UOL

São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NO AR

Dois pobres latinos

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

- O foco diplomático está no Chile e no México, dois pobres países latino-americanos.
Era Andrea Koppel, na CNN, reproduzindo a informação de "funcionários graduados" do governo americano de que oito dos nove votos necessários na ONU já estariam na mão de George W. Bush.
Falta um para conseguir a sonhada "vitória moral", outra expressão da CNN, e fazer a guerra mesmo com os vetos da França e da Rússia.
O problema é que nenhum dos "dois pobres países latino-americanos" se decide.
O presidente do México, comicamente, arrumou o que foi descrito como uma "cirurgia de emergência" de hérnia do disco, que "pegou muitos mexicanos de surpresa".
Ele vinha com a agenda cheia de viagens, de repente parou tudo para negociar o Iraque, ontem -e de repente, horas depois, apareceu com a cirurgia de emergência. Fica quatro dias no hospital.
No Chile, o problema é outro.
As redes americanas, bem como a imprensa e as agências de notícias, não repercutiram uma manchete do jornal londrino "The Observer" de quase duas semanas atrás.
O jornal revelou a solicitação, feita por uma das agências de inteligência dos EUA, para que os diplomatas dos países "pobres" do Conselho de Segurança, entre eles o Chile, fossem grampeados.
Angola e outros engoliram o grampo. O Chile, não.
O presidente Ricardo Lagos exigiu uma explicação, cobrou de Tony Blair e outros durante a semana toda.
Mas o Chile é um pobre país latino, na expressão da CNN -que já anunciava ontem como está sendo feita a "negociação" do nono voto no Conselho de Segurança:
- O Chile quer um acordo de livre comércio com os EUA. Isso é algo que a administração Bush pode tentar acelerar... Não será, necessariamente, dinheiro duro, frio.
Mas será dinheiro.
 
E, se o Chile e o México não se venderem, ainda assim é possível para os EUA sonhar com uma "vitória moral", pequena que seja.
Ontem o porta-voz de Bush, Air Fleischer, em entrevista coletiva mostrada pela Fox News, insistia que a maioria real no Conselho de Segurança da ONU é de oito votos:
- Nas Nações Unidas você precisa de uma "supermaioria", que são nove.
 
Suposto líder latino, o Brasil não é citado em lugar nenhum.


Texto Anterior: Em reunião, PT aprova apoio a projeto sobre BC
Próximo Texto: Panorâmica - PT x PT: Lula age sob a ótica neoliberal, diz Comparato
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.