São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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Lula refaz aposta na Câmara após ver as fichas do PMDB

Presidente só levou Chinaglia a sério na terça, com o apoio do maior partido da Casa

Petista via antes Aldo como o nome mais viável, mas agora reclama da postura, que considera agressiva, do deputado do PC do B

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva só passou a levar a sério a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) a presidente da Câmara a partir da última terça-feira, quando o líder do governo na Casa conseguiu a adesão oficial do PMDB.
Até então, Lula via Chinaglia como uma articulação petista que seria rechaçada pela oposição e que não obteria o apoio peemedebista. Na sua visão, a reeleição de Aldo Rebelo (PC do B-SP) era mais viável.
Lula agora acha que Chinaglia é o favorito para vencer a eleição, que ocorrerá em 1º de fevereiro. E está contrariado com o que considera agressividade excessiva de Aldo, que cobra nos bastidores e em insinuações públicas apoio do presidente por ter comunicado a ele a sua postulação e ter sido estimulado a prosseguir.
Logo após o segundo turno da eleição, em 29 de outubro, Chinaglia e o líder petista na Câmara, Henrique Fontana (RS), disseram ao ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) que o PT apresentaria um candidato a presidente da Casa.
Tarso falou com Lula, que pediu "juízo" ao seu partido, argumentando que considerava natural a reeleição de Aldo e que não desejava começar uma guerra entre aliados no segundo mandato. Chinaglia disse ao ministro que tinha maior apoio entre os partidos aliados e que via chance de um entendimento com o PMDB. Tarso foi a Lula, que deu aval sem botar fé.
Chinaglia passou a ter semanalmente reuniões secretas com seus dois principais articuladores: os petistas Virgílio Guimarães (MG) e Cândido Vaccarezza (SP). Virgílio foi candidato a presidente da Câmara em 2005, contrariando Lula e inviabilizando Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Vaccarezza, deputado federal eleito, é hábil articulador de bastidor. Tem ligação com o ex-ministro José Dirceu.
No PMDB, Chinaglia procurou Michel Temer, presidente do partido, e Geddel Vieira, ex-líder peemedebista na Câmara e aliado do petista Jaques Wagner, hoje governador da Bahia.
Dos peemedebistas Chinaglia ouviu queixas de insatisfação com o privilégio que Lula dava ao grupo do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e do senador José Sarney (AP).
Argumentaram que a bancada peemedebista na Câmara, que possui 90 deputados, era dividida e bombardeada por Renan e Sarney. Disseram ainda que poderiam criar um núcleo de poder confiável desde que o PT fizesse um acordo para apoiar o PMDB a presidir a Câmara em 2009 e a ter força na reforma ministerial. Na reunião de terça, dos 64 deputados do PMDB presentes, 46 optaram por Chinaglia. Apesar do apoio oficial, não é certo que toda a bancada votará no petista, já que a eleição é secreta.
Na Câmara, havia ainda um sentimento entre os líderes da base aliada de que Aldo era manipulado por Renan. No PMDB e no PT, prevalece tal avaliação. Chinaglia disse que romperia a influência de Renan e enviou recado a Lula dizendo que isso seria útil ao presidente.
Vaccarezza -líder do PT na Assembléia paulista em 2005, quando os petistas ajudaram a derrotar Alckmin na disputa pelo comando da Casa elegendo o pefelista Rodrigo Garcia, rechaçado pelo governador tucano- foi quem articulou a estratégia de aproximação com o PSDB dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
Em troca do apoio a Chinaglia, o PT apoiará o candidato de Serra a presidente da Assembléia de São Paulo e não prejudicará a aprovação do Orçamento de 2008. Aécio indicou o aliado Nárcio Rodrigues (MG) para a vice-presidência da Câmara na chapa de Chinaglia. Assim, o PT recorreu ao princípio da proporcionalidade (tamanho das bancadas para ordenar a preferência na escolha de cargos).
Chinaglia também recebeu forte apoio de petistas que caíram em desgraça com o escândalo do mensalão, mas que eram respeitados pelos deputados de PTB, PP e PR (fusão do PL com o Prona). O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, por exemplo, foi um apoiador nos bastidores.
O papel de Dirceu tem sido menor, já que o ex-ministro da Casa Civil é bastante impopular entre os deputados federais. Prova disso foi a sua cassação em 2005. Mais: Chinaglia nunca pertenceu ao grupo de Dirceu e Lula no PT.
Virgílio Guimarães atua para convencer deputados federais do chamado "baixo clero" -grupo de parlamentares de pouca exposição na mídia e mais preocupado com a obtenção de cargos e emendas.


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