São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DO "MENSALINHO"

Ministro confirma ter ido à casa do deputado, mas porque fora convidado; pepistas acreditam que petista foi transmitir apoio do Planalto

Wagner nega ter ido dar apoio a Severino

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de o Palácio do Planalto ter manifestado reservadamente a intenção de abandonar Severino Cavalcanti (PP-PE) à própria sorte, o coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner, foi pessoalmente à casa do presidente da Câmara momentos antes da entrevista coletiva que este concedeu para se defender.
Há duas versões para a conversa. Na dos aliados de Severino, Wagner foi transmitir o apoio do Planalto, afirmando que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) apurou as denúncias e concluiu como "sem pé nem cabeça".
Isso seria um alívio para o Planalto, que teme que o afastamento do atual presidente da Câmara servisse para favorecer a oposição e enfraquecer Luiz Inácio Lula da Silva a pouco mais de um ano da sucessão presidencial.
Já na versão do próprio Jaques Wagner, repassada por sua assessoria, o ministro só foi à casa de Severino porque havia sido convidado por ele e não teria como negar um encontro com o presidente de outro Poder. Wagner nega que tenha ido dar apoio.
O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, ao qual a Abin é vinculada, desmente que tenha investigado as acusações contra Severino. Diz não poder atestar sua inocência nem culpa.
Segundo testemunhas, o encontro não foi demorado e serviu também para Severino pedir uma audiência com Lula, com quem tem mantido boas relações desde o início da crise e antes de as denúncias atingirem Severino.
Na versão dos pepistas, Wagner concordou com a avaliação de que a oposição está tirando vantagem política do episódio. Caso Severino se afaste temporariamente, assumiria interinamente o pefelista José Thomaz Nonô (AL).
"A oposição não é tão pura e santa assim. A proposta de afastar Severino desde o início tinha o objetivo de aumentar o poder da oposição na Mesa [da Casa]", afirmou Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Casa. Ele diz, entretanto, que não conversou com Wagner sobre o encontro.

Versão do Planalto
Segundo o Planalto, o ministro ouviu a defesa e os argumentos de Severino e o incentivou a dar a entrevista e defender sua honra. Porém com um cuidado: não dizer nada que pudesse ser desmentido adiante. Ele lembrou a Severino que as apurações continuavam, inclusive a da Polícia Federal.
Nessa versão, Wagner não levou apoio, e sim manifestou "independência" diante da crise de um outro Poder.
"O presidente de um Poder solicitou uma conversa com Lula, não há nada de mais nisso. O PT defende que o governo não tem que ter nenhuma participação na solução dessa crise específica, que é do Parlamento", disse Henrique Fontana (RS), líder da bancada do PT, que conversou com Wagner.
Quando surgiram as acusações contra Severino, o Planalto adotou uma posição de apoio a ele porque o considerava um aliado importante na condução da crise. Depois do depoimento em que o empresário Sebastião Augusto Buani detalhou o suposto esquema de propina, o Palácio recuou.
O próprio Wagner vinha defendendo dentro do governo a tese de que Severino não tinha mais condições de ficar no cargo. E até já discutia nomes para substitui-lo. Depois da enfática negativa de Severino, o clima é de espera para ver qual versão resistirá: a de Severino ou a de Buani. (ELIANE CANTANHÊDE E RANIER BRAGON)

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