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Gravação mostra como advogado e policial aposentado Bezerra da Silva (detido) obteve prisão de mexicano
Delegado interceptou avião para cliente
LILIAN CHRISTOFOLETTI
VINICIUS MOTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado da Polícia Federal
Jorge Luiz Bezerra da Silva, investigado na Operação Anaconda,
foi flagrado numa conversa telefônica em que narra ter interceptado um avião em pleno vôo para
garantir a prisão de um cidadão
mexicano. A detenção teria sido
solicitada por um cliente.
Bezerra da Silva é policial aposentado e atua como advogado.
Foi preso há duas semanas sob a
acusação de usar sua influência na
PF para favorecer seus clientes.
Ele faria parte de um grupo de
venda de sentenças judiciais.
Em conversa gravada pela PF e
pelo Ministério Público Federal,
Bezerra da Silva recebe chamada
de um provável cliente dizendo
que precisa localizar um cidadão
de nacionalidade mexicana que
deve dinheiro a ele e -cerca de
US$ 84 mil- a um terceiro.
No dia 30 de maio deste ano, em
nova escuta telefônica, Bezerra da
Silva soube que um investigador
do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado da Polícia Civil paulista), chamado Maurício, tentou prender o
mexicano em um flat, mas sem
sucesso. Teria chegado atrasado
ao local, e o mexicano já teria partido para o aeroporto.
Em seguida, Bezerra telefona
para o delegado aposentado da
Polícia Civil paulista Arlindo Orsomarzo e conta como conseguiu
prender o mexicano, apesar de
seu avião estar em pleno vôo.
"Para sorte dele [do cliente], como eu sou da marinha, a Federal
pegou o cara no avião, já voando,
entendeu? Eu acionei os meus
amigos e a turma botou para roubar. Fez o avião voltar, entendeu?
Já voando. [Alegaram] um esquema de manutenção, o avião desceu e o cara tá na mão", afirmou
Bezerra da Silva para Orsomarzo.
"Está no Deic?", pergunta Orsomarzo. "Não, está no aeroporto,
no aeroporto, esperando", respondeu Bezerra da Silva.
No diálogo, o delegado aposentado da PF se gaba do seu feito e
diz ter surpreendido seu cliente,
que lhe havia feito uma reclamação sobre a fuga do mexicano.
"Fiz a minha parte, mostrei ao
cliente que eu sou foda, né. Foi
um trabalho de equipe", concluiu.
"Lógico", respondeu Orsomarzo.
Tendo sugerido que Maurício
"levou um troco" do mexicano
para deixá-lo escapar, Bezerra da
Silva pede a seu interlocutor que
telefone ao investigador para
"sentir" o que ele diz sobre a prisão. Orsomarzo, que afirma já ter
trabalhado com o policial, concorda. "Comigo ele [Maurício]
não era de trair", conclui.
Início
A atuação do delegado Bezerra
da Silva é a razão do início do inquérito que deu origem à Operação Anaconda, em abril de 2002.
Como a Folha revelou no domingo, ele teria tentado cooptar
dois agentes da PF em Maceió para integrar organização criminosa, mediante pagamento mensal
de R$ 5.000. Quando foi preso, no
último dia 30, a polícia apreendeu
com ele cerca de US$ 42 mil.
Em Alagoas, Bezerra da Silva foi
o primeiro a ter conversas telefônicas grampeadas com autorização judicial. A partir dos diálogos
dele, o monitoramento telefônico
foi expandido para São Paulo, Pará, Tocantins e Rio Grande do Sul.
A carreira de Bezerra da Silva na
PF é considerada exemplar. Fez
cursos sobre repressão ao crime
em várias partes do mundo.
Coordenou as investigações para localizar Paulo César Farias, ex-tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de
Mello, foragido à época. Mas falhou: PC Farias fugiu -seria preso no final de 93, na Tailândia, e
assassinado em 96.
Depois, em Mato Grosso, Bezerra da Silva chegou a superintendente regional interino da PF.
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