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CASO MALUF
Entre privilégios de ex-prefeito na sede da PF estão visitas fora de dia permitido e direito a ligações telefônicas
Polícia concede regalias a Maluf na prisão
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao contrário das normas comuns aos presos da Polícia Federal, o ex-prefeito Paulo Maluf, detido no início da madrugada de
sábado, recebeu visitas, telefonemas e, segundo um assessor, tem
à disposição um telefone fixo.
A autorização para receber visitas foi uma exceção aberta pelo
delegado-regional Rodnei Loureiro dos Santos, segundo na hierarquia da Superintendência da
PF em São Paulo.
Por cerca de duas horas, Maluf e
Flávio receberam na ante-sala da
custódia os advogados José Roberto Leal (criminalista) e Ricardo Tosto (cível). Conversaram sobre o habeas corpus, com o qual
pretendem entrar hoje ou amanhã, e sobre a situação da empresa Eucatex, da família Maluf.
Tosto pediu a assinatura de Flávio em uma procuração para que
ele transfira a administração à diretoria da empresa. "Sem isso, a
empresa pára", disse Simone Carrera, diretora da Brascorp, dos
Maluf, barrada ao visitar Maluf.
A PF informou que não é incomum que pessoas presas no final
de semana recebam seus advogados. Quanto ao telefone, disseram
que também foi aberta exceção
para Maluf conversar com o deputado Antonio Salim Curiati,
anteontem, e com o amigo Jesse
Ribeiro, ontem. Garantiram, no
entanto, que o ex-prefeito não
tem um telefone à disposição.
A informação havia sido dada
pelo secretário particular de Maluf, Roque Carneiro, que visitou o
ex-prefeito ontem, às 9h45. Carneiro, que levou torradas e mel,
disse que pai e filho estavam ótimos, cada um deles em uma sala
com banheiro privativo, copa, telefone fixo e TV.
"O tratamento é diferenciado
porque Paulo Maluf, além de ter
sido governador e prefeito, é formado em Engenharia, assim como seu filho. Portanto, não é um
preso comum", afirmou Carneiro
a jornalistas.
A afirmação do assessor, que
trabalha com Maluf há 38 anos,
foi rapidamente desmentida por
advogados e pela própria PF.
"Maluf está em uma cela pequena. Não tem qualquer regalia.
Carneiro não pode ter afirmado
isso, porque não entrou na custódia", disse José Roberto Leal.
Maluf e Flávio realmente passaram a ocupar, a partir da noite de
anteontem, celas separadas.
Procurado pela Folha, Carneiro
disse que foi mal-interpretado,
que não entrou na custódia. Deixou a comida na portaria da PF.
Jesse Ribeiro, que falou com
Maluf ontem por telefone, disse
ter ligado para um aparelho fixo
da PF. A ligação foi transferida.
À tarde, Ribeiro, ex-presidente
do diretório municipal do PP, foi
à sede da PF e afirmou que, graças
a uma autorização especial, conseguiu falar com Maluf.
"Ele está em uma sala pequena,
com uma cama estreita do lado
esquerdo e um banheiro pequeno
do lado direito, sem televisão, sem
telefone, sem jornal. Ele não está
confortável, não há privilégios",
disse Ribeiro.
Segundo ele, o ex-prefeito está
magoado com a situação e com
saudades de falar com os jornalistas. "Maluf está abatido com a prisão, mas garante que será candidato em 2006", afirmou.
À tarde, a mulher de Flávio, Jacqueline, permaneceu no prédio
por cerca de uma hora. Ela entrou
levando uma sacola.
A custódia da PF de SP, com dez
celas especiais e 15 comuns, abriga hoje cerca de 70 presos.
Recurso
Advogados do ex-prefeito e de
Flávio deverão ter acesso hoje ao
conteúdo do pedido de prisão da
juíza da 2ª Vara Federal de São
Paulo, Sílvia Maria Rocha. Somente após ler o documento, é
que irão recorrer ao TRF (Tribunal Regional Federal).
"Se eu entrar com um habeas
corpus sem conhecer o conteúdo
da denúncia [acusação formal do
Ministério Público], estarei dando um tiro aleatório, sem saber o
alvo", afirmou Leal.
O advogado explicou que o fórum fechou às 19h de sexta-feira e
só reabrirá hoje. Como a prisão de
Maluf e Flávio foi decretada no final da noite de sexta, não houve
tempo hábil para obter uma cópia
da ordem judicial.
A juíza determinou a prisão por
entender que, em liberdade, pai e
filho poderiam atrapalhar o período de instrução penal, quando
são ouvidas as testemunhas de
defesa e de acusação. Esse período
é fixado em 81 dias, tempo que
pode durar a prisão preventiva.
Rocha baseou-se em escutas telefônicas que revelam uma suposta tentativa de Flávio em impedir
o depoimento de Vivaldo Alves, o
Birigüi, citado como o doleiro da
família no exterior. Maluf e filho
são réus em processo por lavagem
de dinheiro, evasão de divisas,
formação de quadrilha e corrupção. A soma das penas mínimas é
de oito anos.
Colaborou Marcos D'Ávila
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