São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2004

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URÂNIO BAIANO

Líquido é misturado a ácido sulfúrico; empresa diz não haver problema

Solo recebe água de decantação

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAETITÉ (BA)

A unidade baiana da INB costuma despejar no solo a água usada na decantação do urânio -última etapa antes de o produto deixar a mina que fica em Caetité (757 km de Salvador).
Nessa fase, a água é misturada a um produto tóxico e corrosivo, para que o mineral fique totalmente puro.
"Aqui existem duas bacias de finos que recebem a água utilizada na decantação do urânio. Quando as bacias estão cheias ou chove muito, nós abrimos as suas comportas e despejamos a água no solo", disse Delmino de Souza Ferreira, 50, gerente da unidade. Segundo ele, a água das bacias de finos (uma espécie de pequena represa) não contamina o lençol freático.
"Não existe mais urânio nesta água, é só um pozinho que não causa nenhum problema", diz.
Com 1.800 hectares, as minas de Caetité (de um total de 34 identificadas, 8 já produzem o mineral) têm uma reserva estimada de 100 mil toneladas de urânio. Em três anos de exploração, cerca de mil toneladas do concentrado já foram extraídas.
"É claro que a extração do urânio é uma atividade de risco, como outras que precisam de profissionais especializados", disse Benedicto Antonio dos Santos, 65, coordenador administrativo da INB e mais antigo funcionário da empresa na Bahia, com 26 anos de trabalho.
Delmino Ferreira disse que apenas um funcionário da empresa teve contato mais direto com o urânio. "Ele não seguiu as normas de higienização e o mineral entrou em contato com o seu rosto. Felizmente, depois dos exames médicos, nada foi constatado de anormal."
Na manhã da última sexta, a Folha teve acesso às instalações da mina. Um dia antes, a visita foi barrada. A assessoria da INB no Rio exigiu que a visita fosse monitorada por três gerentes da empresa e vetou a realização de entrevistas com os funcionários que têm contato direto com o minério. Por determinação da INB, a Folha também não teve acesso aos reservatórios que têm capacidade para abrigar até 20 toneladas do produto.
De acordo com Delmino Ferreira, quando os reservatórios chegam a 17 toneladas, um processo mecânico de colocação do urânio em pequenos tonéis para exportação é acionado.
Diretores da empresa mostraram projetos da unidade para recompor o ambiente. O trabalho inclui o monitoramento de uma área de 30 km no entorno e um pequeno horto florestal na unidade, onde são desenvolvidas mudas nativas da região.
O vice-presidente do Sindicato dos Mineradores de Brumado e Região, Édio da Silva Pereira, 46, disse que todos os 132 funcionários da empresa não recebem treinamento adequado à periculosidade do urânio. "É uma questão de tempo, as doenças vão aparecer porque os operários não recebem uma assistência completa da empresa."


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