São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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Lula deve elevar tom de críticas ao governo FHC

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os primeiros programas de TV do PT no segundo turno deverão elevar o tom das críticas ao governo FHC, mas num nível de agressividade menor do que o planejado pela equipe de marketing do tucano José Serra.
O programa de amanhã também exibirá os apoios de Ciro Gomes (PPS) e de Anthony Garotinho (PSB) a Luiz Inácio Lula da Silva e, ao longo da semana, venderá a idéia de que o candidato petista tem mais condições políticas e um perfil conciliador que o tornariam mais apto a dirigir o país do que Serra.
Até o presidente Fernando Henrique Cardoso, que deveria ser poupado de ataques pessoais, pode entrar na mira do PT no horário eleitoral. O partido considerou corretas e esperadas as intensas articulações que FHC fez a favor de Serra na semana passada.
Mas julgou que, depois de o presidente ter se mantido equilibrado no primeiro turno, ajudou Serra a fazer terrorismo contra Lula ao determinar que o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, insinuasse na quarta que o fator Lula seria o maior responsável pela alta continuada do dólar.
Ao lado do publicitário Duda Mendonça, Lula e o presidente do PT, o deputado federal José Dirceu (SP), decidiriam até hoje o tom dos ataques. Para responder à crítica do tucano de que "quem conhece o PT não vota no PT", citando o desempenho abaixo da média nacional obtido por Lula no Rio Grande do Sul, Estado governado pelo PT, Duda, se optar pela linha dura, deverá responder mais ou menos o seguinte: "Quem conhece o governo do PSDB não vota em Serra", numa referência aos cerca de 20 milhões de votos que Lula teve a mais do que o tucano no primeiro turno.
Um telefonema de um ministro de FHC a Dirceu na quinta-feira contribuiu para refazer pontes entre o presidente e o partido. E a dianteira de 26 pontos percentuais de Lula sobre Serra na pesquisa Datafolha divulgada hoje deverá contribuir para petardos mais leves, a fim de transmitir a idéia de que quem quer briga é Serra. Avalia-se no PT que, ao bater muito forte, o tucano correrá o risco de ver o tiro sair pela culatra.
Até receberem na sexta pesquisas internas mostrando dianteira de cerca de 25 pontos percentuais sobre Serra, o ânimo dos petistas era revidar no mesmo tom, especialmente após as declarações de Serra de que uma vitória de Lula levaria o país a um crise econômica grave no prazo de três meses. Os tucanos também compararam Lula a Hugo Chávez, presidente venezuelano que enfrentou seguidas crises institucionais.
O publicitário Duda Mendonça, marqueteiro de Lula, recusou-se a comentar a linha do programa, sob a alegação de que só falará "depois do final do segundo turno". A Folha, porém, apurou com coordenadores de campanha que Duda ainda testaria hoje dois tipos de formato para o programa.
A tendência era apresentar a fórmula considerada exitosa no primeiro turno, com a tradicional abertura de Lula em meio a dezenas de petistas que trabalharam na formulação de suas propostas de governo. Com 10 minutos para cada um dos dois programas diários, Duda acrescentaria mais doses de emoção do que pôde na primeira fase, quando tinha um tempo bem menor. Deverá ter música nova, além de mais peças de impacto emocional e de "reportagens" sobre mazelas sociais.
A alternativa seria reformular a abertura e também outros bordões, como o "Agora é Lula".
Era consenso, porém, que deverá continuar a haver ênfase nas propostas de Lula, qualificando o candidato e rebatendo a acusação tucana de que o petista quer fugir de debates na emissoras de TV.
O partido deverá ainda apresentar quais seriam as suas cinco reformas prioritárias. Pela ordem, elas são a tributária, a trabalhista, a agrária, a previdenciária e a política. O PT dirá, por exemplo, que FHC falhou na aprovação de uma reforma tributária e que Lula não falhará, articulando um pacto nacional para aprová-la.
Para vender a capacidade de implementar essas reformas, o PT mostrará os apoios de Ciro e Garotinho. O primeiro gravou participação em São Paulo. Garotinho, que chegara a dizer que não gravaria aparição para o horário eleitoral, gravou anteontem, no Rio.
A fim de reforçar o argumento de maior capacidade política, o PT usará o fato de ter eleito a maior bancada na Câmara e de ter recebido apoios inesperados no segundo turno, como o do PTB, e insistirá na tese de que Lula teria mais condições para unir o país.
Serra seria apresentado como um destruidor de reputações e desagregador, cuja palavra de ordem é "confronto" e não "união".


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