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JANIO DE FREITAS
Coisa do passado
Em algum lugar você já leu que
todo dia é dia das crianças e que o
Brasil é o país das crianças abandonadas. Então deve estar preparado para outro assunto de muita
originalidade: Fernando Henrique Cardoso. Ou "a infantilidade
política do presidente". Ou "a velhice abandonada".
Pois é, nada mais gira em torno
do presidente da República, como
seria apropriado no país presidencialista. Os ministros cuidam
apenas de se manter nos cargos e
arranjar um ou outro centímetro
nos jornais e nas TVs, para mostrar que ainda continuam ministros. Paulo Renato Souza, que, sabe-se pelos seus vencimentos e
mordomias, desobriga-se como
ministro da Educação, é um esmoler, caitituando um artiguete
ali, uma entrevistinha lá.
Pedro Malan, nos intervalos de
sua principal atividade, que é posar para fotografia e TV, não pede
aqui. Mas o trabalho que dá ao
FMI, nenhum burocrata internacional, habituado a trabalhar só
uns 40 minutos por dia, jamais
imaginou ter. Desde Roberto
Campos, nenhum ministro contou com tamanho serviço de segurança internacional.
Os congressistas só pensam, falam e agem em torno de um motivo: a eleição presidencial. Supõe-se, às vezes, estar falando com um
líder partidário sobre dado projeto em andamento no Congresso.
Qual nada. É só atentar um pouco e se percebe que as considerações sobre o projeto, ou sobre a
disputa provocada entre os partidos, não passam de considerações
políticas com os olhos e as palavras postos na sucessão.
Com menos de dez meses de
mandato, Fernando Henrique
Cardoso é visto pelas costas. Coisa
do passado. Por pouco mais, seria
como se nem existisse. O que já é a
posição de muito político graúdo
em relação a ele. Com uma ou outra disfarçada conveniente. No estilo, por exemplo, peemedebista:
"Não vamos romper com o presidente, mas estamos adotando
uma posição de independência"
(Michel Temer, Jader Barbalho).
O estilo pefelista tem as bem conhecidas variações da artilharia
de Antonio Carlos Magalhães, da
objetividade eficiente de Inocêncio Oliveira e da dura diplomacia
de Jorge Bornhausen.
E Fernando Henrique, como está, diante disso? Mesmo que, seguramente, esteja considerando
todo mundo errado e só ele certo,
algum efeito a percepção do seu
tombo há de produzir. Não se trata de curiosidade sobre suas condições psicológicas, mas dos sinais
de alguma disposição nova, alguma procuradora de idéias para
deter o tombo do próprio país.
Nada. Nenhum dos interlocutores presidenciais sondados, em semanas de tentativa, teve uma indicação para proporcionar. É fácil entender por quê, faltando
mais de três quartos do mandato,
o Planalto e o Alvorada tomam
ares de asilos da velhice abandonada.
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