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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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EDUCAÇÃO EM TRANSE

Não a projeto que inclui portador de deficiência de instituição privada no Fundef revoltou até petistas

Lula veta benefício para alunos deficientes

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de uma semana após os protestos no Congresso por causa da medida que obrigou pessoas com 90 anos ou mais a comparecerem a postos do INSS para provar estarem vivas, outra decisão do governo na área social -desta vez na educação- provocou ontem indignação na Casa.
Desta vez, as críticas foram contra o veto do presidente Lula ao projeto de lei que inclui alunos portadores de deficiência matriculados em instituições privadas sem fins lucrativos no cálculo do Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério). O fundo redistribui recursos de União, Estados e municípios de acordo com o número de matrículas na rede pública.
O veto integral foi publicado ontem no "Diário Oficial" da União e pegou de surpresa não só parlamentares como o próprio Ministério da Educação.
O projeto, aprovado por unanimidade na Câmara dos Deputados, em 2002, e no Senado, em 24 de outubro deste ano, incluiria no Fundef alunos de entidades como Apaes (Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais).
Atualmente, portadores de deficiência matriculados em escolas estaduais e municipais já são contabilizados no cálculo do Fundef.
Segundo o despacho presidencial, o projeto foi vetado "por contrariar o interesse público". Logo no início da justificativa, o governo diz que o projeto implica "impacto orçamentário-financeiro para a União" e que poderia comprometer "não só as metas de resultados primários, mas de todo o ajuste fiscal".
De acordo com o Ministério da Fazenda, a implantação da medida implicaria aumento anual de despesas da União com o Fundef da ordem de R$ 8,7 milhões. Esse valor corresponde a 2% do que a União injetará neste ano no Fundef, previsto em R$ 437 milhões.
Só ao final da justificativa é que o governo lembra também que o projeto estava sendo vetado porque contraria a orientação inicial do Fundef, que prevê a destinação de recursos para a rede pública.
"Chega! Essa foi a gota d'água. Como senador de um partido que tinha o compromisso de defender os brasileiros marginalizados, sinto-me envergonhado. [...] O governo poderia até ser processado por discriminação", afirmou o petista Flávio Arns (PR), ex-presidente nacional das Apaes. Como deputado, Arns foi relator do projeto, de autoria do deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), que também reagiu.
"Foi mais uma demonstração do governo federal de falta de sensibilidade política e compromisso com a justiça social", disse Barbosa, também ex-presidente nacional das Apaes.
"Fico pensando como um ministro da Fazenda pode levar uma bobagem dessas para o presidente assinar", disse Arns. "Qual é o interesse público do governo se não é atender ao brasileiro marginalizado? É atender ao FMI?"
O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), demonstrou estranhar o veto. "Temos que corrigir [o veto], porque o reconhecimento da educação de pessoas portadoras de deficiências é muito importante do ponto de vista da cidadania", disse.

Convocação
A notícia do veto de Lula provocou protestos na reunião de ontem da Comissão de Educação do Senado, que, em decisão inédita, aprovou a convocação do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) para prestar esclarecimentos.
O Ministério da Educação informou que existem no país 175.413 alunos especiais de escolas especializadas, 91.344 na rede pública. Para atender aos 84.069 alunos fora desse grupo, o governo calcula que a despesa do Fundef aumentaria em R$ 41 milhões por ano, dos quais R$ 8,7 milhões seriam complementados pela União.
A iniciativa de convocar Palocci foi do senador Hélio Costa (PMDB-MG), vice-líder do governo. No plenário, as senadoras Serys Slhessarenko (PT-MT) e Heloísa Helena (PT-AL) defenderam que o Congresso se reúna e derrube o veto presidencial.


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