São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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Após discussão por telefone, Freire e Ciro quase rompem

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ciro Gomes e Roberto Freire tiveram uma discussão áspera. Em diálogo telefônico permeado por expressões de calão raso, as duas estrelas do PPS roçaram o rompimento formal. Deu-se há seis dias.
Foi o último lance de uma guerra subterrânea pelo controle do partido. O pivô do embate é o governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva.
Respira-se no PPS, antigo "Partidão", uma atmosfera de guerra fria. Dois grupos convivem em estado de tensão. De um lado a chamada ala bolchevique, liderada por Freire. De outro, os neo-socialistas, sob o comando de Ciro. Estranham-se desde a campanha presidencial.
Freire opôs-se à aproximação de Ciro, então candidato à Presidência, com o PFL de Antonio Carlos Magalhães. Achava que o pragmatismo eleitoral deveria obedecer a certos limites. Foi isolado pelo comando da campanha. Mas não houve declaração formal de guerra.
Na última quinta-feira, sentindo-se boicotado, Freire resolveu subir o tom. Foi depois de uma reunião da comissão executiva do PPS. Presidente da legenda, Freire esperava sair do encontro com o título de líder do partido na Câmara para a legislatura que começa no mês que vem.
Enfrentou objeções de deputados recém-eleitos que, embora não sejam membros da executiva, foram convidados para o encontro. Coube a César Silvestre (PPS-PR) explicitar a divergência. Ele lembrou um ponto de vista defendido anteriormente por Leonidas Cristino (PPS-CE). Também deputado da nova safra, Cristino é ligado a Ciro Gomes.
Repetindo o raciocínio de Cristino, também presente à executiva, Silvestre disse que o mais adequado seria adiar a definição do líder para fevereiro. Só assim, os novos deputados poderiam tomar parte da decisão. O assunto acabou sendo retirado de pauta.

O telefonema
Abespinhado, Freire discou para Ciro. O ministro estava em seu gabinete. Na hora da ligação, recebia os deputados João Herrmann Neto (SP), atual líder do PPS na Câmara, e Nelson Proença (RS). Falavam justamente sobre Freire.
Seguiu-se um diálogo telefônico áspero. Freire disse a Ciro que identificava um "veto" ao seu nome. Ciro disse que concorda com o adiamento da escolha do líder. Mas pôs panos quentes. Pediu calma a Freire. Estranhou o uso de palavrões. Negou vetos. Não se falam desde então.
A ala do PPS mais ligada a Ciro defende um alinhamento do partido com o governo petista. Os ciristas estão irritados com as críticas de Freire. Adepto de uma linha de independência, o presidente do PPS fez restrições ao programa Fome Zero e atacou o adiamento da compra de caças da FAB. Chegou mesmo a se opor à idéia de recriação da Sudene, sob responsabilidade de Ciro.
Nos últimos dias, João Herrmann levou ao gabinete de Ciro uma romaria de deputados novos. É protagonista da estratégia de criar anteparos à liderança automática de Freire. Nos diálogos reservados, afirma que não se pode ser governo e oposição ao mesmo tempo. Defende a "modernização" do PPS.
Também nas conversas entre quatro paredes, Freire destilada irritação. Acha que Ciro o está traindo. Considera-se padrinho da candidatura presidencial do hoje ministro. Apoiou-o em sua decisão de ocupar uma pasta na Esplanada. E não se conforma com o questionamento à sua liderança, outrora natural. Vítima do inchaço do PPS, sente o prestígio escorrer-lhe por entre os dedos.


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