São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PREÇO DA ALIANÇA

Ex-deputado diz que o presidente sabia do acordo fechado com José Dirceu para repassar R$ 10 milhões à legenda por apoio nas eleições

Lula sabia de pagamento ao PL, diz Valdemar

DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-deputado federal e presidente do PL, Valdemar Costa Neto, 55, afirmou que o PT pagou com malas de dinheiro o apoio de seu partido ao então candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.
Valdemar renunciou ao cargo de deputado no dia 1º de agosto, após confirmar que recebeu dinheiro do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como o operador do suposto "mensalão".
Em entrevista à revista "Época" desta semana, Valdemar afirmou que recebeu R$ 6,5 milhões de Marcos Valério -e não os R$ 10,8 milhões informados pelo publicitário à CPI. Disse ainda que o dinheiro viria de um acordo, fechado em junho de 2002, com o deputado José Dirceu (SP), então presidente nacional do PT.
"Tudo começou nas negociações para fechar o apoio a Lula em 2002, com José Alencar, do PL, como vice. Tivemos muitas reuniões em Brasília, na casa do José Dirceu. Sempre participavam o [deputado] João Paulo [Cunha, do PT], quase sempre o [ex-secretário-geral do PT] Silvio Pereira, sempre o [ex-tesoureiro do PT] Delúbio Soares, além de José Alencar [hoje vice-presidente]."
A aproximação entre PT e PL ficou mais difícil, disse ele, quando o Tribunal Superior Eleitoral aprovou a verticalização, vinculando as alianças estaduais às da disputa pela Presidência. O desafio do PL era conseguir 5% dos votos (mínimo exigido para garantir o fundo partidário) unindo-se apenas ao PT.
"As nossas chances de chegar a 5% eram pequenas. Falei para o Zé: "Preciso de uma estrutura muito maior para segurar meu pessoal". Ele falou: "Mas quanto?". Eu falei: "R$ 15 milhões, R$ 20 milhões'", disse Valdemar.
No dia 18 de junho de 2002, Valdemar disse que foi a uma reunião no apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PA) com Lula, José Alencar, Dirceu e Delúbio -o nome de uma assessora de Rocha surgiu como sacadora de R$ 920 mil de Marcos Valério.
O encontro era para decidir valores para o PL. Quando a conversa começou, disse Valdemar, Lula dirigiu-se a José Alencar: "Vamos sair porque esta conversa é entre partidos, não entre candidatos".
"Lula e Alencar ficaram na sala. Fomos para o quarto eu, Delúbio e Dirceu. Comecei pedindo R$ 20 milhões para levar uns R$ 15 milhões." Depois, o acordo foi fechado por R$ 10 milhões.

Presidente Lula
Questionado se Lula sabia que a conversa no quarto era sobre dinheiro, Valdemar disse: "Ele sabia. O presidente sabia o que a gente estava negociando. O Lula sabia o que o Dirceu estava fazendo, foi lá para bater o martelo."
Valdemar disse que o PL não recebeu o dinheiro durante a campanha e, por isso, passou a cobrar Dirceu e Delúbio, sem sucesso. No início do governo Lula, a situação mudou. Delúbio teria comentado sobre o empréstimo.
"Em fevereiro de 2003, ele [Delúbio] falou que ia me dar a primeira parcela. Falou para eu mandar meu pessoal até a SMPB [da qual Valério é sócio]."
O enviado por Valdemar, Jacinto Lamas, voltou a São Paulo com um envelope com cheques da SMPB para a empresa Guaranhuns que somavam R$ 800 mil.
Os cheques foram trocados por dinheiro por um segurança de Delúbio, disse. Segundo ele, o dinheiro estava em "malinhas com rodinhas, de levar no aeroporto".
Valdemar disse que a situação se repetiu duas ou três vezes. Depois, o repasse passou a ser feito por meio do Banco Rural.
"Foram R$ 6,5 milhões. Não chegou aos R$ 10,8 milhões que estão falando." Para saber onde está a diferença, somente a Guaranhuns, disse. A empresa é destinatária de mais de R$ 6,3 milhões transferidos por Marcos Valério.


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