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Buani teve pedido atendido em 2003
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Uma das questões-chave no
choque de versões entre Severino
Cavalcanti (PP-PE) e o empresário Sebastião Augusto Buani, a
existência ou não da reunião em
que teria sido acertado o pagamento do "mensalinho", em 31 de
janeiro de 2003, voltou ao centro
das atenções ontem. Ao contrário
do que o presidente da Câmara e
seus auxiliares afirmam, Severino
assinou um documento no final
de janeiro daquele ano que contemplou um importante pleito de
Sebastião Buani.
Esse documento é a autorização
para que o principal restaurante
da Câmara, administrado na ocasião pela Fiorella, de Buani, reajustasse o preço da refeição em
39,34%. O novo valor -que elevou o valor do quilo de comida de
R$ 6,10 para R$ 8,50- entrou em
vigor no dia 3 de fevereiro.
Severino é acusado de receber
mesada de Buani durante nove
meses em 2003. O acerto teria
ocorrido, segundo Buani, em reunião no dia 31 de janeiro, no gabinete de Severino, então primeiro-secretário da Casa, uma espécie
de "prefeito" da Câmara.
Buani diz que se comprometeu
com a propina porque, sem ela,
Severino não assinaria a renovação do contrato de exploração do
restaurante na Câmara até 2004,
além de não autorizar o reajuste
pedido. Ele diz que além da renovação, tratou de pedir o reajuste
na reunião do dia 31 de janeiro.
Na sua entrevista coletiva de anteontem, Severino foi taxativo sobre a reunião: "A inconsistência
de tal versão é claríssima. A autorização para a prorrogação do
contrato se deu no dia 3 de janeiro
e não no dia 31. Antes disso, desde
24 de janeiro, o novo contrato já
se encontrava em vigor. Jamais
houve a tal reunião do dia 31".
Ontem, o assessor jurídico da
presidência da Câmara Marcos
César Vasconcelos divulgou cópia dos contratos corroborando a
palavra de Severino, e reforçou:
"Com certeza, esse [documento]
do dia 31, não vai aparecer nada
ali". Ou seja, comprovado que o
contrato da empresa de Buani
com a Câmara foi renovado antes
de 31 de janeiro, Severino não teria ferramentas para forçar Buani,
naquela data, a lhe pagar propina.
A não ser em relação ao valor
cobrado pela comida, detalhe não
mencionado tanto por Severino
como por sua assessoria.
O processo 227/ 2003, ao qual a
Folha teve acesso, mostra que Severino tinha sim uma "carta na
manga" caso tivesse a intenção de
extorquir dinheiro do empresário
naquele final de janeiro.
Conflito de datas
A Câmara recebeu o requerimento com o pedido de reajuste
em 3 de janeiro de 2003, mas ele
só foi autorizado por Severino entre o dia 27 e o dia 31.
No dia 27, o processo entrou em
tramitação com regime de urgência e foi assinado até o dia 31. O
dia mais provável em que a assinatura tenha ocorrido é 31 de janeiro porque o reajuste entrou em
vigor no primeira dia útil seguinte, ou seja, 3 de fevereiro.
O assessor jurídico Vasconcelos
procurou negar inclusive essa hipótese ontem -"esse pedido de
realinhamento de preços foi feito
lá atrás, não foi [em janeiro]"-,
mas a Comunicação Social da Câmara confirmou no início da noite que o despacho com a assinatura de Severino ocorreu no final de
janeiro, provavelmente no dia 31,
e entrou em vigor em 3 de fevereiro. A Câmara não havia fornecido
até o fechamento desta edição cópia do contrato com a data exata.
Pesa a favor de Severino o fato
de que tudo indica que a prorrogação do contrato realmente
ocorreu antes de 31 de janeiro.
Na entrevista em que detalhou o
suposto esquema de corrupção,
Buani disse que a "reunião do
mensalinho" foi para tratar da renovação do contrato. Mas também pesa contra o fato de que
Buani, na mesma entrevista, disse
que na reunião solicitou a Severino que "olhasse também" o pedido de reajuste.
Na entrevista concedida no último domingo, Severino taxou
Buani de "maldoso acusador" e
pontuou suas declarações com
acusações contra o empresário, a
quem chamou de farsante. Segundo o presidente da Câmara, a
cada hora o empresário apresentaria uma versão diferente dos fatos. "Ora foi dividido com o deputado Gonzaga Patriota [PSB-PE],
ora não", diz em relação à propina
de R$ 40 mil paga em 2002.
Já Buani vem orientando sua
defesa na linha de que o documento assinado por Severino é
verídico e que outras provas materiais do suposto pagamento da
propina irão aparecer.
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