São Paulo, Quarta-feira, 13 de Outubro de 1999
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Ex-ministro embarca para os Estados Unidos

da Reportagem Local

O pré-candidato à Presidência da República pelo PPS, Ciro Gomes, viajou no começo da madrugada de ontem para os Estados Unidos.
Ciro pretende passar uma semana na Universidade de Harvard, na região de Boston, onde esteve por dois anos. Deve escrever lá um artigo a quatro mãos com o filósofo Roberto Mangabeira Unger, professor de direito da universidade e principal ideólogo da candidatura derrotada do PPS à Presidência em 1998.
O ex-governador do Ceará voltou a contestar reportagem publicada pela Folha no último domingo, segundo a qual Ciro omitiu receitas ao Fisco em 1995 e em 1997.
No aeroporto, disse que morou no quarto dos fundos da casa de sua irmã, em Fortaleza (CE), no primeiro semestre de 97, para tentar mostrar que levava uma vida com poucos gastos.
"Eu, ex-ministro da Fazenda, ex-governador, estava morando no quarto dos fundos da casa da minha irmã", afirmou.
Ele contestou a informação publicada pela Folha de que teve R$ 195 por mês para cobrir todas as suas despesas em 97, conforme sua declaração de renda. Pelo raciocínio de Ciro, foram R$ 863,74.
A principal crítica de Ciro refere-se ao fato de a reportagem ter contabilizado o valor do Imposto de Renda devido como despesa. O procedimento foi adotado porque normalmente as pessoas que pagam altos valores de imposto fazem a provisão dos recursos, de acordo com tributaristas.
Se não for feita a provisão, é preciso considerar que o pagamento do IR do ano anterior ocorre com recursos do atual.
Ciro afirma que os valores do IR devido nos anos anteriores são diferentes dos valores dos analisados pela Folha, o que criaria distorções. "Você confundiu alho com bugalho. Quando registra imposto devido, não é despesa. Imposto devido é um anúncio para você pagar no ano que vem. Você não pode comparar o imposto que eu estou devendo, a pagar no ano que vem, e abater da minha disponibilidade para honrar o meu consumo doméstico, como se eu tivesse realizado essa despesa."
Pelos cálculos publicados pela Folha, Ciro teve R$ 195 por mês, para viver em 97. Mas, de acordo com o raciocínio de Ciro, o valor é maior: R$ 863,74, para pagar todas as suas despesas pessoais, inclusive o IR devido do ano anterior.
A diferença ocorre porque Ciro não aceita a inclusão dos R$ 8.024,87 que ele ficou devendo de IR em 97 como despesa daquele ano, porque o valor só teria sido pago no ano seguinte. Ele não informa, contudo, o valor do IR devido de 96 que foi pago em 97.
O próprio presidenciável admite que deixou de declarar o direito de uso de um Audi A-6, cedido para ele pelo Beach Park -parque aquático de Fortaleza- como pagamento por serviços prestados, e o rendimento das fazendas do espólio de seu pai, que serviriam para pagar as despesas de seu escritório em Fortaleza. Para o fisco, os dois rendimentos são tributáveis.
De acordo com os cálculos feitos pela Folha, a disponibilidade financeira de Ciro em 95 foi de R$ 1.135,38 por mês. Ele só teve R$ 459,76 de IR retido na fonte e ficou devendo R$ 16.765,70 à Receita Federal.
Se for descontado o valor do IR devido, como quer Ciro, a disponibilidade mensal é de R$ 2.532,53, para ele pagar todas as suas despesas pessoais, da mulher e dos três filhos pequenos, inclusive o IR devido do ano anterior.

Justificativa
O ex-ministro admite que os valores declarados não foram suficientes para pagar suas contas. Ele diz ter deixado de declarar uma bolsa de R$ 2.000 mensais, recebida da Fundação Ford, e R$ 6.000 obtidos com um leilão de objetos pessoais, realizado em sua casa.
O ex-ministro reclamou que a reportagem de domingo não deixa claro que o pagamento de todas as suas contas foi justificado.
A reportagem afirma que as receitas declaradas por Ciro ao IR são insuficientes para cobrir suas despesas, mas os outros rendimentos que Ciro diz ter tido -e que não foram declarados- justificariam o pagamento das despesas apuradas pela Folha.
"Isso é minha honra. Em defesa dela, vou às últimas consequências, estou pouco ligando para o resto", afirma Ciro. "Você está querendo me levar para a vala comum da canalhice política deste país. Este é um país de políticos safados, e eu não sou."
O ex-ministro reclamou do fato de a reportagem afirmar que ele teve um crescimento patrimonial de 1.085% em quatro anos, sem levar em consideração a inflação do período.
"Você compara valores nominais, em um país que teve inflação de 67% acumulada no período. O que está escrito lá é para fazer a difamação", afirma.
Ciro esclareceu que vai pagar a viagem de sua filha que estuda na Suíça, mas disse que parcelou o pagamento.
A reportagem informava que ela estava lá e que Ciro dizia ainda não ter desembolsado dinheiro para a viagem dela.
(ROBERTO COSSO)


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