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Lula refaz aposta na Câmara após ver as fichas do PMDB
Presidente só levou Chinaglia a sério na terça, com o apoio do maior partido da Casa
Petista via antes Aldo como
o nome mais viável, mas
agora reclama da postura,
que considera agressiva,
do deputado do PC do B
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva só passou a levar a sério a candidatura de Arlindo
Chinaglia (PT-SP) a presidente
da Câmara a partir da última
terça-feira, quando o líder do
governo na Casa conseguiu a
adesão oficial do PMDB.
Até então, Lula via Chinaglia
como uma articulação petista
que seria rechaçada pela oposição e que não obteria o apoio
peemedebista. Na sua visão, a
reeleição de Aldo Rebelo (PC
do B-SP) era mais viável.
Lula agora acha que Chinaglia é o favorito para vencer a
eleição, que ocorrerá em 1º de
fevereiro. E está contrariado
com o que considera agressividade excessiva de Aldo, que cobra nos bastidores e em insinuações públicas apoio do presidente por ter comunicado a
ele a sua postulação e ter sido
estimulado a prosseguir.
Logo após o segundo turno
da eleição, em 29 de outubro,
Chinaglia e o líder petista na
Câmara, Henrique Fontana
(RS), disseram ao ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) que o PT apresentaria um
candidato a presidente da Casa.
Tarso falou com Lula, que pediu "juízo" ao seu partido, argumentando que considerava natural a reeleição de Aldo e que
não desejava começar uma
guerra entre aliados no segundo mandato. Chinaglia disse ao
ministro que tinha maior apoio
entre os partidos aliados e que
via chance de um entendimento com o PMDB. Tarso foi a Lula, que deu aval sem botar fé.
Chinaglia passou a ter semanalmente reuniões secretas
com seus dois principais articuladores: os petistas Virgílio
Guimarães (MG) e Cândido
Vaccarezza (SP). Virgílio foi
candidato a presidente da Câmara em 2005, contrariando
Lula e inviabilizando Luiz
Eduardo Greenhalgh (PT-SP).
Vaccarezza, deputado federal
eleito, é hábil articulador de
bastidor. Tem ligação com o ex-ministro José Dirceu.
No PMDB, Chinaglia procurou Michel Temer, presidente
do partido, e Geddel Vieira, ex-líder peemedebista na Câmara
e aliado do petista Jaques Wagner, hoje governador da Bahia.
Dos peemedebistas Chinaglia ouviu queixas de insatisfação com o privilégio que Lula
dava ao grupo do presidente do
Senado, Renan Calheiros (AL),
e do senador José Sarney (AP).
Argumentaram que a bancada peemedebista na Câmara,
que possui 90 deputados, era
dividida e bombardeada por
Renan e Sarney. Disseram ainda que poderiam criar um núcleo de poder confiável desde
que o PT fizesse um acordo para apoiar o PMDB a presidir a
Câmara em 2009 e a ter força
na reforma ministerial. Na reunião de terça, dos 64 deputados
do PMDB presentes, 46 optaram por Chinaglia. Apesar do
apoio oficial, não é certo que toda a bancada votará no petista,
já que a eleição é secreta.
Na Câmara, havia ainda um
sentimento entre os líderes da
base aliada de que Aldo era manipulado por Renan. No PMDB
e no PT, prevalece tal avaliação.
Chinaglia disse que romperia a
influência de Renan e enviou
recado a Lula dizendo que isso
seria útil ao presidente.
Vaccarezza -líder do PT na
Assembléia paulista em 2005,
quando os petistas ajudaram a
derrotar Alckmin na disputa
pelo comando da Casa elegendo o pefelista Rodrigo Garcia,
rechaçado pelo governador tucano- foi quem articulou a estratégia de aproximação com o
PSDB dos governadores José
Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
Em troca do apoio a Chinaglia, o PT apoiará o candidato
de Serra a presidente da Assembléia de São Paulo e não
prejudicará a aprovação do Orçamento de 2008. Aécio indicou o aliado Nárcio Rodrigues
(MG) para a vice-presidência
da Câmara na chapa de Chinaglia. Assim, o PT recorreu ao
princípio da proporcionalidade
(tamanho das bancadas para
ordenar a preferência na escolha de cargos).
Chinaglia também recebeu
forte apoio de petistas que caíram em desgraça com o escândalo do mensalão, mas que
eram respeitados pelos deputados de PTB, PP e PR (fusão do
PL com o Prona). O ex-presidente da Câmara João Paulo
Cunha, por exemplo, foi um
apoiador nos bastidores.
O papel de Dirceu tem sido
menor, já que o ex-ministro da
Casa Civil é bastante impopular entre os deputados federais.
Prova disso foi a sua cassação
em 2005. Mais: Chinaglia nunca pertenceu ao grupo de Dirceu e Lula no PT.
Virgílio Guimarães atua para
convencer deputados federais
do chamado "baixo clero"
-grupo de parlamentares de
pouca exposição na mídia e
mais preocupado com a obtenção de cargos e emendas.
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