São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2000


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PÚBLICO X PRIVADO
Negócios unem seguradora a sócio da DTC e à Delphos
Empresa da Caixa beneficia parceiros de Eduardo Jorge

WLADIMIR GRAMACHO
SÔNIA FILGUEIRAS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Caixa Seguros, uma das dez maiores seguradoras do país, está beneficiando parceiros do ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira.
A empresa, que pertence ao fundo de pensão da Caixa Econômica Federal (Funcef), é presidida por Pedro Pereira de Freitas, apadrinhado político de EJ.
Os negócios da Caixa Seguros unem a seguradora a Mário Petrelli, ex-sócio de EJ na DTC (Direct To Company), e à Delphos Serviços Técnicos Ltda., na qual EJ é consultor.
O principal mecanismo de benefício da Caixa Seguros é conhecido, no jargão técnico, como co-seguro. Consiste no repasse de receitas a um seleto grupo de seis empresas, sob o argumento de divisão de riscos. Um repasse muito superior à média do mercado.
As seis empresas são: Icatu Hartford, Sul América, Minas Brasil, Porto Seguro, Bradesco Seguros e Roma.
Embora todo o lucro da Caixa Seguros venha da exploração exclusiva da clientela de uma instituição pública, a CEF, Freitas não precisa realizar licitação para selecionar as co-seguradoras. A cada seis meses, sua caneta renova, ou não, contratos de co-seguros com empresas privadas.
No mercado privado, as operações de co-seguro funcionam como uma via de mão dupla. Duas empresas parceiras dão e recebem co-seguros, uma da outra.
Na Caixa Seguros, porém, esse instrumento provou ser uma via de mão única, em que a empresa presidida por Freitas cede muito e não recebe praticamente nada em troca. O mecanismo do co-seguro permite ao presidente da Caixa Seguros eleger, no dia-a-dia, quem leva parte do dinheiro arrecadado com a venda de produtos da empresa. Vendas que sempre foram impulsionadas pela numerosa carteira de clientes da CEF -banco público e um dos maiores do país.
Em 1999, a Caixa Seguros recebeu R$ 869 milhões em prêmios (resultado da venda de seus produtos nos balcões de negócios das agências da CEF). Desse total, repassou R$ 343 milhões em co-seguros para as seis empresas.
Uma delas foi a seguradora Icatu Hartford, que tem Petrelli como diretor e conselheiro. Nos últimos anos, essa empresa tem sido uma das principais parceiras da Caixa Seguros, nesse e em outros negócios, como a Caixa Capitalização.
Sob o comando de Pedro Pereira de Freitas, a Caixa Seguros repassou 39% em co-seguros no ano passado. Com Petrelli na direção, a Icatu Hartford repassou em 1999 apenas 2% das receitas com a venda de seguros.
Em geral, nesse mercado, o comportamento padrão é o da Icatu Hartford, e não o da Caixa Seguros. Os negócios atípicos feitos pelo presidente Pedro Pereira de Freitas vêm sendo criticados há anos por relatórios de auditoria da CEF. Mas, até aqui, sempre em sigilo (leia texto na pág. A6).
Estudo feito em 1997 mostra que, em 1995 e em 1996, a Icatu Hartford reteve 97% dos prêmios arrecadados. Na Caixa Seguros, esse índice foi de 32%. Uma estava no topo do ranking de retenção de receitas. A outra, no pé.
O outro parceiro de EJ com bons negócios na Caixa Seguros é a Delphos. A empresa tem dois contratos de prestação de serviços. O mais relevante, que rende à Delphos cerca de R$ 700 mil mensais, prevê o processamento dos seguros habitacionais dos mutuários da CEF. Esse contrato foi assinado pela primeira vez em 1977 e já sofreu cinco renovações. Duas delas, na administração de Pedro Pereira de Freitas.
O segundo contrato, fechado em 1998, inclui a Delphos entre as 34 empresas responsáveis pela vistoria prévia de carros segurados pela Caixa Seguros, ao preço de R$ 15 por automóvel.
Quando assumiu o cargo, em 1993, Freitas logo tornou pública na empresa sua relação com EJ, então poderoso assessor ministerial, que depois viria a ser secretário-geral da Presidência da República.
Ainda na campanha de 1994, o comitê eleitoral de FHC conseguiu empregar na Caixa Seguros, então Sasse, o embaixador Júlio César Gomes dos Santos. Como secretário-executivo, o diplomata ganhou US$ 4.000 durante quatro meses no período eleitoral.
Apesar da função na seguradora, Santos trabalhava com FHC na campanha. Já havia sido seu assessor no Ministério das Relações Exteriores e, mais tarde, o seria novamente no Palácio do Planalto. Em 1994, porém, perdeu o emprego quando sua dupla militância chegou à imprensa.



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