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NO AR
Dois pobres latinos
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
- O foco diplomático está no Chile e no México, dois pobres países latino-americanos.
Era Andrea Koppel, na CNN,
reproduzindo a informação de
"funcionários graduados" do
governo americano de que oito
dos nove votos necessários na
ONU já estariam na mão de
George W. Bush.
Falta um para conseguir a sonhada "vitória moral", outra
expressão da CNN, e fazer a
guerra mesmo com os vetos da
França e da Rússia.
O problema é que nenhum dos
"dois pobres países latino-americanos" se decide.
O presidente do México, comicamente, arrumou o que foi descrito como uma "cirurgia de
emergência" de hérnia do disco,
que "pegou muitos mexicanos
de surpresa".
Ele vinha com a agenda cheia
de viagens, de repente parou tudo para negociar o Iraque, ontem -e de repente, horas depois, apareceu com a cirurgia de
emergência. Fica quatro dias no
hospital.
No Chile, o problema é outro.
As redes americanas, bem como a imprensa e as agências de
notícias, não repercutiram uma
manchete do jornal londrino
"The Observer" de quase duas
semanas atrás.
O jornal revelou a solicitação,
feita por uma das agências de
inteligência dos EUA, para que
os diplomatas dos países "pobres" do Conselho de Segurança, entre eles o Chile, fossem
grampeados.
Angola e outros engoliram o
grampo. O Chile, não.
O presidente Ricardo Lagos
exigiu uma explicação, cobrou
de Tony Blair e outros durante a
semana toda.
Mas o Chile é um pobre país
latino, na expressão da CNN
-que já anunciava ontem como está sendo feita a "negociação" do nono voto no Conselho
de Segurança:
- O Chile quer um acordo de
livre comércio com os EUA. Isso
é algo que a administração
Bush pode tentar acelerar... Não
será, necessariamente, dinheiro
duro, frio.
Mas será dinheiro.
E, se o Chile e o México não se
venderem, ainda assim é possível para os EUA sonhar com
uma "vitória moral", pequena
que seja.
Ontem o porta-voz de Bush,
Air Fleischer, em entrevista coletiva mostrada pela Fox News,
insistia que a maioria real no
Conselho de Segurança da ONU
é de oito votos:
- Nas Nações Unidas você
precisa de uma "supermaioria",
que são nove.
Suposto líder latino, o Brasil
não é citado em lugar nenhum.
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