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Chinaglia supera críticas para obter união "impossível"
Com fama de "turrão", deputado agrupou Dirceu, Palocci, Marta e Berzoini no PT, além de conquistar o apoio de Serra e de Aécio
Carreira guarda pretensão
frustrada de administrar
Ribeirão Preto, críticas na
prefeitura paulistana e
combate a fraudes no INSS
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em sua campanha na Câmara, Arlindo Chinaglia, 57, paulista de Serra Azul (região de
Ribeirão Preto), conseguiu até
agora o que há bem pouco tempo parecia impossível: unir parcela considerável do PT, incluindo várias estrelas do partido em torno de um único objetivo, e ainda contar com parte
significativa da oposição a Lula
e do esfacelado PMDB.
Médico, ele costurou com
precisão cirúrgica um leque de
apoios que tem os ex-ministros
José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), a ex-prefeita Marta Suplicy, o presidente do PT, Ricardo Berzoini,
e os governadores tucanos José
Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
Segundo seus pares no PT e
na Câmara, três fatores, afora a
atual conjuntura política do
Congresso, são fundamentais
para explicar a ascensão do petista: sua ambição -que, poucos sabem, quase o levou a disputar a Prefeitura de Ribeirão
Preto antes mesmo de Palocci-; seu bom trânsito com todas as correntes do partido; e
sua maleabilidade diante de
pleitos como o aumento de 91%
nos salários dos parlamentares.
Características que, somadas, parecem ter sido capazes
de suavizar sua fama de centralizador, turrão, desconfiado (ou
paranóico) e impaciente, além
de uma certa aspereza no trato
com colegas e jornalistas.
Chinaglia chegou ao PT pelo
movimento sindical e sempre
esteve ligado às correntes de
centro-esquerda do partido.
Sua relação com o chamado
Campo Majoritário, de onde
emergiram as principais lideranças do PT, foi em regra harmoniosa. Hoje ele faz parte do
Movimento PT, corrente da esquerda moderada.
Em 1990, Chinaglia se elegeu
deputado estadual amparado
pelo grupo que dez anos mais
tarde seria determinante na vitória de Marta em São Paulo.
Segundo relatos colhidos pela
Folha após aquela eleição, o
petista cogitou mudar seu domicílio eleitoral para Ribeirão
Preto, onde Palocci, seu então
colega na Assembléia, se elegeria prefeito em 1992.
Hoje, Chinaglia não se cansa
de repetir que Palocci está entre seus bons amigos, já que
ambos são médicos e oriundos
do sindicato da categoria.
Após ter chegado à Câmara
dos Deputados, em 1995, Chinaglia voltou a mirar o Executivo. Em 2000, foi um dos protagonistas de uma disputa que rachou o PT paulista em torno da
vaga de vice de Marta. O preferido da ex-prefeita era o deputado federal eleito Paulo Teixeira. Como os dois não abriam
mão de concorrer, Hélio Bicudo ficou como solução.
A vitória de Marta levou Chinaglia ao cargo de secretário
das Subprefeituras, com a missão de descentralizar a administração. Um ano depois, ele
deixou a pasta para concorrer à
Câmara. Saiu sob críticas reservadas da ex-prefeita e seus subprefeitos: era por demasiado
centralizador. Um antigo colaborador desse período define
Chinaglia como "um articulador brilhante, mas um executivo pouco realizador".
De volta a Brasília, notabilizou-se por investigar fraudes
na seguridade social e pelo bom
trânsito em diversos partidos.
Na gestão Lula, Chinaglia foi
peça importante na aproximação do PT com o PP, especialmente com o "mensaleiro" José Janene, e virou, após o escândalo do mensalão, o líder do
governo, posto que, ironicamente, pertenceu ao agora adversário Aldo Rebelo (PC do B).
Acidente
Em junho passado, logo no
início da corrida eleitoral, o deputado sofreu um grave acidente automobilístico no interior
do Estado. Teve múltiplas fraturas e complicações pulmonares. Dias depois, Lula fez questão de visitá-lo no Incor.
Chinaglia agradeceu o apoio,
mas disse que estava muito
preocupado. Lula, então, o
tranqüilizou: "Você vai ficar
bom". Ao que ele respondeu:
"Não, presidente, estou preocupado é que vou ter pouco
tempo para fazer campanha".
Na atual campanha, Chinaglia conseguiu unir os grupos
de Marta, de Dirceu e de Berzoini, talvez por nunca ter sido
ligado a "padrinhos" importantes. Como pano de fundo está o
futuro do PT, argumentam os
atores do processo -para eles,
o apoio que Lula vinha dando a
Aldo mostra que o presidente
está mais preocupado com sua
biografia do que com o partido.
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