São Paulo, Quarta-feira, 13 de Outubro de 1999
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JANIO DE FREITAS

Coisa do passado

Em algum lugar você já leu que todo dia é dia das crianças e que o Brasil é o país das crianças abandonadas. Então deve estar preparado para outro assunto de muita originalidade: Fernando Henrique Cardoso. Ou "a infantilidade política do presidente". Ou "a velhice abandonada".
Pois é, nada mais gira em torno do presidente da República, como seria apropriado no país presidencialista. Os ministros cuidam apenas de se manter nos cargos e arranjar um ou outro centímetro nos jornais e nas TVs, para mostrar que ainda continuam ministros. Paulo Renato Souza, que, sabe-se pelos seus vencimentos e mordomias, desobriga-se como ministro da Educação, é um esmoler, caitituando um artiguete ali, uma entrevistinha lá.
Pedro Malan, nos intervalos de sua principal atividade, que é posar para fotografia e TV, não pede aqui. Mas o trabalho que dá ao FMI, nenhum burocrata internacional, habituado a trabalhar só uns 40 minutos por dia, jamais imaginou ter. Desde Roberto Campos, nenhum ministro contou com tamanho serviço de segurança internacional.
Os congressistas só pensam, falam e agem em torno de um motivo: a eleição presidencial. Supõe-se, às vezes, estar falando com um líder partidário sobre dado projeto em andamento no Congresso. Qual nada. É só atentar um pouco e se percebe que as considerações sobre o projeto, ou sobre a disputa provocada entre os partidos, não passam de considerações políticas com os olhos e as palavras postos na sucessão.
Com menos de dez meses de mandato, Fernando Henrique Cardoso é visto pelas costas. Coisa do passado. Por pouco mais, seria como se nem existisse. O que já é a posição de muito político graúdo em relação a ele. Com uma ou outra disfarçada conveniente. No estilo, por exemplo, peemedebista: "Não vamos romper com o presidente, mas estamos adotando uma posição de independência" (Michel Temer, Jader Barbalho). O estilo pefelista tem as bem conhecidas variações da artilharia de Antonio Carlos Magalhães, da objetividade eficiente de Inocêncio Oliveira e da dura diplomacia de Jorge Bornhausen.
E Fernando Henrique, como está, diante disso? Mesmo que, seguramente, esteja considerando todo mundo errado e só ele certo, algum efeito a percepção do seu tombo há de produzir. Não se trata de curiosidade sobre suas condições psicológicas, mas dos sinais de alguma disposição nova, alguma procuradora de idéias para deter o tombo do próprio país.
Nada. Nenhum dos interlocutores presidenciais sondados, em semanas de tentativa, teve uma indicação para proporcionar. É fácil entender por quê, faltando mais de três quartos do mandato, o Planalto e o Alvorada tomam ares de asilos da velhice abandonada.


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