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URÂNIO BAIANO
Líquido é misturado a ácido sulfúrico; empresa diz não haver problema
Solo recebe água de decantação
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAETITÉ (BA)
A unidade baiana da INB costuma despejar no solo a água
usada na decantação do urânio
-última etapa antes de o produto deixar a mina que fica em
Caetité (757 km de Salvador).
Nessa fase, a água é misturada
a um produto tóxico e corrosivo, para que o mineral fique totalmente puro.
"Aqui existem duas bacias de
finos que recebem a água utilizada na decantação do urânio.
Quando as bacias estão cheias
ou chove muito, nós abrimos as
suas comportas e despejamos a
água no solo", disse Delmino de
Souza Ferreira, 50, gerente da
unidade. Segundo ele, a água
das bacias de finos (uma espécie
de pequena represa) não contamina o lençol freático.
"Não existe mais urânio nesta
água, é só um pozinho que não
causa nenhum problema", diz.
Com 1.800 hectares, as minas
de Caetité (de um total de 34
identificadas, 8 já produzem o
mineral) têm uma reserva estimada de 100 mil toneladas de
urânio. Em três anos de exploração, cerca de mil toneladas do
concentrado já foram extraídas.
"É claro que a extração do urânio é uma atividade de risco, como outras que precisam de profissionais especializados", disse
Benedicto Antonio dos Santos,
65, coordenador administrativo
da INB e mais antigo funcionário da empresa na Bahia, com 26
anos de trabalho.
Delmino Ferreira disse que
apenas um funcionário da empresa teve contato mais direto
com o urânio. "Ele não seguiu as
normas de higienização e o mineral entrou em contato com o
seu rosto. Felizmente, depois
dos exames médicos, nada foi
constatado de anormal."
Na manhã da última sexta, a
Folha teve acesso às instalações
da mina. Um dia antes, a visita
foi barrada. A assessoria da INB
no Rio exigiu que a visita fosse
monitorada por três gerentes da
empresa e vetou a realização de
entrevistas com os funcionários
que têm contato direto com o
minério. Por determinação da
INB, a Folha também não teve
acesso aos reservatórios que
têm capacidade para abrigar até
20 toneladas do produto.
De acordo com Delmino Ferreira, quando os reservatórios
chegam a 17 toneladas, um processo mecânico de colocação do
urânio em pequenos tonéis para
exportação é acionado.
Diretores da empresa mostraram projetos da unidade para
recompor o ambiente. O trabalho inclui o monitoramento de
uma área de 30 km no entorno e
um pequeno horto florestal na
unidade, onde são desenvolvidas mudas nativas da região.
O vice-presidente do Sindicato dos Mineradores de Brumado e Região, Édio da Silva Pereira, 46, disse que todos os 132
funcionários da empresa não
recebem treinamento adequado
à periculosidade do urânio. "É
uma questão de tempo, as doenças vão aparecer porque os operários não recebem uma assistência completa da empresa."
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