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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PREÇO DA ALIANÇA
Ex-deputado diz que o presidente sabia do acordo fechado com José Dirceu para repassar R$ 10 milhões à legenda por apoio nas eleições
Lula sabia de pagamento ao PL, diz Valdemar
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-deputado federal e presidente do PL, Valdemar Costa Neto, 55, afirmou que o PT pagou
com malas de dinheiro o apoio de
seu partido ao então candidato
petista à Presidência, Luiz Inácio
Lula da Silva.
Valdemar renunciou ao cargo
de deputado no dia 1º de agosto,
após confirmar que recebeu dinheiro do publicitário Marcos
Valério Fernandes de Souza,
apontado como o operador do
suposto "mensalão".
Em entrevista à revista "Época"
desta semana, Valdemar afirmou
que recebeu R$ 6,5 milhões de
Marcos Valério -e não os R$ 10,8
milhões informados pelo publicitário à CPI. Disse ainda que o dinheiro viria de um acordo, fechado em junho de 2002, com o deputado José Dirceu (SP), então
presidente nacional do PT.
"Tudo começou nas negociações para fechar o apoio a Lula em
2002, com José Alencar, do PL, como vice. Tivemos muitas reuniões em Brasília, na casa do José
Dirceu. Sempre participavam o
[deputado] João Paulo [Cunha,
do PT], quase sempre o [ex-secretário-geral do PT] Silvio Pereira,
sempre o [ex-tesoureiro do PT]
Delúbio Soares, além de José
Alencar [hoje vice-presidente]."
A aproximação entre PT e PL ficou mais difícil, disse ele, quando
o Tribunal Superior Eleitoral
aprovou a verticalização, vinculando as alianças estaduais às da
disputa pela Presidência. O desafio do PL era conseguir 5% dos
votos (mínimo exigido para garantir o fundo partidário) unindo-se apenas ao PT.
"As nossas chances de chegar a
5% eram pequenas. Falei para o
Zé: "Preciso de uma estrutura
muito maior para segurar meu
pessoal". Ele falou: "Mas quanto?".
Eu falei: "R$ 15 milhões, R$ 20 milhões'", disse Valdemar.
No dia 18 de junho de 2002, Valdemar disse que foi a uma reunião no apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PA) com Lula, José Alencar, Dirceu e Delúbio
-o nome de uma assessora de
Rocha surgiu como sacadora de
R$ 920 mil de Marcos Valério.
O encontro era para decidir valores para o PL. Quando a conversa começou, disse Valdemar, Lula
dirigiu-se a José Alencar: "Vamos
sair porque esta conversa é entre
partidos, não entre candidatos".
"Lula e Alencar ficaram na sala.
Fomos para o quarto eu, Delúbio
e Dirceu. Comecei pedindo R$ 20
milhões para levar uns R$ 15 milhões." Depois, o acordo foi fechado por R$ 10 milhões.
Presidente Lula
Questionado se Lula sabia que a
conversa no quarto era sobre dinheiro, Valdemar disse: "Ele sabia. O presidente sabia o que a
gente estava negociando. O Lula
sabia o que o Dirceu estava fazendo, foi lá para bater o martelo."
Valdemar disse que o PL não recebeu o dinheiro durante a campanha e, por isso, passou a cobrar
Dirceu e Delúbio, sem sucesso.
No início do governo Lula, a situação mudou. Delúbio teria comentado sobre o empréstimo.
"Em fevereiro de 2003, ele [Delúbio] falou que ia me dar a primeira parcela. Falou para eu
mandar meu pessoal até a SMPB
[da qual Valério é sócio]."
O enviado por Valdemar, Jacinto Lamas, voltou a São Paulo com
um envelope com cheques da
SMPB para a empresa Guaranhuns que somavam R$ 800 mil.
Os cheques foram trocados por
dinheiro por um segurança de
Delúbio, disse. Segundo ele, o dinheiro estava em "malinhas com
rodinhas, de levar no aeroporto".
Valdemar disse que a situação
se repetiu duas ou três vezes. Depois, o repasse passou a ser feito
por meio do Banco Rural.
"Foram R$ 6,5 milhões. Não
chegou aos R$ 10,8 milhões que
estão falando." Para saber onde
está a diferença, somente a Guaranhuns, disse. A empresa é destinatária de mais de R$ 6,3 milhões
transferidos por Marcos Valério.
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