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Ex-ministro embarca para os Estados Unidos
da Reportagem Local
O pré-candidato à Presidência
da República pelo PPS, Ciro Gomes, viajou no começo da madrugada de ontem para os Estados
Unidos.
Ciro pretende passar uma semana na Universidade de Harvard, na região de Boston, onde
esteve por dois anos. Deve escrever lá um artigo a quatro mãos
com o filósofo Roberto Mangabeira Unger, professor de direito
da universidade e principal ideólogo da candidatura derrotada do
PPS à Presidência em 1998.
O ex-governador do Ceará voltou a contestar reportagem publicada pela Folha no último domingo, segundo a qual Ciro omitiu receitas ao Fisco em 1995 e em
1997.
No aeroporto, disse que morou
no quarto dos fundos da casa de
sua irmã, em Fortaleza (CE), no
primeiro semestre de 97, para
tentar mostrar que levava uma vida com poucos gastos.
"Eu, ex-ministro da Fazenda,
ex-governador, estava morando
no quarto dos fundos da casa da
minha irmã", afirmou.
Ele contestou a informação publicada pela Folha de que teve R$
195 por mês para cobrir todas as
suas despesas em 97, conforme
sua declaração de renda. Pelo raciocínio de Ciro, foram R$ 863,74.
A principal crítica de Ciro refere-se ao fato de a reportagem ter
contabilizado o valor do Imposto
de Renda devido como despesa.
O procedimento foi adotado porque normalmente as pessoas que
pagam altos valores de imposto
fazem a provisão dos recursos, de
acordo com tributaristas.
Se não for feita a provisão, é preciso considerar que o pagamento
do IR do ano anterior ocorre com
recursos do atual.
Ciro afirma que os valores do IR
devido nos anos anteriores são diferentes dos valores dos analisados pela Folha, o que criaria distorções. "Você confundiu alho
com bugalho. Quando registra
imposto devido, não é despesa.
Imposto devido é um anúncio para você pagar no ano que vem.
Você não pode comparar o imposto que eu estou devendo, a pagar no ano que vem, e abater da
minha disponibilidade para honrar o meu consumo doméstico,
como se eu tivesse realizado essa
despesa."
Pelos cálculos publicados pela
Folha, Ciro teve R$ 195 por mês,
para viver em 97. Mas, de acordo
com o raciocínio de Ciro, o valor é
maior: R$ 863,74, para pagar todas as suas despesas pessoais, inclusive o IR devido do ano anterior.
A diferença ocorre porque Ciro
não aceita a inclusão dos R$
8.024,87 que ele ficou devendo de
IR em 97 como despesa daquele
ano, porque o valor só teria sido
pago no ano seguinte. Ele não informa, contudo, o valor do IR devido de 96 que foi pago em 97.
O próprio presidenciável admite que deixou de declarar o direito
de uso de um Audi A-6, cedido
para ele pelo Beach Park -parque aquático de Fortaleza- como pagamento por serviços prestados, e o rendimento das fazendas do espólio de seu pai, que serviriam para pagar as despesas de
seu escritório em Fortaleza. Para
o fisco, os dois rendimentos são
tributáveis.
De acordo com os cálculos feitos pela Folha, a disponibilidade
financeira de Ciro em 95 foi de R$
1.135,38 por mês. Ele só teve R$
459,76 de IR retido na fonte e ficou devendo R$ 16.765,70 à Receita Federal.
Se for descontado o valor do IR
devido, como quer Ciro, a disponibilidade mensal é de R$
2.532,53, para ele pagar todas as
suas despesas pessoais, da mulher
e dos três filhos pequenos, inclusive o IR devido do ano anterior.
Justificativa
O ex-ministro admite que os valores declarados não foram suficientes para pagar suas contas. Ele
diz ter deixado de declarar uma
bolsa de R$ 2.000 mensais, recebida da Fundação Ford, e R$ 6.000
obtidos com um leilão de objetos
pessoais, realizado em sua casa.
O ex-ministro reclamou que a
reportagem de domingo não deixa claro que o pagamento de todas as suas contas foi justificado.
A reportagem afirma que as receitas declaradas por Ciro ao IR
são insuficientes para cobrir suas
despesas, mas os outros rendimentos que Ciro diz ter tido -e
que não foram declarados- justificariam o pagamento das despesas apuradas pela Folha.
"Isso é minha honra. Em defesa
dela, vou às últimas consequências, estou pouco ligando para o
resto", afirma Ciro. "Você está
querendo me levar para a vala comum da canalhice política deste
país. Este é um país de políticos
safados, e eu não sou."
O ex-ministro reclamou do fato
de a reportagem afirmar que ele
teve um crescimento patrimonial
de 1.085% em quatro anos, sem
levar em consideração a inflação
do período.
"Você compara valores nominais, em um país que teve inflação
de 67% acumulada no período. O
que está escrito lá é para fazer a difamação", afirma.
Ciro esclareceu que vai pagar a
viagem de sua filha que estuda na
Suíça, mas disse que parcelou o
pagamento.
A reportagem informava que
ela estava lá e que Ciro dizia ainda
não ter desembolsado dinheiro
para a viagem dela.
(ROBERTO COSSO)
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