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GOVERNO PAULISTA
Empresa espanhola ganha contrato sem licitação para reformar os 48 trens que doou ao Estado
Doação de trens custa R$ 93 milhões em SP
IGOR GIELOW
da Reportagem Local
O governo de São Paulo está pagando R$ 93,20 milhões, sem licitação, para uma empresa espanhola reformar os 48 trens que entregou em doação ao Estado.
No último dia 7, a Secretaria dos
Transportes Metropolitanos publicou aviso em jornais registrando a doação de 48 trens (uma unidade motriz elétrica mais dois vagões) espanhóis da série 440.
Trens com cerca de dez anos de
uso, eles foram sucateados na Espanha pela Renfe (Red Nacional de
los Ferrocarriles, a RFFSA de lá). A
Renfe então resolveu doá-los a São
Paulo, dentro de um programa de
troca da frota espanhola.
No mesmo dia, a secretaria publicou outro aviso sobre um contrato de US$ 85,920 milhões (os R$
93,20 milhões no câmbio comercial) com a mesma Renfe.
Objetivo: "Prestação de serviços
de adaptação de 48 trens unidades
elétricos - série 440".
A adaptação não é simples. Além
de reformar todos os interiores,
com inclusão de ar-condicionado,
a bitola (espaço entre os trilhos)
dos trens não é compatível.
A Espanha usa o padrão UIC, europeu, que utiliza aço carbono como material e bitola de 1.435 mm.
No Brasil, o padrão é o norte-americano AAR, com 1.600 mm de bitola e uso de aço inoxidável.
Não houve licitação para o serviço. Segundo a CPTM (Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos,
que vai ficar com os vagões), isso
ocorreu porque a empresa espanhola é detentora de toda tecnologia da série 440.
"Não há nada de ilegal nisso tudo. Encaminhamos tudo aos órgão
responsáveis e o negócio é vantajoso", diz o presidente da CPTM, José Roberto Medeiros da Rosa.
Crítica
"Tem algo que não conseguimos entender", afirma o presidente da Abfer (Associação Brasileira
da Indústria Ferroviária), Massimo Giavina Bianchi.
O custo por composição (locomotiva mais dois vagões) é de US$
1,790 milhão. Só que o preço pago
pelo governo paulista não inclui
frete, Imposto de Importação e taxas estaduais. "Isso onera o preço
em mais 35%", diz Bianchi.
As oito empresas brasileiras que
produzem material ferroviário
oferecem o produto novo por US$
2 milhões a composição, segundo
dados da Abfer.
Medeiros da Rosa rebate: "Os
custos podem ser estes, mas o prazo que a indústria nacional pratica
não resolve".
Outro problema é o fornecimento de peças. A série 440 não é mais
produzida e não tem equivalentes
nacionais. Ou seja, a manutenção
dependerá dos espanhóis.
A Espanha tem um dos maiores
índices de desemprego da Europa,
na casa dos 20%. Hoje tenta integrar sua malha ferroviária à rede
de TGV, os trens-bala franceses, e
está trocando sua frota.
Refugo
"Estão se livrando do refugo,
mas não podem aumentar o desemprego. Não podemos resolver
o problema deles", afirma o arquiteto Vicente Bicudo, do Movimento Brasil Trem Jeito, que engloba
11 entidades do setor.
A área de produção ferroviária
está em queda no país. Emprega
8.000 pessoas, tendo demitido 500
no último bimestre. Movimentou
R$ 600 milhões em 1996.
Outra crítica de Bicudo é o fato
de que há 241 trens esperando por
reforma em São Paulo.
O PMDB deverá entregar hoje
denúncia ao TCE (Tribunal de
Contas do Estado) sobre o caso,
segundo o peemedebista João Oswaldo Leiva.
Neste ano, o TCE já apontara falta de licitação em contratos que
somaram R$ 176,5 milhões. O governo alegou caráter emergencial.
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