UOL

São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIO GASPARI

O PT federal é puro povo: gosta de luxo

Era de se esperar que o PT no poder significasse uma mudança nos costumes do cotidiano da política brasileira. Ele levaria para a vida de Brasília aquelas condutas simples que aproximam o cidadão dos governantes. Fica para a próxima. Aqui vão quatro exemplos de deslumbramento e insensibilidade do PT federal:
1) O contribuinte acredita que, se um cidadão tem um emprego na Câmara dos Deputados, trabalha na Câmara dos Deputados.
Os repórteres Rubens Valente e Jairo Marques demonstraram que o doutor João Paulo Cunha ampliou o quadro de funcionários que ocupam CNE (Cargo de Natureza Especial). (Uma boquinha livre de concurso, que rende de R$ 1.600 a R$ 7.000. Neste ano, ela custará R$ 97 milhões à Viúva.) O doutor mantém alguns funcionários em Osasco. Às vezes eles vão a Brasília.
2) O contribuinte acredita que só se deve ganhar salário quando se comparece ao local de trabalho.
A Viúva pagou R$ 25,4 mil a cada deputado ou senador que foi a Brasília em julho, atendendo à convocação extraordinária do Congresso. Dezesseis parlamentares petistas devolveram o dinheiro e 94 o embolsaram. É de justiça informar que, fora da bancada do PT, só um deputado (do PMDB) devolveu o dinheiro.
3) Não há almoço grátis.
Há. O deputado João Paulo Cunha (que incorporou ao seu orçamento os R$ 25,4 mil) consumiu em junho 40 quilos de filé e 25 quilos de peito de frango na sua casa oficial. O doutor tem cozinheiras e administradora. Graças à repórter Lydia Medeiros, sabe-se que foi na casa de João Paulo Cunha que o deputado Valdemar Costa Neto, líder do PL, emitiu o grito primal da sua aliança com o PT:
- Nossa, não aguento mais comer!
Nunca houve um beneficiário de mordomias que deixasse de atribuir às paixões políticas a narrativa de suas abundâncias. Durante a ditadura, o repórter Ricardo Kotscho (atual assessor de imprensa de Lula) denunciou que o governador de Brasília comprara 17 quilos de melão num só dia. O líder do governo na Câmara atribuiu essa e outras demasias noticiadas nas reportagens de Kotscho a iniciativas "contaminadas pelo germe do comunismo internacional".
4) O eleitor pensa que já se aprendeu a velha lição de Juscelino Kubitschek: "Não tenho compromisso com o erro".
A Casa Civil do comissário José Dirceu abriu uma licitação para o fornecimento de gêneros básicos para os palácios de Lula. Eram 2.000 garrafinhas de pimenta envelhecida em barris de carvalho, 7.000 pacotes de biscoitos recheados e 600 quilos de bombons Sonho de Valsa. Põe básico nisso. Divulgada a insânia, a licitação foi suspensa. O que poderia ser um ato de austera humildade tornou-se prepotência. A Secretaria de Administração do comissariado informou que o edital sofrerá "ajustamentos".
Resta saber se o doutor Dirceu terá coragem de reaparecer com uma requisição para 600 quilos de bombom Sonho de Valsa. Quando o filantropo petebista José Carlos Martinez lhe deu um relógio Rolex, Dirceu percebeu a impropriedade do mimo.
É verdade que consumiu mais de 30 horas na reflexão, mas providenciou um ajustamento e doou a peça ao Fome Zero.
Serviço de utilidade pública: não se tratando de jóias de grife, nada haveria de errado se o palácio pedisse à fábrica de chocolates Lacta, mãe dos deliciosos Sonhos de Valsa, que assumisse o abastecimento dos palácios.
Divulgaria o chocolate brasileiro, como vem divulgando os calçados.


Texto Anterior: Memória: Missa de 7º dia de Roberto Marinho reúne cerca de mil pessoas no Rio
Próximo Texto: Operação social: Governo define unificação de programas
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.