São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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Serra vai tentar debater e mirar gestões petistas

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os programas de José Serra no horário eleitoral gratuito devem insistir em chamar Luiz Inácio Lula da Silva para o debate, na tentativa de "iluminar", conforme expressão de um dos coordenadores tucanos, as experiências administrativas do PT.
Premida por uma desvantagem de 26 pontos percentuais em relação ao adversário, de acordo com o Datafolha publicado hoje, a propaganda de Serra será necessariamente agressiva. Mas, segundo o candidato, sem ataques à vida privada de Lula. "Eu seria incapaz de uma coisa dessas", disse o tucano a um interlocutor recentemente.
Além da exigência das circunstâncias, a campanha de Serra se sente liberada para adotar uma linha de confronto mais aberto porque, à diferença do primeiro turno, não há risco de "engordar" um terceiro candidato caso se revele bem-sucedido o esforço para tirar votos de Lula.
Na fase anterior, a ofensiva contra o petista no horário eleitoral gratuito foi interrompida quando estrategistas tucanos sentiram que Ciro Gomes (PPS) e principalmente Anthony Garotinho (PSB) seriam os beneficiados.
A insistência em provocar Lula para participar dos três debates programados por redes de televisão para o segundo turno cresceu junto com os sinais, emitidos por petistas desde a votação de domingo passado, de que o líder das pesquisas não estaria disposto a participar de tantos programas, sob o argumento de que resta pouco tempo de campanha e é preciso viajar pelo país.
No meio da semana, o próprio Lula declarou que confirma presença apenas no debate da Rede Globo, a três dias da eleição.
Nizan Guanaes, publicitário de Serra, tem dito que Lula não pode mais passear de "Rider" na disputa pela Presidência da República.
No debate, direto ou por meio do horário gratuito, a equipe de Serra acha que o tucano leva vantagem porque seria "mais consistente". Reivindicar debates constantemente é também uma forma de insinuar despreparo do adversário, que estaria com "medo" de enfrentar Serra sem o auxílio de outros dois oposicionistas batendo no candidato do governo.
Além disso, o tucano quer debates para explorar com maior contundência supostas contradições e ações administrativas do PT.
A pergunta que Serra fez a Lula sobre o preço da tarifa de ônibus em São Paulo, no debate de primeiro turno da Globo, foi um aperitivo: agora prefeituras e Estados controlados pelo PT devem virar atração no horário tucano.
A campanha recolheu farto material sobre o assunto ainda no primeiro turno. Peças foram gravadas e testadas em grupos de discussão, as chamadas pesquisas qualitativas, mas pouco disso chegou ao ar. Agora deverá chegar.
A idéia é usar as administrações para estabelecer contradições entre discurso e prática, desmontando o "modo petista de governar".
O desentendimento entre o governo do Rio Grande do Sul e a Ford pode ser usado, por exemplo, para dizer que se o PT chegar à Presidência os problemas serão mais graves: a empresa insatisfeita não trocaria um Estado por outro; poderia deixar o país.
Além de insistir nos debates e centrar fogo nas administrações petistas, a campanha de Serra reuniu material para, se julgar adequado, tentar desqualificar a união dos candidatos já eliminados em torno de Lula. Foram resgatadas declarações de Garotinho e Ciro contra o petista.
A votação obtida pela oposição para o Congresso e para os governos estaduais levou a campanha tucana a concluir que foi correta a estratégia de pouco exibir o presidente nos programas do primeiro turno -FHC esteve apenas na estréia e no encerramento.
Deve aparecer mais agora, dizem assessores tucanos. De acordo com o publicitário Nelson Biondi, é "provável" que o presidente vá ao ar amanhã.
O cuidado, no caso de participações de FHC, é evitar "discutir o passado", como quer a oposição. Ele deve aparecer para mostrar o que fez nos dois mandatos e dizer o que ainda precisa ser feito.
O presidente sempre manteve contato com a campanha do tucano, especialmente com Nizan Guanaes. Quando as dificuldades de Serra pareciam insuperáveis, chegou a comentar que ele mesmo não se reelegeria se pudesse tentar um terceiro mandato.
A disposição agora é outra no Planalto e no QG tucano, onde se avalia que o segundo turno será uma disputa plebiscitária -governo contra oposição. O eleitor, acreditam os estrategistas de Serra, vai decidir entre mudar a partir do que FHC fez ou mudar inteiramente de rumo.


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