São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 2005

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CASO MALUF

Uso de algemas e presença de jornalista entre policiais são questionados

PF irá apurar abusos durante operação que prendeu Flávio

DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor-geral da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, informou ontem que irá determinar a abertura de um procedimento interno para apurar se houve irregularidades e constrangimento ilegal no momento da prisão de Flávio Maluf, filho do ex-prefeito Paulo Maluf (PP).
No momento em que Flávio foi algemado, na manhã de sábado, o jornalista da TV Globo César Tralli filmava a cena. Usava um boné preto, colete e calça beges e óculos escuros -trajes que o levaram a ser confundido com os demais policias da PF pelo réu e por seu advogado, José Roberto Batochio.
A ordem de prisão do ex-prefeito e de Flávio foi decretada na noite de sexta-feira. Os advogados dos Maluf, antes de terem acesso à ordem de prisão, negociaram que os dois se entregariam espontaneamente, sem a necessidade de uma operação policial.
A responsabilidade pela operação que culminou com a prisão dos Maluf, informou a PF, era do delegado Protógenes Queiroz.
Por meio de sua assessoria, Lacerda disse que as circunstâncias serão apuradas, desde a presença de um jornalista em local de ação da PF até o transporte dele em carro da polícia. Tralli foi do heliporto, onde Flávio foi algemado, até a sede da PF dentro de um dos carros do comboio policial.
Maluf chegou à sede da PF por volta das 0h20 de sábado. Flávio, que estava em uma fazenda em Dourado, a 278 km de São Paulo, havia prometido entregar-se pela manhã, por volta das 7h, no heliponto do Morumbi.
Ainda na fazenda, às 5h, Flávio foi abordado por agentes da PF, que viajaram com ele para São Paulo. Ao descer do helicóptero, Flávio foi abordado pelo jornalista que, disfarçado entre os policiais, portava uma câmera de vídeo nas mãos.
"E essa filmagem?" perguntou Flávio, sem obter resposta. Quando ele se dirigia para o carro da polícia, sempre sendo filmado, veio a ordem das algemas. "Isso não foi o combinado", protestou Flávio. "Agora você é um preso da Polícia Federal. Este é o nosso padrão", informou um policial.
Após ser colocado no banco de trás do carro da polícia, Flávio ensaiou uma tentativa de fechar a porta, mas não conseguiu.
"O senhor pode fechar a porta para mim?" perguntou Flávio ao repórter que, ainda com a câmera no ombro, atendeu ao pedido. Minutos antes, questionado por Tralli sobre sua situação, Flávio disse estar "tranqüilo".
Depois que os carros atravessaram o portão da sede da PF, todos desceram dos carros, inclusive Tralli, que se misturou aos policiais. Na ante-sala, o repórter ainda filmou Flávio assinando a ordem de prisão e registrou quando ele chorou ao falar com a mulher, Jacqueline, de um telefone na ante-sala da carceragem.
Após manter-se em silêncio diante das perguntas, Flávio resolveu falar, aconselhado por Batochio. "Fale, será melhor para você." Foi quando o filho do ex-prefeito disse confiar na Justiça. Ele negou ter tentado impedir o depoimento do doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, à Polícia Federal.

Globo
A direção da TV Globo, por meio da assessora Mônica Albuquerque, da Central Globo de Comunicação, informou que César Tralli não estava vestido com roupas da PF. Segundo ela, Tralli vestia camiseta branca e uma jaqueta preta da marca Hugo Boss.
A emissora disse que Tralli estava no local "fazendo seu trabalho, como qualquer outro repórter".

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