassada por sua assessoria, o ministro só foi à casa de
Severino porque havia sido convidado por ele e não teria como negar um encontro com o presidente de outro Poder. Wagner nega
que tenha ido dar apoio.
O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, ao qual a
Abin é vinculada, desmente que
tenha investigado as acusações
contra Severino. Diz não poder
atestar sua inocência nem culpa.
Segundo testemunhas, o encontro não foi demorado e serviu
também para Severino pedir uma
audiência com Lula, com quem
tem mantido boas relações desde
o início da crise e antes de as denúncias atingirem Severino.
Na versão dos pepistas, Wagner
concordou com a avaliação de
que a oposição está tirando vantagem política do episódio. Caso Severino se afaste temporariamente,
assumiria interinamente o pefelista José Thomaz Nonô (AL).
"A oposição não é tão pura e
santa assim. A proposta de afastar
Severino desde o início tinha o
objetivo de aumentar o poder da
oposição na Mesa [da Casa]", afirmou Arlindo Chinaglia (PT-SP),
líder do governo na Casa. Ele diz,
entretanto, que não conversou
com Wagner sobre o encontro.
Versão do Planalto
Segundo o Planalto, o ministro
ouviu a defesa e os argumentos de
Severino e o incentivou a dar a entrevista e defender sua honra. Porém com um cuidado: não dizer
nada que pudesse ser desmentido
adiante. Ele lembrou a Severino
que as apurações continuavam,
inclusive a da Polícia Federal.
Nessa versão, Wagner não levou apoio, e sim manifestou "independência" diante da crise de
um outro Poder.
"O presidente de um Poder solicitou uma conversa com Lula,
não há nada de mais nisso. O PT
defende que o governo não tem
que ter nenhuma participação na
solução dessa crise específica, que
é do Parlamento", disse Henrique
Fontana (RS), líder da bancada do
PT, que conversou com Wagner.
Quando surgiram as acusações
contra Severino, o Planalto adotou uma posição de apoio a ele
porque o considerava um aliado
importante na condução da crise.
Depois do depoimento em que o
empresário Sebastião Augusto
Buani detalhou o suposto esquema de propina, o Palácio recuou.
O próprio Wagner vinha defendendo dentro do governo a tese
de que Severino não tinha mais
condições de ficar no cargo. E até
já discutia nomes para substitui-lo. Depois da enfática negativa de
Severino, o clima é de espera para
ver qual versão resistirá: a de Severino ou a de Buani.
(ELIANE CANTANHÊDE E RANIER BRAGON)
Texto Anterior: Íntegra: Deputado diz que lutará e mostrará sua inocência Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/ CPI dos correios: Deputados ligaram para SMPB de 2003 a 2005 Índice
|