São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 2005

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CASO MALUF

Entre privilégios de ex-prefeito na sede da PF estão visitas fora de dia permitido e direito a ligações telefônicas

Polícia concede regalias a Maluf na prisão

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao contrário das normas comuns aos presos da Polícia Federal, o ex-prefeito Paulo Maluf, detido no início da madrugada de sábado, recebeu visitas, telefonemas e, segundo um assessor, tem à disposição um telefone fixo.
A autorização para receber visitas foi uma exceção aberta pelo delegado-regional Rodnei Loureiro dos Santos, segundo na hierarquia da Superintendência da PF em São Paulo.
Por cerca de duas horas, Maluf e Flávio receberam na ante-sala da custódia os advogados José Roberto Leal (criminalista) e Ricardo Tosto (cível). Conversaram sobre o habeas corpus, com o qual pretendem entrar hoje ou amanhã, e sobre a situação da empresa Eucatex, da família Maluf.
Tosto pediu a assinatura de Flávio em uma procuração para que ele transfira a administração à diretoria da empresa. "Sem isso, a empresa pára", disse Simone Carrera, diretora da Brascorp, dos Maluf, barrada ao visitar Maluf.
A PF informou que não é incomum que pessoas presas no final de semana recebam seus advogados. Quanto ao telefone, disseram que também foi aberta exceção para Maluf conversar com o deputado Antonio Salim Curiati, anteontem, e com o amigo Jesse Ribeiro, ontem. Garantiram, no entanto, que o ex-prefeito não tem um telefone à disposição.
A informação havia sido dada pelo secretário particular de Maluf, Roque Carneiro, que visitou o ex-prefeito ontem, às 9h45. Carneiro, que levou torradas e mel, disse que pai e filho estavam ótimos, cada um deles em uma sala com banheiro privativo, copa, telefone fixo e TV.
"O tratamento é diferenciado porque Paulo Maluf, além de ter sido governador e prefeito, é formado em Engenharia, assim como seu filho. Portanto, não é um preso comum", afirmou Carneiro a jornalistas.
A afirmação do assessor, que trabalha com Maluf há 38 anos, foi rapidamente desmentida por advogados e pela própria PF. "Maluf está em uma cela pequena. Não tem qualquer regalia. Carneiro não pode ter afirmado isso, porque não entrou na custódia", disse José Roberto Leal.
Maluf e Flávio realmente passaram a ocupar, a partir da noite de anteontem, celas separadas.
Procurado pela Folha, Carneiro disse que foi mal-interpretado, que não entrou na custódia. Deixou a comida na portaria da PF.
Jesse Ribeiro, que falou com Maluf ontem por telefone, disse ter ligado para um aparelho fixo da PF. A ligação foi transferida.
À tarde, Ribeiro, ex-presidente do diretório municipal do PP, foi à sede da PF e afirmou que, graças a uma autorização especial, conseguiu falar com Maluf.
"Ele está em uma sala pequena, com uma cama estreita do lado esquerdo e um banheiro pequeno do lado direito, sem televisão, sem telefone, sem jornal. Ele não está confortável, não há privilégios", disse Ribeiro.
Segundo ele, o ex-prefeito está magoado com a situação e com saudades de falar com os jornalistas. "Maluf está abatido com a prisão, mas garante que será candidato em 2006", afirmou.
À tarde, a mulher de Flávio, Jacqueline, permaneceu no prédio por cerca de uma hora. Ela entrou levando uma sacola.
A custódia da PF de SP, com dez celas especiais e 15 comuns, abriga hoje cerca de 70 presos.

Recurso
Advogados do ex-prefeito e de Flávio deverão ter acesso hoje ao conteúdo do pedido de prisão da juíza da 2ª Vara Federal de São Paulo, Sílvia Maria Rocha. Somente após ler o documento, é que irão recorrer ao TRF (Tribunal Regional Federal).
"Se eu entrar com um habeas corpus sem conhecer o conteúdo da denúncia [acusação formal do Ministério Público], estarei dando um tiro aleatório, sem saber o alvo", afirmou Leal.
O advogado explicou que o fórum fechou às 19h de sexta-feira e só reabrirá hoje. Como a prisão de Maluf e Flávio foi decretada no final da noite de sexta, não houve tempo hábil para obter uma cópia da ordem judicial.
A juíza determinou a prisão por entender que, em liberdade, pai e filho poderiam atrapalhar o período de instrução penal, quando são ouvidas as testemunhas de defesa e de acusação. Esse período é fixado em 81 dias, tempo que pode durar a prisão preventiva.
Rocha baseou-se em escutas telefônicas que revelam uma suposta tentativa de Flávio em impedir o depoimento de Vivaldo Alves, o Birigüi, citado como o doleiro da família no exterior. Maluf e filho são réus em processo por lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha e corrupção. A soma das penas mínimas é de oito anos.


Colaborou Marcos D'Ávila

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