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FOLCLORE POLÍTICO
Consolo penal
AUGUSTO MARZAGÃO
Os modernos anais do folclore
político têm farta contribuição do ilustre mineiro José Maria
Alkmim a quem inclusive se atribui a responsabilidade de muitas
anedotas. Por exemplo, aquela
em que Alkmim pergunta a um
importante cabo eleitoral como
vai indo o seu pai. "Já morreu há
alguns anos", responde encabulado o cidadão. Sem perder a linha,
o "gaffeur" teria rebatido: "Morreu para você, filho ingrato. Para
mim permanece vivo no meu coração".
Tão hábil, esperto e embromador era Alkmim que até o chamavam de "a raposa prateada". Fez
uma bela carreira. Foi líder de
Juscelino na Câmara, influente
ministro da Fazenda no governo
JK, vice-presidente no governo
Castello Branco. Bem-educado,
de conversa afável, prometia sempre uma solução favorável ou esperançosa para os pleitos que lhe
eram levados.
Já procedia assim desde o tempo que dirigia a Penitenciária das
Neves, em Belo Horizonte. Conta-se que em certa ocasião, ao examinar a lista dos detentos, viu um
nome que lhe era familiar. Mandou chamar o preso e chega um
jovem dos seus 23-24 anos. Alkmim pergunta: "Você é filho de
João Dias, de Diamantina?". "Sou
sim, doutor", respondeu o jovem e
acrescentou: "Fui condenado a
cinco anos de reclusão por dar
uma facada na minha namorada. Tive uma crise de ciúmes".
Com a sua fértil e célere imaginação, e condoído com a sorte do
rapaz, Alkmim teria dito que ia
procurar uma forma de amenizar
a sua pena. Logo apanhou papel e
lápis e começou a fazer as contas
para o condenado, assim explicando: "Como você sabe, o ano
tem 365 dias e cinco anos são 1825
dias. Nos cinco anos, há 260 domingos, quando ninguém faz nada. Nos sábados trabalha-se apenas meio-dia -são 130 sábados.
Na sua idade, você tem que dormir no mínimo oito horas por dia,
e cinco anos representam 608 dias
dormindo. Durante cinco anos temos algo em torno de cem dias feriados, entre federais, estaduais e
municipais. Você soma 260 + 130
+ 608 + 100 e totaliza 1098 dias.
Pegue os 1825 dias e deles retire
1098 e você chegará ao total de
727 dias. Dividindo esse resultado
por 30 sobrarão 24 meses, ou seja,
somente dois anos de prisão...".
O condenado sorriu e suspirou
aliviado. Embromado, mas feliz.
AUGUSTO MARZAGÃO, jornalista, autor do livro "Memorial do Presente", ex-secretário particular dos presidentes Jânio Quadros e José Sarney e ex-secretário de Comunicação Institucional do presidente Itamar Franco, escreve às sextas-feiras nesta seção
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