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Foco
Entre incentivos e rusgas, Frei Chico faz elo entre a família e o presidente
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Responsável pela entrada de
Luiz Inácio Lula da Silva no
meio sindical e, conseqüentemente, na política, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, 65,
atuou nos últimos anos como
elo entre o irmão presidente e o
restante da família Silva.
Quatro anos mais velho do
que Lula, Frei Chico apareceu
em público recentemente falando com o irmão sobre assuntos relacionados a parentes.
Foi assim, por exemplo, em
2002, quando Frei Chico foi incumbido de organizar a ida da
família do então presidente
eleito do país para a cerimônia
de posse, em Brasília, em 1º de
janeiro de 2003. (Poucos dias
depois, Frei Chico esteve presente, ao lado de Lula, quando
Ricardo Berzoini, assumiu o
Ministério da Previdência.)
O mesmo aconteceu em janeiro de 2005, quando um dos
irmãos mais novos dos dois,
Odair Inácio de Góes, morreu
de infarto. Coube a Frei Chico
avisar o presidente, que estava
em viagem oficial na Colômbia.
Contou a notícia para Lula, de
quem ouviu uma reclamação
por não ter sido avisado antes.
Depois, representou o irmão na
cerimônia de enterro.
Ainda que o contato atual entre os dois seja esparso, como
diz a família de Frei Chico, ele é
mais freqüente do que com os
demais parentes -nas contas
de Frei Chico, os Silva são 19 irmãos no total, sendo que 15 estavam vivos em 2005.
Em tempo: Frei Chico é assim chamado não por fazer parte de alguma ordem religiosa; o
apelido, dos tempos de metalúrgico, se deve à sua calvície,
semelhante à de um padre.
Afinidade e sindicato
Antes mesmo de Lula ser
eleito presidente, Frei Chico falava sobre a distância do irmão.
"A gente fala mais besteira. De
política, só o necessário. Lula é
da família uma vez por mês, a
vida do Lula não pertence mais
a ele", disse em junho de 2002.
Na biografia escrita pela jornalista Denise Paraná, Lula diz
que sua ligação com Frei Chico
é "biológica". "Ou seja, um negócio evidentemente de irmão
para irmão. Não tinha nenhuma afinidade política com Frei
Chico", afirmou, no livro publicado em 1996.
Não era o que devia pensar
Frei Chico em 1968, quando,
então militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), recusou ser indicado para participar da chapa de situação que
concorreria à direção do Sindicado dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo, no ABC
paulista. Em vez de aceitar, indicou Lula para uma suplência,
dando início à carreira de sindicalista do irmão.
A frase de Lula, sobre a falta
de afinidade política com o irmão, pode explicar os desentendimentos entre os dois nessa área. Em 1986, Frei Chico,
seguindo orientação do PCB,
onde ficou até 1992, apoiou
Orestes Quércia, do PMDB, para o governo de São Paulo. Mais
tarde, teve uma rápida passagem pelo PT, fundado pelo irmão, onde só ficou por um ano.
A criação do PT, inclusive, foi
alvo de críticas de Frei Chico.
Para ele, Lula fazia o jogo da
burguesia e contribuía para a
divisão da esquerda.
Assim como Genival Inácio
da Silva, o Vavá -que também é
visto como um dos mais próximos de Lula entre os familiares-, Frei Chico tentou a carreira política, sem se eleger.
Embora afastado da vida partidária há pelo menos seis anos,
manteve conversas com todas
as legendas, além de empresários, principalmente no ABC,
onde mora num conjunto habitacional no bairro São José, em
São Caetano do Sul.
Depois de sofrer três infartos, o último há dois anos, Frei
Chico se afastou ainda mais
da vida política.
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