|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS CORREIOS
Quebras telefônicas da CPI revelam contato de três deputados do PT, PL e PP, com agência de Valério, envolvida em esquema de caixa 2
Deputados ligaram para SMPB de 2003 a 2005
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Telefonemas trocados entre os
principais investigados no escândalo do "mensalão", em poder da
CPI dos Correios, complicam a situação de pelo menos três deputados federais ameaçados de cassação: José Janene (PP-PR), Professor Luizinho (PT-SP) e Sandro
Mabel (PL-GO).
O telefone celular de Janene e os
aparelhos dos gabinetes de Luizinho e Mabel, na Câmara dos Deputados, receberam ou fizeram
chamadas entre 2003 e 2005 para
a principal empresa envolvida no
esquema de caixa dois montado
pelo PT, a SMPB Comunicação,
de Belo Horizonte (MG).
Os dados constam de um CD
com cerca de 25.000 páginas com
os registros telefônicos, ao qual a
Folha teve acesso.
As chamadas para o gabinete de
Luizinho são as que mais comprometem sua defesa. O parlamentar tem dito que o saque de
R$ 20 mil em nome de seu assessor, José Nilson dos Santos, em
dezembro de 2003, fora uma ação
pontual e de "iniciativa" do próprio funcionário.
A quebra do sigilo telefônico revela, no entanto, chamadas dadas
e recebidas em junho, julho, agosto e dezembro daquele ano. Houve pelo menos 13 telefonemas entre 22 e 23 de dezembro de 2003
para seu gabinete, em Brasília. O
saque de R$ 20 mil ocorreu no dia
23 daquele ano numa agência da
av. Paulista, em São Paulo.
Na defesa prévia incorporada
ao relatório preliminar da CPI dos
Correios, Professor Luizinho havia atribuído tudo ao próprio funcionário, eximindo-se de qualquer ligação com o saque : "(...) O
referido militante entrou em contato com Delúbio [tesoureiro do
PT], por sua própria iniciativa,
para tratar da ajuda financeira e,
seguindo orientação recebida, retirou da agência do Banco Rural
na avenida Paulista a quantia de
R$ 20.000,00".
As ligações para o gabinete do
deputado Sandro Mabel, na Câmara, também indicam a possibilidade de um contato entre o parlamentar e a agência do publicitário Marcos Valério Fernandes de
Souza. O gabinete recebeu nove
chamadas entre 3 de março e 14
de setembro de 2004.
Mabel entrou no relatório da
CPI como candidato à cassação
de mandato pelo testemunho da
colega de Goiás Raquel Teixeira
(PSDB). Ela afirma ter sido procurada pelo líder do PL com uma
proposta de mudar de partido em
troca de dinheiro.
Mabel insistiu em que não conhece o publicitário mineiro. Ele
atribuiu os contatos da SMPB
com seu gabinete a ofertas de
campanhas de publicidade feitas
por um conhecido da família a
sua fábrica de biscoitos.
Na lista dos telefonemas, o deputado José Janene (PP-PR) aparece como o único parlamentar
que teve seu telefone celular identificado nominalmente. Na lista
em poder da CPI, o nome do líder
do PP está grafado equivocadamente como "Jenene" (não aparecerá num sistema de busca digital). O número do CPF em nome
de "Jenene" é o do deputado pepista, que reconheceu ter usado o
celular apontado na listagem. Ouvido ontem, Janene reconheceu
que manteve as conversas com o
próprio Marcos Valério.
Agência DNA
O relatório dos telefonemas
também revela dois contatos da
agência DNA com o gabinete do
deputado Osmar Serraglio
(PMDB-PR), relator da CPI dos
Correios, em maio de 2004.
Segundo o relator, as ligações
ocorreram porque a ADI (Associação dos Diários do Interior),
cujo presidente é de Umuarama
(PR), base eleitoral de Serraglio,
procurou o gabinete em busca de
explicações do Banco do Brasil
sobre os critérios de distribuição
de anúncios da estatal.
Os jornais do interior queriam
maior participação nas verbas de
publicidade. A conta do BB é da
DNA. A partir disso, segundo Serraglio, a DNA procurou ele e os
parlamentares para defender seu
sistema de distribuição de verbas
publicitárias.
Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/ a hora do "mensalinho": Wagner nega ter ido dar apoio a Severino Próximo Texto: Outro lado: Ligações se deram por razão comercial, dizem 2 deputados Índice
|