|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Diretor da corporação espera ajuda de policiais que estão presos por participarem de suposto esquema criminoso
PF oferecerá benefício a colaboradores
ANDRÉA MICHAEL
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal oferecerá aos
policiais envolvidos no suposto
esquema de venda de decisões judiciais relacionadas à Operação
Anaconda benefícios jurídicos
em troca de informações sobre a
atuação do grupo.
"Todos os policiais federais envolvidos são potenciais colaboradores. Se eles quiserem minorar
as consequências de seus atos, receberemos de muito bom grado a
colaboração", disse ontem Paulo
Lacerda, diretor-geral da PF.
De acordo com a lei 9.807, de
1999, conhecida como "Lei de
Proteção à Testemunha", o juiz
poderá oferecer aos colaboradores redução de pena e até mesmo
perdão judicial. Também está
prevista a aplicação de "medidas
especiais de segurança e proteção
à sua integridade física".
A expectativa da PF é também
contar com a colaboração de Norma Regina Emílio da Cunha, ex-mulher do juiz João Carlos da Rocha Mattos. Denunciados por
"ocultação do produto do crime"
e por "dirigir as investigações" de
caso relacionado a um fundo de
pensão, respectivamente, ambos
estão presos na carceragem da
Polícia Federal em São Paulo.
No pacote negociado, que dependerá de acertos também com
o advogado de Cunha, Paulo Esteves, está sua transferência para a
PF em Brasília e possivelmente a
inclusão de seu filho de 12 anos
em um programa especial de proteção à testemunha.
Segundo a Folha apurou, a PF
acredita que Cunha esteja disposta a denunciar a quadrilha, principalmente porque um dos policiais
denunciados pelo Ministério Público, José Augusto Bellini, teria
ameaçado matar seu filho.
No material apreendido em 15
operações deflagradas no dia 30
de outubro, estão fitas cassete, encontradas na casa da ex-mulher
de Rocha Mattos, nas quais Bellini
foi flagrado afirmando que o filho
do casal é muito esperto e que sabe demais sobre o esquema.
Bellini e o agente da PF César
Herman Rodriguez foram denunciados pelo Ministério Público
por planejar e executar ações criminosas que redundaram em arquivamento de inquérito policial.
Ambos estão presos.
A Operação Anaconda começou em abril de 2002. O foco era o
delegado da PF aposentado Jorge
Luiz Bezerra da Silva, que tentou
aliciar dois agentes da PF em Maceió para integrar um esquema de
espionagem. Feita as primeiras
escutas, autorizadas pela Justiça
Federal em Alagoas, o trabalho se
ramificou por outros Estados,
tendo São Paulo como centro.
O conteúdo das gravações levou
o Ministério Público a denunciar
os juízes Rocha Mattos e os irmãos Casem e Ali Mazloum por
formação de quadrilha.
Gravações feitas pela PF entre
maio de 2002 e maio último indicam que Rodriguez intermediava
interesses de grupos privados em
face da administração pública e
também comandava um caixa
conjunto dos negócios intermediados pelo suposto esquema.
Na próxima sexta-feira, depois
de um reforço na equipe de peritos que trabalha em Brasília, a PF
deve apresentar um laudo parcial
sobre os documentos e equipamentos apreendidos.
As análises da perícia revelam
novos indícios de remessas de recursos dos integrantes da suposta
quadrilha para o exterior. Para fazer o rastreamento do dinheiro,
serão necessárias quebras de sigilo bancário no sistema financeiro
internacional.
Triagem inicial, feita nos primeiros dias depois da apreensão,
identificou depósitos que somariam até US$ 6,2 milhões em bancos na Suíça e nas Ilhas Cayman,
paraíso fiscal no Caribe.
Advogado de Norma
O defensor de Norma Cunha,
Paulo Esteves, é contra a inclusão
de sua cliente em negociações pelas quais ela passe a colaborar
com a Justiça em troca de redução
de eventual pena.
"Na situação em que minha
cliente se encontra, se ela fosse
condenada agora, amanhã estaria
livre. Que vantagem ela teria?",
questiona o advogado. E completa: "Além disso, tudo que ela teria
a dizer, já disse nas fitas [das escutas telefônicas feitas pela PF]".
O Ministério Público denunciou Cunha por formação de quadrilha, cuja pena prevista é de até
três anos de prisão. A lei, no entanto, prevê uma conjugação de
fatores que, levando em conta os
antecedentes da ex-mulher de
Rocha Mattos e sua vida social,
podem deixá-la em liberdade, depois de uma eventual sentença
condenatória transitada em julgado e não mais passível de recurso.
Esteves também é contrário à
inclusão do filho de Cunha e Rocha Mattos, de 12 anos, em um
programa de proteção à testemunha. O menino seria alvo de
ameaças do delegado Bellini, um
dos um dos integrantes da suposta quadrilha investigada.
"Esses programas de proteção
destroem a vida das pessoas. Ele
[o menino] leva uma vida normal,
na casa de parentes escolhidos pelos pais. E não poderia ser diferente disso", declarou o advogado.
Texto Anterior: Grampo revela negociação entre agente e policiais Próximo Texto: Crise na polícia não foi debelada Índice
|