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SALTO NO ESCURO
Em relatório enviado ao Ministério Público, governador culpa FHC
Itamar prevê mais apagão em 2002
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governador de Minas Gerais,
Itamar Franco (PMDB), encaminhou ao Ministério Público Federal em Brasília um relatório com
dados técnicos e análises críticas
ao governo sobre a crise energética e as medidas insuficientes tomadas para contê-la. No documento, elaborado pela Procuradoria Geral do Estado, a responsabilidade pelo racionamento é
atribuída "principalmente" à
"política adotada pelo governo federal para o setor energético".
Pelas estatísticas de Itamar, pré-candidato do PMDB à Presidência, dificilmente as medidas de racionamento serão suspensas em
dezembro, conforme previsto pelo "ministério do apagão". Nos
prognósticos pessimistas do governador para o Sudeste, por
exemplo, a situação poderá até se
agravar: "O risco para 2002 é também preocupante".
O documento de Itamar diz que
a equipe de FHC -que não é citado explicitamente no documento- teria cometido erros na regulamentação e na privatização
do setor, na proibição de realizar
investimentos em empresas a serem privatizadas e na tentativa de
implantar um programa inviável
de usinas termelétricas.
Segundo Itamar, a falta de chuvas não pode ser apontada como
a principal razão da crise. O texto
afirma que o setor energético brasileiro, que tem 90% de suas necessidades sustentadas por geração hidrelétrica, funciona com
uma garantia de 95% de atendimento. Em outras palavras: há
um risco constante de faltar energia para 5% dos consumidores.
E mais: "Nos últimos anos, o sistema Sudeste tem operado com
risco de déficit próximo de 20%,
mostrando claramente os efeitos
da falta de investimento."
"Na condição de ex-presidente,
ele [Itamar" gentilmente se antecipou à solicitação formal do Ministério Público e nos enviou os
dados para colaborar com as investigações", disse Alexandre Camanho, um dos procuradores
que conduz o inquérito civil público para apurar os responsáveis
pela crise energética do país.
Há duas semanas colhendo depoimentos, Camanho já adianta
que o "apagão" não ficará na conta de são Pedro exclusivamente.
"Nos relatos que ouvimos, a culpa
recai sobre a equipe econômica e
o plano Real. Mas ainda é cedo
para afirmar se o presidente ou
qualquer outro agente público é
responsável."
O entendimento do procurador
é contemplado no relatório de Itamar quando se refere à inviabilidade da geração termelétrica. Para atrair investimentos, seria preciso dolarizar tarifas, uma forma
de minimizar o risco de investidores, pois o gás usado como matéria-prima é comprado em dólar,
mas as contas são pagas em reais e
reajustadas a cada 12 meses.
Não se fez isso à época, principalmente por pressão da equipe
econômica, para não submeter a
economia à turbulências e também porque a regulamentação do
setor proíbe repassar custos para
tarifas em prazos inferiores a um
ano. Na semana passada, Itamar,
amparado por liminar judicial,
disse que não aplicaria em Minas
a multa e o corte de luz.
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