São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chinaglia supera críticas para obter união "impossível"

Com fama de "turrão", deputado agrupou Dirceu, Palocci, Marta e Berzoini no PT, além de conquistar o apoio de Serra e de Aécio

Carreira guarda pretensão frustrada de administrar Ribeirão Preto, críticas na prefeitura paulistana e combate a fraudes no INSS

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sua campanha na Câmara, Arlindo Chinaglia, 57, paulista de Serra Azul (região de Ribeirão Preto), conseguiu até agora o que há bem pouco tempo parecia impossível: unir parcela considerável do PT, incluindo várias estrelas do partido em torno de um único objetivo, e ainda contar com parte significativa da oposição a Lula e do esfacelado PMDB.
Médico, ele costurou com precisão cirúrgica um leque de apoios que tem os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), a ex-prefeita Marta Suplicy, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e os governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
Segundo seus pares no PT e na Câmara, três fatores, afora a atual conjuntura política do Congresso, são fundamentais para explicar a ascensão do petista: sua ambição -que, poucos sabem, quase o levou a disputar a Prefeitura de Ribeirão Preto antes mesmo de Palocci-; seu bom trânsito com todas as correntes do partido; e sua maleabilidade diante de pleitos como o aumento de 91% nos salários dos parlamentares.
Características que, somadas, parecem ter sido capazes de suavizar sua fama de centralizador, turrão, desconfiado (ou paranóico) e impaciente, além de uma certa aspereza no trato com colegas e jornalistas.
Chinaglia chegou ao PT pelo movimento sindical e sempre esteve ligado às correntes de centro-esquerda do partido.
Sua relação com o chamado Campo Majoritário, de onde emergiram as principais lideranças do PT, foi em regra harmoniosa. Hoje ele faz parte do Movimento PT, corrente da esquerda moderada.
Em 1990, Chinaglia se elegeu deputado estadual amparado pelo grupo que dez anos mais tarde seria determinante na vitória de Marta em São Paulo. Segundo relatos colhidos pela Folha após aquela eleição, o petista cogitou mudar seu domicílio eleitoral para Ribeirão Preto, onde Palocci, seu então colega na Assembléia, se elegeria prefeito em 1992.
Hoje, Chinaglia não se cansa de repetir que Palocci está entre seus bons amigos, já que ambos são médicos e oriundos do sindicato da categoria.
Após ter chegado à Câmara dos Deputados, em 1995, Chinaglia voltou a mirar o Executivo. Em 2000, foi um dos protagonistas de uma disputa que rachou o PT paulista em torno da vaga de vice de Marta. O preferido da ex-prefeita era o deputado federal eleito Paulo Teixeira. Como os dois não abriam mão de concorrer, Hélio Bicudo ficou como solução.
A vitória de Marta levou Chinaglia ao cargo de secretário das Subprefeituras, com a missão de descentralizar a administração. Um ano depois, ele deixou a pasta para concorrer à Câmara. Saiu sob críticas reservadas da ex-prefeita e seus subprefeitos: era por demasiado centralizador. Um antigo colaborador desse período define Chinaglia como "um articulador brilhante, mas um executivo pouco realizador".
De volta a Brasília, notabilizou-se por investigar fraudes na seguridade social e pelo bom trânsito em diversos partidos.
Na gestão Lula, Chinaglia foi peça importante na aproximação do PT com o PP, especialmente com o "mensaleiro" José Janene, e virou, após o escândalo do mensalão, o líder do governo, posto que, ironicamente, pertenceu ao agora adversário Aldo Rebelo (PC do B).

Acidente
Em junho passado, logo no início da corrida eleitoral, o deputado sofreu um grave acidente automobilístico no interior do Estado. Teve múltiplas fraturas e complicações pulmonares. Dias depois, Lula fez questão de visitá-lo no Incor.
Chinaglia agradeceu o apoio, mas disse que estava muito preocupado. Lula, então, o tranqüilizou: "Você vai ficar bom". Ao que ele respondeu: "Não, presidente, estou preocupado é que vou ter pouco tempo para fazer campanha".
Na atual campanha, Chinaglia conseguiu unir os grupos de Marta, de Dirceu e de Berzoini, talvez por nunca ter sido ligado a "padrinhos" importantes. Como pano de fundo está o futuro do PT, argumentam os atores do processo -para eles, o apoio que Lula vinha dando a Aldo mostra que o presidente está mais preocupado com sua biografia do que com o partido.


Texto Anterior: Lula refaz aposta na Câmara após ver as fichas do PMDB
Próximo Texto: Apoio tucano a Chinaglia será decidido em Executiva
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.