São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CENTENÁRIO

Presidente aconselha postulantes ao Planalto a não elevarem ataques a um nível que inviabilize a reconciliação após a eleição

"Inspirem-se em JK", diz FHC a candidatos

Sergio Lima/Folha Imagem
FHC participa de solenidade em comemoração do centenário do nascimento de JK, em Brasília


SANDRO LIMA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso mandou um recado aos presidenciáveis na cerimônia de comemoração do centenário de nascimento de Juscelino Kubitschek: que não elevem os ataques a tal ponto que uma reconciliação seja impossível depois.
Citando JK, disse que deseja que seu sucessor consiga uma base sólida no Congresso. "Desejo que o presidente eleito, seja ele quem venha a ser, possa reunir em torno do seu programa de governo uma sólida base parlamentar, como eu próprio, inspirado por Juscelino, procurei fazer." Para FHC, "tolerância e discernimento são cada vez mais necessários aos líderes políticos de nosso tempo" e "nada substitui o diálogo no exercício democrático do poder".
O presidente também repetiu uma frase dita em Manaus, no início da semana, enfatizando a utilização do diálogo como a melhor forma de exercer o governo. "Eu disse também, lá em Manaus, nunca ter visto, no calor das palavras, a labareda das armas de fogo, aqui, no Brasil. Quando o calor é só das palavras, há sempre a possibilidade de outras que arrefeçam o calor. E há sempre formas de diálogo, de entendimento."
Segundo ele, "a defesa de um ponto de vista não pode chegar a inviabilizar uma marcha em comum". "Essa é a essência, a forma de fazer política, é o desafio da política", discursou ele para cerca de 200 pessoas, entre autoridades e convidados, durante a cerimônia no Palácio da Alvorada.
FHC citou o que considera como "qualidades fundamentais" de JK. "Tolerância e discernimento que são cada vez mais necessários aos líderes políticos de nosso tempo, aqui e pelo mundo afora. Tempo que convive com o terrorismo e, infelizmente, com novas possibilidades de guerra."
Ele disse que "115 milhões de pessoas vão votar em tranquilidade, paz e diálogo. Às vezes, com palavras mais candentes, mas depois com outras que possam abafar os ímpetos, que são normais em épocas de campanha".
FHC também lembrou o gesto de JK em conceder a anistia a militares que tentaram derrubá-lo. "Nunca me esqueço do significado do gesto de Juscelino do perdão da anistia. A anistia àqueles que haviam levantado armas contra ele. A generosidade faz parte daqueles que são capazes de ter descortino na história. Só quem não vê mais longe guarda vingança, sentimentos de reserva frente aos outros e mágoas. As mágoas às vezes ficam. Mas aí ficam bem escondidas", afirmou.
Durante a solenidade, FHC e a filha de JK, Maria Estela Kubitschek, descerraram uma placa em memória do ex-presidente, sob uma árvore da espécie sibipiruna, originária da mata atlântica e uma das preferidas de Juscelino. A árvore foi dedicada simbolicamente a Juscelino. Maria Estela agradeceu FHC por ter criado a comissão que organizou as comemorações do centenário de JK.
Em visita a Belo Horizonte, o candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, acusou FHC de adotar justamente a atitude que criticara em seu discurso. "Vejam só o que ele mandou para Minas no Orçamento deste ano. É vergonhoso ele deixar esse povo à mingua só por causa da briguinha dele com o Itamar Franco."

Colaborou LIEGE ALBUQUERQUE, enviada especial a Belo Horizonte



Texto Anterior: Folclore Político - Augusto Marzagão: Consolo penal
Próximo Texto: Avaliação do governo FHC continua estável
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.