São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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Entre incentivos e rusgas, Frei Chico faz elo entre a família e o presidente

DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Responsável pela entrada de Luiz Inácio Lula da Silva no meio sindical e, conseqüentemente, na política, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, 65, atuou nos últimos anos como elo entre o irmão presidente e o restante da família Silva.
Quatro anos mais velho do que Lula, Frei Chico apareceu em público recentemente falando com o irmão sobre assuntos relacionados a parentes.
Foi assim, por exemplo, em 2002, quando Frei Chico foi incumbido de organizar a ida da família do então presidente eleito do país para a cerimônia de posse, em Brasília, em 1º de janeiro de 2003. (Poucos dias depois, Frei Chico esteve presente, ao lado de Lula, quando Ricardo Berzoini, assumiu o Ministério da Previdência.)
O mesmo aconteceu em janeiro de 2005, quando um dos irmãos mais novos dos dois, Odair Inácio de Góes, morreu de infarto. Coube a Frei Chico avisar o presidente, que estava em viagem oficial na Colômbia. Contou a notícia para Lula, de quem ouviu uma reclamação por não ter sido avisado antes. Depois, representou o irmão na cerimônia de enterro.
Ainda que o contato atual entre os dois seja esparso, como diz a família de Frei Chico, ele é mais freqüente do que com os demais parentes -nas contas de Frei Chico, os Silva são 19 irmãos no total, sendo que 15 estavam vivos em 2005.
Em tempo: Frei Chico é assim chamado não por fazer parte de alguma ordem religiosa; o apelido, dos tempos de metalúrgico, se deve à sua calvície, semelhante à de um padre.

Afinidade e sindicato
Antes mesmo de Lula ser eleito presidente, Frei Chico falava sobre a distância do irmão. "A gente fala mais besteira. De política, só o necessário. Lula é da família uma vez por mês, a vida do Lula não pertence mais a ele", disse em junho de 2002.
Na biografia escrita pela jornalista Denise Paraná, Lula diz que sua ligação com Frei Chico é "biológica". "Ou seja, um negócio evidentemente de irmão para irmão. Não tinha nenhuma afinidade política com Frei Chico", afirmou, no livro publicado em 1996.
Não era o que devia pensar Frei Chico em 1968, quando, então militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), recusou ser indicado para participar da chapa de situação que concorreria à direção do Sindicado dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Em vez de aceitar, indicou Lula para uma suplência, dando início à carreira de sindicalista do irmão.
A frase de Lula, sobre a falta de afinidade política com o irmão, pode explicar os desentendimentos entre os dois nessa área. Em 1986, Frei Chico, seguindo orientação do PCB, onde ficou até 1992, apoiou Orestes Quércia, do PMDB, para o governo de São Paulo. Mais tarde, teve uma rápida passagem pelo PT, fundado pelo irmão, onde só ficou por um ano.
A criação do PT, inclusive, foi alvo de críticas de Frei Chico. Para ele, Lula fazia o jogo da burguesia e contribuía para a divisão da esquerda.
Assim como Genival Inácio da Silva, o Vavá -que também é visto como um dos mais próximos de Lula entre os familiares-, Frei Chico tentou a carreira política, sem se eleger.
Embora afastado da vida partidária há pelo menos seis anos, manteve conversas com todas as legendas, além de empresários, principalmente no ABC, onde mora num conjunto habitacional no bairro São José, em São Caetano do Sul.
Depois de sofrer três infartos, o último há dois anos, Frei Chico se afastou ainda mais da vida política.


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