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ELIO GASPARI
O PT federal é puro povo: gosta de luxo
Era de se esperar que o PT
no poder significasse uma
mudança nos costumes do cotidiano da política brasileira. Ele
levaria para a vida de Brasília
aquelas condutas simples que
aproximam o cidadão dos governantes. Fica para a próxima.
Aqui vão quatro exemplos de
deslumbramento e insensibilidade do PT federal:
1) O contribuinte acredita que,
se um cidadão tem um emprego
na Câmara dos Deputados, trabalha na Câmara dos Deputados.
Os repórteres Rubens Valente
e Jairo Marques demonstraram
que o doutor João Paulo Cunha
ampliou o quadro de funcionários que ocupam CNE (Cargo de
Natureza Especial). (Uma boquinha livre de concurso, que
rende de R$ 1.600 a R$ 7.000.
Neste ano, ela custará R$ 97 milhões à Viúva.) O doutor mantém alguns funcionários em
Osasco. Às vezes eles vão a Brasília.
2) O contribuinte acredita que
só se deve ganhar salário quando se comparece ao local de trabalho.
A Viúva pagou R$ 25,4 mil a
cada deputado ou senador que
foi a Brasília em julho, atendendo à convocação extraordinária
do Congresso. Dezesseis parlamentares petistas devolveram o
dinheiro e 94 o embolsaram. É
de justiça informar que, fora da
bancada do PT, só um deputado
(do PMDB) devolveu o dinheiro.
3) Não há almoço grátis.
Há. O deputado João Paulo
Cunha (que incorporou ao seu
orçamento os R$ 25,4 mil) consumiu em junho 40 quilos de filé
e 25 quilos de peito de frango na
sua casa oficial. O doutor tem
cozinheiras e administradora.
Graças à repórter Lydia Medeiros, sabe-se que foi na casa de
João Paulo Cunha que o deputado Valdemar Costa Neto, líder
do PL, emitiu o grito primal da
sua aliança com o PT:
- Nossa, não aguento mais
comer!
Nunca houve um beneficiário
de mordomias que deixasse de
atribuir às paixões políticas a
narrativa de suas abundâncias.
Durante a ditadura, o repórter
Ricardo Kotscho (atual assessor
de imprensa de Lula) denunciou
que o governador de Brasília
comprara 17 quilos de melão
num só dia. O líder do governo
na Câmara atribuiu essa e outras demasias noticiadas nas reportagens de Kotscho a iniciativas "contaminadas pelo germe
do comunismo internacional".
4) O eleitor pensa que já se
aprendeu a velha lição de Juscelino Kubitschek: "Não tenho
compromisso com o erro".
A Casa Civil do comissário José Dirceu abriu uma licitação
para o fornecimento de gêneros
básicos para os palácios de Lula.
Eram 2.000 garrafinhas de pimenta envelhecida em barris de
carvalho, 7.000 pacotes de biscoitos recheados e 600 quilos de
bombons Sonho de Valsa. Põe
básico nisso. Divulgada a insânia, a licitação foi suspensa. O
que poderia ser um ato de austera humildade tornou-se prepotência. A Secretaria de Administração do comissariado informou que o edital sofrerá "ajustamentos".
Resta saber se o doutor Dirceu
terá coragem de reaparecer com
uma requisição para 600 quilos
de bombom Sonho de Valsa.
Quando o filantropo petebista
José Carlos Martinez lhe deu um
relógio Rolex, Dirceu percebeu a
impropriedade do mimo.
É verdade que consumiu mais
de 30 horas na reflexão, mas
providenciou um ajustamento e
doou a peça ao Fome Zero.
Serviço de utilidade pública:
não se tratando de jóias de grife,
nada haveria de errado se o palácio pedisse à fábrica de chocolates Lacta, mãe dos deliciosos
Sonhos de Valsa, que assumisse
o abastecimento dos palácios.
Divulgaria o chocolate brasileiro, como vem divulgando os
calçados.
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