São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Buani teve pedido atendido em 2003

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Uma das questões-chave no choque de versões entre Severino Cavalcanti (PP-PE) e o empresário Sebastião Augusto Buani, a existência ou não da reunião em que teria sido acertado o pagamento do "mensalinho", em 31 de janeiro de 2003, voltou ao centro das atenções ontem. Ao contrário do que o presidente da Câmara e seus auxiliares afirmam, Severino assinou um documento no final de janeiro daquele ano que contemplou um importante pleito de Sebastião Buani.
Esse documento é a autorização para que o principal restaurante da Câmara, administrado na ocasião pela Fiorella, de Buani, reajustasse o preço da refeição em 39,34%. O novo valor -que elevou o valor do quilo de comida de R$ 6,10 para R$ 8,50- entrou em vigor no dia 3 de fevereiro.
Severino é acusado de receber mesada de Buani durante nove meses em 2003. O acerto teria ocorrido, segundo Buani, em reunião no dia 31 de janeiro, no gabinete de Severino, então primeiro-secretário da Casa, uma espécie de "prefeito" da Câmara.
Buani diz que se comprometeu com a propina porque, sem ela, Severino não assinaria a renovação do contrato de exploração do restaurante na Câmara até 2004, além de não autorizar o reajuste pedido. Ele diz que além da renovação, tratou de pedir o reajuste na reunião do dia 31 de janeiro.
Na sua entrevista coletiva de anteontem, Severino foi taxativo sobre a reunião: "A inconsistência de tal versão é claríssima. A autorização para a prorrogação do contrato se deu no dia 3 de janeiro e não no dia 31. Antes disso, desde 24 de janeiro, o novo contrato já se encontrava em vigor. Jamais houve a tal reunião do dia 31".
Ontem, o assessor jurídico da presidência da Câmara Marcos César Vasconcelos divulgou cópia dos contratos corroborando a palavra de Severino, e reforçou: "Com certeza, esse [documento] do dia 31, não vai aparecer nada ali". Ou seja, comprovado que o contrato da empresa de Buani com a Câmara foi renovado antes de 31 de janeiro, Severino não teria ferramentas para forçar Buani, naquela data, a lhe pagar propina.
A não ser em relação ao valor cobrado pela comida, detalhe não mencionado tanto por Severino como por sua assessoria.
O processo 227/ 2003, ao qual a Folha teve acesso, mostra que Severino tinha sim uma "carta na manga" caso tivesse a intenção de extorquir dinheiro do empresário naquele final de janeiro.

Conflito de datas
A Câmara recebeu o requerimento com o pedido de reajuste em 3 de janeiro de 2003, mas ele só foi autorizado por Severino entre o dia 27 e o dia 31.
No dia 27, o processo entrou em tramitação com regime de urgência e foi assinado até o dia 31. O dia mais provável em que a assinatura tenha ocorrido é 31 de janeiro porque o reajuste entrou em vigor no primeira dia útil seguinte, ou seja, 3 de fevereiro.
O assessor jurídico Vasconcelos procurou negar inclusive essa hipótese ontem -"esse pedido de realinhamento de preços foi feito lá atrás, não foi [em janeiro]"-, mas a Comunicação Social da Câmara confirmou no início da noite que o despacho com a assinatura de Severino ocorreu no final de janeiro, provavelmente no dia 31, e entrou em vigor em 3 de fevereiro. A Câmara não havia fornecido até o fechamento desta edição cópia do contrato com a data exata.
Pesa a favor de Severino o fato de que tudo indica que a prorrogação do contrato realmente ocorreu antes de 31 de janeiro.
Na entrevista em que detalhou o suposto esquema de corrupção, Buani disse que a "reunião do mensalinho" foi para tratar da renovação do contrato. Mas também pesa contra o fato de que Buani, na mesma entrevista, disse que na reunião solicitou a Severino que "olhasse também" o pedido de reajuste.
Na entrevista concedida no último domingo, Severino taxou Buani de "maldoso acusador" e pontuou suas declarações com acusações contra o empresário, a quem chamou de farsante. Segundo o presidente da Câmara, a cada hora o empresário apresentaria uma versão diferente dos fatos. "Ora foi dividido com o deputado Gonzaga Patriota [PSB-PE], ora não", diz em relação à propina de R$ 40 mil paga em 2002.
Já Buani vem orientando sua defesa na linha de que o documento assinado por Severino é verídico e que outras provas materiais do suposto pagamento da propina irão aparecer.


Texto Anterior: Perito diz duvidar da existência de original
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/A hora do "mensalinho": Oposição recua e votará cassação de Jefferson
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.