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Após discussão por telefone, Freire e
Ciro quase rompem
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ciro Gomes e Roberto Freire tiveram uma discussão áspera. Em
diálogo telefônico permeado por
expressões de calão raso, as duas
estrelas do PPS roçaram o rompimento formal. Deu-se há seis dias.
Foi o último lance de uma guerra subterrânea pelo controle do
partido. O pivô do embate é o governo petista de Luiz Inácio Lula
da Silva.
Respira-se no PPS, antigo "Partidão", uma atmosfera de guerra
fria. Dois grupos convivem em estado de tensão. De um lado a chamada ala bolchevique, liderada
por Freire. De outro, os neo-socialistas, sob o comando de Ciro.
Estranham-se desde a campanha
presidencial.
Freire opôs-se à aproximação
de Ciro, então candidato à Presidência, com o PFL de Antonio
Carlos Magalhães. Achava que o
pragmatismo eleitoral deveria
obedecer a certos limites. Foi isolado pelo comando da campanha.
Mas não houve declaração formal
de guerra.
Na última quinta-feira, sentindo-se boicotado, Freire resolveu
subir o tom. Foi depois de uma
reunião da comissão executiva do
PPS. Presidente da legenda, Freire
esperava sair do encontro com o
título de líder do partido na Câmara para a legislatura que começa no mês que vem.
Enfrentou objeções de deputados recém-eleitos que, embora
não sejam membros da executiva,
foram convidados para o encontro. Coube a César Silvestre (PPS-PR) explicitar a divergência. Ele
lembrou um ponto de vista defendido anteriormente por Leonidas
Cristino (PPS-CE). Também deputado da nova safra, Cristino é ligado a Ciro Gomes.
Repetindo o raciocínio de Cristino, também presente à executiva, Silvestre disse que o mais adequado seria adiar a definição do
líder para fevereiro. Só assim, os
novos deputados poderiam tomar parte da decisão. O assunto
acabou sendo retirado de pauta.
O telefonema
Abespinhado, Freire discou para Ciro. O ministro estava em seu
gabinete. Na hora da ligação, recebia os deputados João Herrmann
Neto (SP), atual líder do PPS na
Câmara, e Nelson Proença (RS).
Falavam justamente sobre Freire.
Seguiu-se um diálogo telefônico
áspero. Freire disse a Ciro que
identificava um "veto" ao seu nome. Ciro disse que concorda com
o adiamento da escolha do líder.
Mas pôs panos quentes. Pediu
calma a Freire. Estranhou o uso
de palavrões. Negou vetos. Não se
falam desde então.
A ala do PPS mais ligada a Ciro
defende um alinhamento do partido com o governo petista. Os ciristas estão irritados com as críticas de Freire. Adepto de uma linha de independência, o presidente do PPS fez restrições ao
programa Fome Zero e atacou o
adiamento da compra de caças da
FAB. Chegou mesmo a se opor à
idéia de recriação da Sudene, sob
responsabilidade de Ciro.
Nos últimos dias, João Herrmann levou ao gabinete de Ciro
uma romaria de deputados novos. É protagonista da estratégia
de criar anteparos à liderança automática de Freire. Nos diálogos
reservados, afirma que não se pode ser governo e oposição ao mesmo tempo. Defende a "modernização" do PPS.
Também nas conversas entre
quatro paredes, Freire destilada
irritação. Acha que Ciro o está
traindo. Considera-se padrinho
da candidatura presidencial do
hoje ministro. Apoiou-o em sua
decisão de ocupar uma pasta na
Esplanada. E não se conforma
com o questionamento à sua liderança, outrora natural. Vítima do
inchaço do PPS, sente o prestígio
escorrer-lhe por entre os dedos.
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