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CRISE CAPIXABA
PF e Ministério Público Federal vão ser responsáveis pelo combate ao crime organizado durante 90 dias
Ministro anuncia "intervenção branca" no Espírito Santo
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, 42, anunciou ontem
uma "intervenção branca" no Espírito Santo. Em vez das polícias e
do Judiciário estaduais, a PF e o
Ministério Público Federal serão
responsáveis pelo combate à criminalidade organizada durante
90 dias -tempo suficiente para a
realização da eleição para o governo do Estado.
A medida, classificada como
"missão especial" pelo ministro, é
um meio-termo entre a força-tarefa e a intervenção federal aprovada no dia 4 de julho pelo
CDDPH (Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana).
Não pode ser considerada uma
força-tarefa, tal como a existente
no Rio de Janeiro, pela ausência
de cooperação das polícias Civil e
Militar, desacreditadas após sucessivas denúncias de envolvimento com a criminalidade. E
não chega a ser uma intervenção
propriamente dita porque as autoridades constituídas continuarão governando normalmente.
O pedido para que o CDDPH
analisasse a intervenção foi feito
pela OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) em maio. Suspeitas de
envolvimento de autoridades
com o crime organizado foram o
argumento. O processo de intervenção foi arquivado pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, o que levou Miguel
Reale Júnior a pedir demissão do
cargo de ministro da Justiça.
Estratégia
A estratégia do Ministério Público Federal para evitar a participação de policiais e do Judiciário
estadual é investigar eventual duplo envolvimento dos acusados.
Ou seja, se uma autoridade é
acusada de liderar um grupo de
extermínio -crime de competência estadual-, o MP buscará
indícios de participação em narcotráfico, jogo ilícito ou crime organizado -ambos de competências federais. Dessa forma, os casos serão julgados pelo Tribunal
Regional Federal do Estado, em
vez de ser assumido por juízes estaduais suspeitos de envolvimento com os mesmos crimes.
Seguindo a mesma filosofia,
agentes da PF serão responsáveis
por reabrir inquéritos que tenham sido arquivados pela Polícia Civil. Os casos relatados no relatório do CDDPH, que pede a intervenção, também serão investigados formalmente pela PF.
Segundo o secretário de Estado
de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, autoridades do Executivo e Legislativo suspeitas de
envolvimento com o crime organizado terão "diálogos especiais"
com as equipes a ser enviadas.
O governador do Espírito Santo, José Ignácio Ferreira (PTN),
disse que o ministro da Justiça lhe
afirmou que a PF não irá interferir
nas investigações de competência
da polícia estadual. "Quero deixar
claro que a questão passa longe de
qualquer milímetro fora do espaço constitucional", teria dito Ribeiro. Ignácio disse não ver impedimentos na forma prevista de
atuação dos policiais e procuradores, mas negou que ela seja
uma "intervenção branca".
Brindeiro nomeou os procuradores José Roberto Santoro, Raquel Dodi, Ronaldo Albo, Henrique Herkenhoff e Marcelo Serra
Azul, com experiência na investigação de autoridades envolvidas
em crimes de competências estadual e federal, para o caso.
As medidas foram discutidas
ontem com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Organizações Não-Governamentais entregam na segunda levantamento do
número de pessoas ameaçadas,
para que sejam protegidas.
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