São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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CAMPANHA

PFL é maior dificuldade de tucano; 80% apóiam candidato do PPS

Caciques que apoiaram FHC deixam Serra e apóiam Ciro

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Em queda nas pesquisas, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, perdeu o apoio da maioria dos "donos dos votos" -caciques regionais com grande popularidade que ajudaram a eleger Fernando Collor em 89 e Fernando Henrique Cardoso em 94 e 98.
A falta de apoio dos líderes regionais é apontada por tucanos e por adversários como uma das causas do mau desempenho eleitoral de Serra. Ao mesmo tempo, Ciro Gomes, candidato da Frente Trabalhista, vem crescendo nas pesquisas e conquistando diariamente novos aliados.
Pelo menos 25 caciques regionais consultados pela Folha, que apoiaram FHC em 98, não dão hoje seus palanques exclusivamente para Serra. Dezessete deles estão hoje com outros candidatos ou fora da eleição presidencial, como Paulo Maluf (PPB-SP), que decidiu se concentrar na disputa estadual. Os oito restantes dividem seu palanque, como Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que na semana passada abriu sua campanha para Ciro.
A maior dificuldade de Serra é conseguir apoios no PFL. O PFL iniciou a campanha dividido entre Serra e Ciro. Hoje, mais de 80% da sigla está com o ex-governador do Ceará.
"Das maiores expressões eleitorais do PFL, apenas os grupos do Hugo Napoleão [governador do Piauí] e do Siqueira Campos [governador de Tocantins] estão fechados com o Serra", contabiliza Saulo Queirós, secretário-geral do PFL. Outros pefelistas, como Cesar Maia (RJ), Marco Maciel (PE) e Amazonino Mendes (AM), declaram voto no ex-ministro da Saúde, mas perderam parte dos aliados para a campanha de Ciro.
Dois motivos são apontados para o distanciamento do PFL em relação ao PSDB. O primeiro é a eleição da Mesa Diretora do Congresso, em 2000, quando os tucanos apoiaram Jader Barbalho (PMDB-PA) em detrimento de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que está rompido com FHC.
Outra razão é a operação policial na empresa Lunus, em São Luís (MA), onde a Polícia Federal encontrou R$ 1,34 milhão e enterrou a pré-candidatura presidencial da pefelista Roseana Sarney. Setores do PFL apontam o dedo de Serra na operação e romperam com o candidato. Líder nas pesquisas para o Senado, Roseana diz em seus comícios para os eleitores votarem em qualquer candidato, "menos no Serra".

Apoio baiano
O caso de ACM é emblemático. Em 98, carregou FHC pela Bahia. Com seu apoio, o atual presidente teve 1,97 milhão de votos, o equivalente a 50,92% do eleitorado baiano à época. Hoje, ACM abraça Ciro. Há duas semanas, desfilou com ele por Salvador.
Desde então, as intenções de voto em Ciro subiram de 12% para 30% no Estado, de acordo com pesquisa Vox Populi. Lula lidera com 42% e Serra tem apenas 7%, um ponto percentual a menos do que Anthony Garotinho (PSB).
"FHC empurrou a candidatura do Serra goela abaixo de seus aliados e desagradou à maioria deles, que preferia o Tasso [Jereissati, ex-governador do Ceará]", afirma ACM. "As alianças com o Tasso seriam feitas com muito mais facilidade. Tenho certeza de que o PFL estaria inteiro com ele e toda a base do governo FHC estaria mantida." Para o ex-senador, que lidera as pesquisas para o Senado com mais de 60% dos votos, FHC "esqueceu o ensinamento de João 23": "Ninguém pode tudo. O presidente achou que podia tudo, até fazer do Serra presidente da República, o que é impossível."
Rival de ACM na Bahia e um dos principais aliados de Serra, o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior, discorda que o tucano tenha sido "imposto" por FHC. Para ele, Serra teve dificuldade nas alianças por "representar um processo de mudança para o Brasil, sem espaço para velhas oligarquias". "Essas oligarquias nunca confiaram no Serra por suas brigas com os poderosos, como as indústrias de medicamentos. Por isso, procuraram outros caminhos em candidaturas que dão espaço a suas mamatas e privilégios. Primeiro foi a Roseana, agora é o Ciro", afirma Jutahy. Ele admite que a falta de alianças dificulta a eleição de Serra, porém diz que o tucano não pensa em mudar de estratégia. "Ganhar como o Serra é útil para o país. Ganhar como o Ciro será mais uma frustração para os brasileiros."
Dirigentes da campanha de Ciro, como o deputado João Herrmann (PPS-SP), negam que seu candidato esteja aberto a "mamatas do PFL". Concordam, todavia, que o PFL teve importância no crescimento. "O Ciro é o dono da candidatura. Os aliados irão ajudar a empurrar o ônibus, mas não irão dirigi-lo", afirma Herrmann.
As dissidências não se limitam a PFL e PMDB. Há apoio a Ciro no próprio PSDB. O caso mais explícito é 0 de Tasso Jereissati, que está aliado formalmente ao PPS no Ceará e chegou a elogiar Ciro.
Governador do Estado por três vezes e maior cacique eleitoral cearense, Tasso fez campanha para FHC em 98. E o presidente conseguiu 804 mil votos (30,31%). Chegou em terceiro, mas próximo de Lula (32,84%) e de Ciro (34,24%) -que tem sua base eleitoral no Ceará.
Contrariado com Serra, Tasso liberou seus cabos eleitorais para Ciro, seu afilhado político. O presidenciável tucano sentiu o resultado da oposição do cacique na pele em pesquisa do Ibope concluída na sexta-feira. Ciro lidera com 58%, seguido por Lula, com 29%. Serra tem apenas 3%, um ponto percentual a menos do que Garotinho. É seu pior desempenho em todo o país.


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