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QUESTÃO NUCLEAR
País não cumpre código sobre segurança de fontes radioativas da Agência Internacional de Energia Atômica
AIEA sugere órgão independente de controle
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
O Brasil não cumpre item do
Código de Conduta sobre Segurança de Fontes Radioativas da
AIEA (Agência Internacional de
Energia Atômica) que recomenda
que todo país tenha um órgão regulador de fontes radioativas cujas funções sejam "independentes" de outras atribuições relacionadas à área. O código, aprovado
em 2003 pela agência, ligada à
ONU, deve ser seguido por todos
os seus 137 países-membros.
O Brasil, membro desde 1957,
enviou, conforme o solicitado pela AIEA, um documento por escrito afirmando "apoiar e endossar inteiramente" as iniciativas
para garantir a segurança de fontes radioativas e trabalhar para
que o código fosse seguido. A entrega pelo Brasil da declaração escrita foi confirmada à Folha pelo
Departamento de Segurança Nuclear da AIEA. A Diretoria Geral
da entidade recebeu o documento
no mês passado, diz a agência.
A Cnen (Comissão Nacional de
Energia Nuclear) é responsável
por fiscalizar, licenciar, estimular
e controlar a atividade nuclear no
país e, ao mesmo tempo, tem o
monopólio da exploração, do beneficiamento e da comercialização de urânio no Brasil.
As atividades relacionadas a
urânio são desenvolvidas no país
por meio da INB (Indústrias Nucleares Brasileiras), empresa de
economia mista, que tem a Cnen
como sua acionista majoritária.
Ambas são vinculadas ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
A sobreposição de funções da
Cnen, criada em 1956, vai na contramão do que recomenda o Código de Conduta da AIEA, do qual
o Brasil é signatário.
Os 18º e 19º itens do código dizem que todo Estado deve pôr em
prática legislações e regulamentações que garantam "um órgão regulador cujas funções reguladoras sejam efetivamente independentes de outras funções com respeito a fontes radioativas, tais como a administração e a promoção
do uso de fontes radioativas".
O presidente da Cnen, Odair
Dias Gonçalves, afirma que o vínculo entre as empresas não representa desrespeito às regras (leia
mais à pág. A13).
Especialistas e cientistas ouvidos pela Folha desaprovam a dupla função da Cnen no país. "Nós
[no Brasil] estamos muito atrasados em relação a isso. São raríssimos os países que mantêm um só
órgão para duas funções", diz Anselmo Paschoa, professor do Departamento de Física da PUC-RJ.
Código de Conduta
O Código de Conduta da AIEA
foi criado para que os países atinjam um nível elevado de segurança de fontes radioativas.
Entre as recomendações está a
de impedir acesso sem autorização, roubo, perda ou dano de fontes radioativas. Diz ainda que órgãos reguladores têm a função de
minimizar conseqüências de acidentes ou uso mal-intencionado
envolvendo fontes radioativas. (ANDRÉ SOLIANI E MICHELE OLIVEIRA)
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