São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Titular da Saúde submerge para se preservar e irrita FHC

FHC quer Serra candidato já para 2002; ministro resiste

Alan Marques/Folha Imagem
FHC discursa na solenidade de assinatura de contrato para a construção de duas linhas de transmissão da energia de Tucuruí (PA)


VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RAYMUNDO COSTA
COORDENADOR DE POLÍTICA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Persuadido de que o governo terá dificuldades para colocar um candidato no segundo turno ao Planalto, o presidente Fernando Henrique Cardoso antecipou o cronograma sucessório e liberou o ministro da Saúde, José Serra, para assumir sua candidatura e negociar com os partidos aliados a montagem do palanque eleitoral de 2002.
O ajuste do relógio eleitoral do Planalto ocorreu nas duas últimas semanas, quando FHC deu o sinal verde para o ministro da Saúde e autorizou o novo presidente do PSDB, José Aníbal (SP), a fazer um périplo pelos Estados para cuidar das alianças regionais. A surpresa ficou por conta de José Serra, que se mostrou reticente e hesitou em assumir a empreitada desde já.
A indecisão de Serra irritou FHC. Ele esperava que o ministro assumisse a condição e a atitude de candidato ""chapa-branca", passando a defender o governo num momento de dificuldades. Em vez disso, o ministro submergiu. A tucanos, o presidente chegou a comentar que Serra às vezes parecer viver "em outro planeta".
O impasse abre espaço para o PFL, refratário à candidatura do ministro, articular uma saída alternativa. Hoje, na reunião da Executiva do partido, o senador Jorge Bornhausen (SC) pedirá autorização para abrir negociações com os demais aliados em torno de um nome e tentará engajar a legenda em uma proposta de prévias para escolher um único candidato da aliança.
Ao sinalizar preferência por Serra, FHC assume um risco calculado: desagradar ao PFL e ao governador do Ceará, Tasso Jereissati, também pretendente à vaga. O governador sempre suspeitou dos afagos do presidente à sua candidatura. Desconfiava que não passavam de um estratagema para neutralizar o avanço de Ciro Gomes (PPS). Mas a viabilização da candidatura de Serra também passa pela cooptação do PMDB, a fim de deixar o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, sem a estrutura de um grande partido.
Os governistas não temem propriamente Itamar. Temem um Itamar com a estrutura e o tempo de televisão do PMDB. Por isso é vital para FHC afastar o PMDB do governador. Também por isso Serra descolou do pelotão de pré-candidatos tucanos. É o que mais se dá com os peemedebistas.
É também para bloquear os caminhos do governador mineiro que FHC paga o preço do convívio com a desgastada cúpula do PMDB, que é anti-itamarista.
Não foi por outro motivo que chegou a se entusiasmar com a indicação do senador José Alencar (PMDB-MG) para o Ministério da Integração Nacional. Acreditava, erroneamente, que poderia dividir o PMDB mineiro.
Paralelamente, procura atrair peemedebistas que se opõem à atual direção do partido, mas que também torcem o nariz para Itamar. Casos de Jarbas Vasconcelos, governador de Pernambuco, e, em menor escala, dos gaúchos Antônio Britto e José Fogaça.

Itamar sob controle
As planilhas que o ministro Eliseu Padilha (Transportes) leva a FHC sugerem que o PMDB tem Itamar sob controle. O Planalto quer mais -que a sigla constranja o governador antes mesmo da convenção marcada para setembro a fim de eleger a nova direção partidária. Para, pelo menos, deixar Itamar inseguro quanto a seu futuro na legenda.
Caso a operação não funcione e Itamar se lance candidato pelo PMDB, a candidatura de Serra não será mais tida como tão segura no Planalto. Afinal, restaria aos tucanos uma aliança apenas com o PFL, que não tem muita simpatia pelo ministro da Saúde.
O nome de Tasso ou do ministro Paulo Renato Souza (Educação) ganharia força novamente. Ou então o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O candidato a vice, nesse caso, ficaria com o PFL. Mas essa alternativa -disputar a eleição sem o PMDB- não é a desejada pelo Planalto.
A estrutura peemedebista e seu tempo de televisão transformariam Itamar num candidato forte. Ele tem condições de encarnar o papel de pai do Real, já que foi no seu governo que o plano foi lançado, e ainda sair com o discurso de que FHC foi o responsável pelo desvirtuamento da economia.
Antes da crise energética, o presidente sempre comentava que, mesmo nos piores cenários, seu governo teria entre 20% e 25% de aprovação. O suficiente para bancar o lançamento de um candidato capaz até de vencer a disputa no primeiro turno.
Agora, fragilizado pelo racionamento de energia, o Palácio do Planalto avalia que um candidato governista pode ser dizimado na eleição caso a crise energética continue em 2002 e o PMDB caia no colo de Itamar Franco. Aí o segundo turno, na avaliação palaciana, seria entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Itamar, um final de governo melancólico para FHC.


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