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JANIO DE FREITAS
Sem compromisso
O governo assume compromissos com o MST, não
os cumpre, o MST cria agitações
de represália, o governo aciona
intermediações, o MST cessa a
agitação, o governo assume
compromissos de ativar a reforma agrária. E assim outra vez.
E mais outra. E sempre.
O último acordo teve ingredientes que o tornassem mais
relevante do que os anteriores.
Foi feito em reunião na Presidência da República, com a presença de Fernando Henrique
Cardoso e dos ministros Raul
Jungmann e José Gregori e, pareceria incrível que isso fosse
necessário, com prelados da
CNBB por testemunhas. É o
acordo cujo descumprimento
absoluto pelo governo motiva
as ações atuais do MST.
O item fundamental do compromisso era o retorno à liberação de verbas para reativar a
reforma agrária, seja com as
iniciativas para novos assentamentos, seja com alguma atenção aos assentados. A relação
dos investimentos governamentais até o final de agosto, levantada pelo vigilante deputado
Agnelo Queiroz, apresenta a
aplicação de apenas R$ 8,7 milhões dos R$ 132,4 milhões autorizados para a reforma agrária.
Ou apenas 6,6% do que deveria.
O percentual aplicado na reforma agrária não alcançou
nem os ridículos 10% que o governo investiu, em oito meses,
do total estabelecido pelo Orçamento para este ano. Combinam-se, para isso, dois motivos
formais e um de outra natureza.
O primeiro dos dois é a obediência à limitação de gastos fixada pelo FMI. O outro é a falta
de seriedade, e frequentemente
a imoralidade mesma, na destinação das verbas disponíveis,
dentro do consentido pelo FMI.
Transcrevo, a propósito, o repórter Otávio Cabral, da Folha,
também com base no deputado
Agnelo Queiroz:
"Nos oito primeiro meses do
ano, foram gastos (pelo governo, com a orientação da Presidência) R$ 146 milhões em publicidade. O valor corresponde
à soma dos investimentos feitos
no mesmo período em saúde
(R$ 69 milhões), educação (R$
55 milhões) e ciência e tecnologia (R$ 22 milhões)".
Com outra conta, constata-se
que o governo gastou em publicidade o equivalente a 17 vezes
o que investiu em reforma agrária.
O terceiro dos motivos que levam a esses e a todos os outros
desvios de finalidade é a inversão adotada por Fernando
Henrique Cardoso e seu guru
Pedro Malan, pela qual o poder
econômico (e, portanto, jornalístico) se deixou embriagar:
não se destruiu a inflação para
reconstruir o país, mas se destrói o país para não haver inflação. Logo, a inflação não foi
vencida. Derrotado está sendo o
amanhã brasileiro. O governo
não tem compromisso com a sociedade nem com o país, senão
apenas com a idéia de inflação
dos tecnocratas que servem ao
FMI para servir aos maiores interesses postos na geopolítica e
no capitalismo internacional.
Ainda bem que, na distribuição de verbas, o Ministério da
Defesa destaca-se com excepcionais R$ 250 milhões em investimentos. Está, pois, em plenas condições (materiais, sobre
as outras há dúvidas) de correr
em defesa das propriedades
particulares de Fernando Henrique Cardoso. Aliás, elas também, outro prodígio de investimento desde a compra ao seu
admirável progresso como empreendimento.
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