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SUCESSÃO NO ESCURO
Titular da Saúde submerge para se preservar e irrita FHC
FHC quer Serra candidato já
para 2002; ministro resiste
Alan Marques/Folha Imagem
![](../images/n1306012001.jpg) |
FHC discursa na solenidade de assinatura de contrato para a construção de duas linhas de transmissão da energia de Tucuruí (PA) |
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RAYMUNDO COSTA
COORDENADOR DE POLÍTICA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Persuadido de que o governo terá dificuldades para colocar um
candidato no segundo turno ao
Planalto, o presidente Fernando
Henrique Cardoso antecipou o
cronograma sucessório e liberou
o ministro da Saúde, José Serra,
para assumir sua candidatura e
negociar com os partidos aliados
a montagem do palanque eleitoral de 2002.
O ajuste do relógio eleitoral do
Planalto ocorreu nas duas últimas
semanas, quando FHC deu o sinal
verde para o ministro da Saúde e
autorizou o novo presidente do
PSDB, José Aníbal (SP), a fazer
um périplo pelos Estados para
cuidar das alianças regionais. A
surpresa ficou por conta de José
Serra, que se mostrou reticente e
hesitou em assumir a empreitada
desde já.
A indecisão de Serra irritou
FHC. Ele esperava que o ministro
assumisse a condição e a atitude
de candidato ""chapa-branca",
passando a defender o governo
num momento de dificuldades.
Em vez disso, o ministro submergiu. A tucanos, o presidente chegou a comentar que Serra às vezes
parecer viver "em outro planeta".
O impasse abre espaço para o
PFL, refratário à candidatura do
ministro, articular uma saída alternativa. Hoje, na reunião da
Executiva do partido, o senador
Jorge Bornhausen (SC) pedirá autorização para abrir negociações
com os demais aliados em torno
de um nome e tentará engajar a legenda em uma proposta de prévias para escolher um único candidato da aliança.
Ao sinalizar preferência por
Serra, FHC assume um risco calculado: desagradar ao PFL e ao
governador do Ceará, Tasso Jereissati, também pretendente à
vaga. O governador sempre suspeitou dos afagos do presidente à
sua candidatura. Desconfiava que
não passavam de um estratagema
para neutralizar o avanço de Ciro
Gomes (PPS). Mas a viabilização
da candidatura de Serra também
passa pela cooptação do PMDB, a
fim de deixar o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, sem a
estrutura de um grande partido.
Os governistas não temem propriamente Itamar. Temem um
Itamar com a estrutura e o tempo
de televisão do PMDB. Por isso é
vital para FHC afastar o PMDB do
governador. Também por isso
Serra descolou do pelotão de pré-candidatos tucanos. É o que mais
se dá com os peemedebistas.
É também para bloquear os caminhos do governador mineiro
que FHC paga o preço do convívio com a desgastada cúpula do
PMDB, que é anti-itamarista.
Não foi por outro motivo que
chegou a se entusiasmar com a indicação do senador José Alencar
(PMDB-MG) para o Ministério da
Integração Nacional. Acreditava,
erroneamente, que poderia dividir o PMDB mineiro.
Paralelamente, procura atrair
peemedebistas que se opõem à
atual direção do partido, mas que
também torcem o nariz para Itamar. Casos de Jarbas Vasconcelos, governador de Pernambuco,
e, em menor escala, dos gaúchos
Antônio Britto e José Fogaça.
Itamar sob controle
As planilhas que o ministro Eliseu Padilha (Transportes) leva a
FHC sugerem que o PMDB tem
Itamar sob controle. O Planalto
quer mais -que a sigla constranja o governador antes mesmo da
convenção marcada para setembro a fim de eleger a nova direção
partidária. Para, pelo menos, deixar Itamar inseguro quanto a seu
futuro na legenda.
Caso a operação não funcione e
Itamar se lance candidato pelo
PMDB, a candidatura de Serra
não será mais tida como tão segura no Planalto. Afinal, restaria aos
tucanos uma aliança apenas com
o PFL, que não tem muita simpatia pelo ministro da Saúde.
O nome de Tasso ou do ministro Paulo Renato Souza (Educação) ganharia força novamente.
Ou então o do governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin. O candidato a vice, nesse caso, ficaria com
o PFL. Mas essa alternativa -disputar a eleição sem o PMDB-
não é a desejada pelo Planalto.
A estrutura peemedebista e seu
tempo de televisão transformariam Itamar num candidato forte.
Ele tem condições de encarnar o
papel de pai do Real, já que foi no
seu governo que o plano foi lançado, e ainda sair com o discurso de
que FHC foi o responsável pelo
desvirtuamento da economia.
Antes da crise energética, o presidente sempre comentava que,
mesmo nos piores cenários, seu
governo teria entre 20% e 25% de
aprovação. O suficiente para bancar o lançamento de um candidato capaz até de vencer a disputa
no primeiro turno.
Agora, fragilizado pelo racionamento de energia, o Palácio do
Planalto avalia que um candidato
governista pode ser dizimado na
eleição caso a crise energética
continue em 2002 e o PMDB caia
no colo de Itamar Franco. Aí o segundo turno, na avaliação palaciana, seria entre Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) e Itamar, um final de
governo melancólico para FHC.
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