|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUSTIÇA
Penhora foi determinada para garantir pagamento de ação trabalhista contra editora que tinha Lula como sócio
PT tem contas bloqueadas para pagar dívida
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre o primeiro e o segundo
turno das eleições presidenciais, a
Justiça bloqueou duas contas
bancárias do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo, para garantir o pagamento de uma dívida
trabalhista de R$ 707,7 mil.
A ação foi movida em abril de 94
por Paulo Mauro Soldano, 61, ex-gerente da Editora Brasil Agora
Ltda., que publicava o jornal
"Brasil Agora", órgão do PT.
Até 30 de dezembro de 93, a editora tinha como únicos sócios o
PT e o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que transferiram, naquela data, suas quotas
para outros dirigentes do partido.
A editora não existe mais.
Soldano ganhou a causa em 98,
não cabendo mais recurso. Ele reclamou direitos trabalhistas e comissões na venda de assinaturas
do jornal. O PT perdeu a ação
com o não-comparecimento do
advogado constituído a uma audiência na Justiça do Trabalho.
A penhora havia sido requerida
no último dia 20 de setembro pelos advogados Benedito Marques
Ballouk Filho e Antonio Carlos
Nobre Lacerda, que representam
Soldano. Uma das contas bloqueadas recolhia recursos para a
campanha eleitoral de Lula.
No pedido, os advogados alegaram que o processo se arrasta por
oito anos, que Soldano enfrenta
"sérias dificuldades financeiras" e
que o devedor "vem se furtando a
quitar seus débitos".
No último dia 8 de outubro, o
juiz Antonio José de Lima Fatia,
da 39ª Vara Federal do Trabalho
de São Paulo, autorizou a penhora
em contas correntes ou aplicações
do partido numa agência do Banco do Brasil no bairro de Santo
Amaro, zona sul de São Paulo.
O bloqueio expõe o PT num episódio incômodo, porque sugere a
adoção de práticas que o partido
condena nas relações entre empregados e empregadores.
"Houve total desrespeito ao trabalhador", disse Soldano à Folha.
Militante do PT, ele trabalhou na
editora de janeiro de 91 a novembro de 93 (para efeitos legais, seu
contrato vai até fevereiro de 94).
Tentativas posteriores de acordo não tiveram sucesso. Os dirigentes do PT entenderam que
Soldano fazia reivindicações absurdas. Para os advogados de Soldano, as propostas não atendiam
aos interesses de seu cliente.
Os recursos bloqueados, que estão numa conta da Justiça, alcançariam apenas 50% da dívida. Os
advogados de Soldano anunciam
que vão requerer a penhora de
contas do PT em outros Estados.
Essa decisão pode ser mais uma
tentativa de pressionar o partido
para obter um acordo favorável,
encerrando a disputa.
Em valores atualizados até 1º de
outubro, o crédito executado corresponde a R$ 548,7 mil, mais R$
158,2 mil de juros, além de R$
727,50 de honorários periciais e
R$ 121,20 de custas da União.
Com a retirada de Lula e do PT
da sociedade, em 93, foram admitidos o professor João Machado
Borges Neto e os atuais secretários de Governo e da Comunicação da Prefeitura de São Paulo,
respectivamente, Rui Falcão e José Américo Dias.
Borges Neto era da executiva do
PT, responsável pelo jornal. José
Américo foi editor, e Rui Falcão
entrou na sociedade quando assumiu a presidência do partido.
Na reclamação trabalhista, os
advogados de Soldano alegaram
"a impossibilidade de localização
da reclamada [a editora], de seus
sócios e [dos] respectivos bens".
Os advogados requereram que a
penhora atingisse os ex-sócios,
pois "o fato de não mais fazerem
parte do quadro societário da reclamada não os exime do pagamento dos créditos trabalhistas".
O juiz Antonio Fatia acolheu o
pedido, ao considerar que "a jurisprudência dominante tem responsabilizado os sócios retirantes
pelos débitos trabalhistas".
Texto Anterior: São Paulo: Prona cobrou por vaga, diz candidato Próximo Texto: Outro lado: Partido tentará liberar contas e fazer um acordo Índice
|