São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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Idéia de ataque a ministro foi de aposentada

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Foi de uma aposentada a idéia de jogar uma torta no rosto do ministro Ricardo Berzoini (Trabalho), durante solenidade anteontem na Federação das Indústrias de Fortaleza (CE).
A autora da proposta também se prontificou a cumprir a tarefa, mas acabou cedendo aos argumentos de que isso não seria seguro para ela. Outra voluntária se apresentou e a substituiu.
O episódio, que culminou na tortada em Berzoini, aconteceu na sexta-feira passada, durante reunião na casa de um ativista do Crítica Radical, grupo que se diz "contra o capitalismo" e que se responsabilizou pela agressão.
A professora e integrante da entidade Regina Célia Zanetti participou do encontro e confirmou a história. Segundo ela, 30 pessoas estiveram no local para discutir a estratégia de protesto do grupo durante a visita do ministro.
"A idéia foi aprovada na hora, por unanimidade", disse. "O Berzoini encarna a figura do perseguidor dos aposentados e dos servidores públicos, e nós achamos que todas as atitudes dele são casadas e coerentes com as do governo Lula", afirmou Zanetti.
Segundo ela, ao jogar a torta, a intenção dos manifestantes "não era atingir ou ridicularizar a pessoa, mas sim, a política do governo Lula ali representada".
Berzoini, que foi ministro da Previdência, comandou o processo de reforma do sistema de aposentadorias no país. Na sua gestão, tomou decisões polêmicas, como a que determinava a revisão das aposentadorias das pessoas com mais de 90 anos. "Muitos aposentados que participaram da reunião vibraram com a possibilidade [de o ministro ser atingido por uma torta]", disse Zanetti. "Ele é um fiel servidor do Lula, desse governo, dessa política."
Ao chegar ao local da manifestação, os cerca de 50 ativistas presentes tomaram posições predeterminadas. Enquanto alguns abriam as duas faixas de protesto contra o governo, outros entoavam palavras de ordem.
A ex-prefeita de Fortaleza Maria Luiza Fontenelle também participou da manifestação. Ela foi expulsa do PT em 1988, após ser denunciada à Polícia Federal, por um proprietário de empresa de ônibus, por supostamente incitar a população da cidade a depredação dos veículos por meio da distribuição de um caderno sobre transportes coletivos.
Dois militantes foram até um supermercado da região, onde compraram uma torta de maçã, com cobertura de glacê e cerejas. Dividindo as despesas, pagaram R$ 6,13 pelo doce.
O pacote foi repassado para a militante encarregada de cumprir a tarefa logo após a chegada do ministro. Sem ser incomodada, ela andou até a primeira fila do auditório e empurrou a torta no rosto de Berzoini, que não reagiu.
Escoltada por outros ativistas, a mulher, até agora não identificada, fugiu. Segundo Zanetti, ela está escondida na casa de um amigo. O Crítica Radical não divulga o nome da agressora nem permite que ela seja entrevistada sob alegação de que o protesto não pode ser personificado. "Foi um ato coletivo", alega a entidade.
A solenidade de inauguração do Centro da Juventude do Ceará foi suspensa. O ministro deixou o local, mas retornou mais tarde, e a cerimônia foi retomada. Berzoini não comentou o protesto.
"Além de ridicularizar essa política de governo, mostramos à população que ela precisa se indignar, se organizar num amplo movimento social pela emancipação", afirmou Zanetti.


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