São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2000

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QUESTÃO AGRÁRIA
PF e Exército são chamados para fazer segurança da fazenda
MST ameaça invadir pela 2ª vez terras de filhos de FHC

Carlos Humberto/"Estado de Minas"
Sem-terra protestam com bandeiras do MST em frente à fazenda de filhos de Fernando Henrique Cardoso, em Buritis, Minas


WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A BURITIS (MG)

O MST ameaça pela segunda vez invadir a fazenda Córrego da Ponte, dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso em Buritis (MG). A fazenda é usada pelo presidente para lazer nos finais de semana.
Nenhum policial mineiro participa da vigilância ao grupo formado por integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) da região do Entorno do Distrito Federal e de Goiás que estão acampados no portão principal da fazenda desde as 2h de ontem. Segundo os sem-terra, eles são entre 600 e 900 pessoas -segundo o Exército, cerca de 300. O governador Itamar Franco (sem partido) deu prazo para a retirada de tropas federais da região.
No início de julho, quando o MST fez a primeira das ameaças de invasão da fazenda de FHC, o governador de Minas questionou no Supremo Tribunal Federal o uso do Exército e da Polícia Federal no esquema de segurança montado pelo Planalto. Apesar dessa ação, Itamar manteve PMs na área externa da fazenda.
Ontem, a porteira principal da fazenda era mantida sob vigilância ostensiva do Comando de Operações Táticas (COT), o grupo de elite da Polícia Federal, que enviou cerca de 20 agentes em quatro veículos e num helicóptero. Em julho, a PF se manteve na área interna da fazenda.
Desde a manhã de segunda-feira, o Planalto monitorava as ações dos sem-terra. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chefiado pelo general Alberto Cardoso, coordenou as ações que apuraram a intenção dos sem-terra de invadir a fazenda de FHC.
Às 17h, o Planalto enviou alerta aos órgãos de segurança. Por volta das 20h, pouco após a assembléia decisiva dos sem-terra, foi dada a ordem de reforçar a segurança. Os policiais federais foram os primeiros a chegar, por volta da meia-noite de segunda.
Às 2h de ontem, chegaram os 295 homens do Batalhão da Guarda Presidencial do Exército -25 a menos que em julho. Até o início da noite de ontem, não haviam sido registrados incidentes.

Assembléia
Numa assembléia realizada ontem, os sem-terra estabeleceram o fim da tarde de hoje como horário para que a coordenação do movimento consiga do governo resposta às suas reivindicações.
"Se até amanhã (hoje) não tomarem providência, a responsabilidade do que vai acontecer não vai ser nossa, mas daquele que nos enganou no dia 3 de julho", afirmou Lucídio Ravanello, 35, um catarinense integrante da Coordenação Nacional do MST. Ele fez referência à data da audiência em que o presidente recebeu no Palácio do Planalto os líderes do MST, por intermédio da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em que eles apresentaram 50 reivindicações.
Dos 50 itens, os sem-terra elegeram sete pontos que consideram prioridade, dos quais três são apontados como urgentes: 1) a liberação de R$ 2.000 para cada uma das mais de 300 mil famílias assentadas em todo o país, para o custeio da safra, 2) assentamento de mais de 75 mil famílias acampadas em todo o país, 3) retorno dos projetos de assistência técnica aos assentados, suspensos em julho depois de denúncias de desvio de verbas por parte do MST.

Nota
O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República informou que decidiu empregar força federal na proteção da fazenda Córrego da Ponte por causa da "demora nas tratativas" com o governo de Minas Gerais.
O GSI e o Comando Militar do Planalto divulgaram notas sobre o deslocamento de militares e de agentes da Polícia Federal para a fazenda de familiares do presidente da República.
Segundo o GSI, embora estivesse ocorrendo diálogo entre o Incra e o MST, relacionado com reivindicações de famílias acampadas em Buritis, "surgiram fortes indícios de preparativos para a invasão da fazenda Córrego da Ponte, domicílio eventualmente utilizado pelo sr. presidente da República e seus familiares".
A nota diz que, antecipando-se aos fatos, houve troca de correspondência entre o GSI e o governo de Minas Gerais, ao qual foi solicitada a adoção das "medidas preventivas cabíveis ao caso".
O Comando Militar do Planalto informou que tropas do Batalhão da Guarda Presidencial deslocaram-se para a fazenda "com a finalidade de impedir a invasão pelos integrantes do MST".
"Para garantir a segurança da área foram deslocados para a região cerca de 250 homens, 20 viaturas militares e o equipamento necessário para a manutenção da ordem", diz a nota.


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