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REFORMA
Cai proposta que mantinha o julgamento do presidente em foro privilegiado após o fim do mandato
FHC é derrotado em votação na Câmara
da Sucursal de Brasília
O governo foi derrotado ontem
na votação da reforma do Judiciário. A Câmara dos Deputados
derrubou a proposta que mantinha o julgamento do presidente
da República por crime comum
em foro privilegiado mesmo depois do fim do mandato.
A proposta, apoiada pelos partidos da base governista (PFL,
PMDB, PSDB, PPB e PTB), também beneficiava os próprios deputados, os senadores, os ministros de Estados, o vice-presidente
e outras autoridades federais.
Foram 277 votos a favor da mudança, 142 contrários e 6 abstenções. Os governistas não conseguiram os 308 votos necessários
para mudar o texto da relatora,
deputada federal Zulaiê Cobra
(PSDB-SP).
Pelo texto da reforma do Judiciário, as autoridades têm direito
a julgamento em foro privilegiado
(tribunais de instância superior,
como o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça) somente no exercício do cargo
público e para crimes comuns
(homicídio, por exemplo).
Uma mudança feita anteriormente no plenário da Câmara estendeu o foro privilegiado para os
crimes de improbidade administrativa (corrupção, por exemplo).
Deputados governistas derrotados na votação de ontem prometem mudar a proposta no segundo turno e manter o texto da
Constituição. O atual texto não
faz restrições ao período em que
ocorreu o crime, o que permite o
julgamento em foro privilegiado
por infrações cometidas antes do
mandato.
O deputado Jutahy Júnior
(PSDB-BA), vice-líder do PSDB e
autor da emenda, disse que ministros de Estados, por exemplo,
terão de guardar dinheiro para se
defender em ações que poderão
ser movidas contra eles em todo o
país. "Eles vão gastar uma fábula
em viagens e honorários de advogados", afirmou.
Os governistas argumentaram
que os julgamentos em primeira
instância poderão ser motivados
por divergências políticas e os juízes poderão ceder a pressões de
adversários de ex-autoridades
acusadas.
"Isso é uma agressão aos demais cidadãos. A Casa das leis diz
que há juízes indignos para julgar
seus membros, mas não para julgar o cidadão comum", rebateu o
deputado Marcelo Déda (PT-SE).
Ontem a Câmara concluiu a votação da reforma do Judiciário em
primeiro turno, que começou em
dezembro do ano passado. A proposta agora volta à comissão especial para redação do texto final
e, depois, vai a plenário para votação em segundo turno.
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Carlos Velloso, já havia criticado anteriormente a proposta de conceder foro privilegiado a ex-autoridades públicas.
Velloso e o ex-presidente do
STF Celso de Mello sustentam
que o Congresso deveria eliminar
tal "privilégio" para todos os cargos, inclusive o de presidente da
República, em vez de ampliá-lo.
Ambos argumentam que essa
proteção especial contraria o
princípio republicano da igualdade entre as pessoas. Os dois citaram o exemplo dos Estados Unidos, onde não há foro privilegiado.
A Constituição nunca protegeu
os ex-ocupantes de cargos públicos. O STF admitiu o foro especial
para ex-autoridades por 35 anos,
mas a rejeitou, em 1999, por decisão unânime, por entender que a
proteção é ao cargo e não à pessoa
que o ocupa ou que o ocupou.
Para Velloso, "além de não
prestar obséquio aos princípios
republicanos, (a proposta) vai
agravar a lentidão da Justiça".
Mello questionou a existência
de compromisso deles com os
princípios republicanos. "O Congresso, ao ampliar as hipóteses de
foro privilegiado, parece ir na
contramão de uma tendência
que, se fosse fiel ao postulado republicano, na verdade deveria reduzir até a supressão total."
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