São Paulo, Terça-feira, 13 de Julho de 1999
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QUALIDADE DE VIDA
Problema continua sendo o principal para os indicadores sociais brasileiros, afirma o Ipea
ONU critica má distribuição de renda

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

A concentração de renda no país foi a principal crítica feita pelo representante da ONU (Organização das Nações Unidas) no Brasil, o equatoriano Walter Franco, ao desempenho do país no Relatório do Desenvolvimento Humano deste ano.
"Embora os indicadores de educação e saúde tenham melhorado, não houve avanço na distribuição de renda", disse Franco, durante o lançamento oficial do relatório, em Brasília.
O presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Roberto Martins, também disse que, embora o país tenha avançado em educação e saúde, a concentração de renda continua sendo o "calcanhar-de-aquiles" da melhoria dos indicadores.
"A concentração de renda no Brasil é a pior do mundo há décadas. O Brasil tem renda para eliminar a pobreza, mas, ainda assim, a desigualdade não está diminuindo", disse Martins.
Além de criticar a concentração de renda, Walter Franco disse que o ritmo da melhora das condições de vida no país poderia ter sido mais rápido -sobretudo a expectativa de vida e a escolaridade.
"As condições de vida no Brasil vêm melhorando desde 75, mas ainda falta muito o que fazer. A esperança de vida ao nascer ainda é muito baixa, e a taxa de escolaridade também é menor do que a de países com o mesmo perfil econômico", disse Franco.
A expectativa de vida do brasileiro no relatório de 99 (referente a dados de 97) é de 66,8 anos. A dos argentinos é de 72,9 anos, e a dos uruguaios, de 73,9.
Para Franco, o atraso no desenvolvimento humano do Brasil em relação aos países vizinhos é consequência de condições históricas e do tamanho do país.
"O Brasil tem uma herança muito pesada de problemas, que afeta o ritmo das mudanças. O tamanho da população também dificulta. É mais simples melhorar as condições de vida em países pequenos, como a Costa Rica e o Uruguai, do que no Brasil."
O ritmo da melhora dos indicadores sociais no Brasil entre 90 e 97 foi menos intenso do que na Indonésia, mas superior ao do Paquistão -dois países com populações semelhantes à do Brasil.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento elaborou um ranking que compara a melhora no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) nos nove países mais populosos do mundo entre 90 e 97.
A Índia não foi incluída no ranking -embora sua população seja de 966,2 milhões de habitantes- porque o programa não calculou o IDH desse país em 90.
O Brasil aparece em quinto lugar no ranking, atrás da China, do Japão, dos EUA e da Indonésia.
De 90 a 97, o Brasil conseguiu reduzir seu déficit no IDH em 10,7%. Isso significa que a diferença entre o valor do IDH do país e o IDH máximo (que é de 1,0) caiu 10,7% no período.
Entre os nove países, o único que apresentou piora nos indicadores sociais foi a Rússia, que teve um aumento no déficit de 18,4%.
Segundo o Pnud, isso aconteceu porque a expectativa de vida dos russos caiu em decorrência da crise econômica. "Houve aumento nas mortes por problemas cardíacos causados pelo estresse", diz José Carlos Libânio, assessor do Pnud no Brasil.


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